Pular para o conteúdo principal

A foto desfocada que pode solucionar o antigo mistério sobre o destino de Amelia Earhart, pioneira da aviação

Uma foto recém-descoberta sugere que a lendária aviadora americana Amelia Earhart (1897-1937) pode ter morrido sob custódia japonesa - e não em um acidente de avião no Pacífico. Se isso for confirmado, um dos maiores mistérios da história da aviação terá sido desvendado.


BBC Brasil

Earhart ficou conhecida como a primeira mulher a voar sozinha sobre o Atlântico. Ela sumiu durante um voo sobre o Pacífico em julho de 1937 - e, desde então, seu desaparecimento tem rendido diversas teorias e especulações.

Imagem do arquivo nacional americano que mostra o navegador Fred Noonan, Amelia Earhart e seu avião
Da esquerda para a direita, os destaques na imagem mostrariam Fred Noonan, Amelia Earhart e a aeronave | CORTESIA DO LES KINNEY/US NATIONAL ARCHIVES

Uma fotografia da década de 1930, tirada nas Ilhas Marshall, que pertencia ao Japão na ocasião, é apresentada como a prova de uma dessas antigas teorias: a de Amelia teria morrido sob custódia dos japoneses.

A imagem em preto e branco encontrada nos cofres do Arquivo Nacional dos Estados Unidos mostra um grupo de pessoas em pé em um cais e, segundo a legenda, teria sido tirada no atol Jaluit, nas Ilhas Marshall, possivelmente por um espião dos Estados Unidos.

Earhart seria a pessoa que aparece sentada de costas para a câmera, enquanto Fred Noonan, navegador de seu último voo, seria a figura na extrema esquerda da foto. No lado direito da imagem, há uma área desfocada que, em tese, mostraria o avião de Earhart.

Amelia Earhart e Fred Noonan
Mistério sobre destino de Amelia Earhart e Fred Noonan fascina historiadores | GETTY IMAGES

No entanto, pelo menos um especialista refuta essa tese, dizendo-se "espantado" que tenha tido tal repercussão. Ric Gillespie, autor do livro Finding Amelia (Procurando Amelia, em inglês) e diretor-executivo do International Group for Historic Aircraft Recovery (Tighar, na sigla em inglês), não está convencido de que seja a aviadora na cena.

"Essa foto tem convencido as pessoas. Isso me deixa impressionado. Quero dizer... Meu Deus! Olhem para essa foto. Vamos usar a cabeça por um minuto. Não tem data. Eles acreditam que seja de 1937. Ok. Se for de 1º de julho de 1937, não pode ser Amelia, porque ela ainda não tinha decolado", afirmou Gillespie.

"Se é de 1935 ou 1938, não pode ser ela... Essa foto tem que ter sido tirada dentro de uma janela de tempo muito estreita - a poucos dias de quando ela desapareceu", acrescentou.

Ele observa ainda que a imagem foi encontrada em um arquivo do serviço de inteligência da Marinha americana. Segundo ele, era "natural" que os EUA tivessem um registro de um ativo naval japonês. "E o que a legenda da foto diz? Atol Jaluit - Ilha Jaluit. Não 'Amelia Earhart em custódia japonesa'!", afirmou.

"Se esta é uma imagem de Amelia Earhart em custódia japonesa, onde estão os japoneses? Não há soldados nesta imagem. Ninguém está usando uniforme."

A foto foi divulgada pelo History Channel americano como prévia de um documentário que será exibido neste fim de semana. Se o objetivo era chamar a atenção e alavancar a audiência, parece ter funcionado.

O vídeo apresenta dois especialistas que defendem a teoria. Eles observam as medidas do tronco da mulher que alegam ser Amelia e os dentes e cabelos do homem que seria Fred.

Caçadores de mistérios e histórias

Seria um simples palpite? Afinal, Earhart aparece de costas para a câmera e é discutível o quanto fios de cabelo e dentes podem ser realmente analisados de forma confiável em uma fotografia desfocada da década de 1930. Além disso, Gillespie diz que a imagem não bate com outras fotos conhecidas da aviadora.

"A pessoa que dizem ser Amelia pode ser uma mulher branca. Mas o cabelo é muito longo para ser dela. Temos muitas fotos tiradas na véspera de sua partida. Ela decolou com o cabelo muito mais curto", explicou.

Ele acrescenta que o homem identificado como Fred Noonan não se parece, na sua opinião, com o navegador. Além disso, as roupas que eles usavam não coincidem com os trajes das imagens. "O homem está de branco. Noonan sempre usava roupas escuras. Amelia também não estava com essa camisa quando viajou. Aparentemente, os japoneses deram roupas novas para eles", disse.

"Está tudo errado", conclui. "Estou impressionado."

Acidente?

A descoberta alimenta uma das teorias existentes sobre o que aconteceu com Earhart e seu navegador.

Ela desapareceu durante tentativa de voar ao redor do globo para chegar à ilha Howland, no Pacífico, para reabastecer. A explicação oficial é que ela não encontrou a ilha, perdeu a comunicação e ficou sem combustível, caindo no oceano. Embora essa seja uma versão amplamente difundida, não há evidências - como destroços da aeronave - para sustentá-la.

Há também as teorias de que o avião de Earhart caiu nas Ilhas Marshall e também a de que ela chegou à ilha Nikumaroro, perto de Kiribati, onde morreu em um naufrágio.

Não há provas conclusivas para nenhuma dessas hipóteses - mas isso não impediu historiadores amadores e profissionais de investigá-las.

Chegou-se a especular que parte de um esqueleto encontrado em Nikumaroro, em 1940, fosse de Earhart, mas os médicos constataram, na época, que pertencia a um corpo masculino.

Gillespie, que apoia a teoria de Nikumaroro, liderou 11 expedições no Pacífico Sul para pesquisar o destino de Earhart. Ele ressalta que a ilha estava desabitada no momento em que a aviadora teria pousado lá.

Ele e sua equipe recuperaram artefatos que, segundo eles, sugerem fortemente a presença de uma mulher americana no local - incluindo uma caixa de maquiagem da década de 1930, um hidratante feminino popular nos Estados Unidos e um zíper de jaqueta.

Um mistério ainda não desvendado

Gillespie também menciona o horário e a localização das chamadas de alerta de rádio enviadas por Earhart depois que seu avião teria caído. Ele diz que as chamadas foram enviadas "noite após noite" - o que sugeriria que o avião estava em terra, não na água - porque, se os rádios estivessem molhados, não funcionariam. "Depois de seis noites, os sinais de rádio pararam", disse Gillespie à BBC.

"Acreditamos que o avião pousou no arrecife ao redor da ilha, que é plana - e seca na maré baixa. Mas a maré vai e vem... Na sexta à noite (ele acredita), o avião foi levado para o oceano pela maré. Assim, quando aviões do navio de guerra sobrevoaram a ilha uma semana depois, não avistaram nenhuma outra aeronave", completa.

O restante das buscas foi realizado em mar aberto, e nada foi encontrado. A equipe de resgate concluiu que Earhart e Noonan haviam afundado sem deixar vestígios. A conclusão do documentário, com base na fotografia das Ilhas Marshall, é que Earhart foi levada pelos japoneses, detida e morta eventualmente como prisioneira de guerra.

As Ilhas Marshall passaram da Alemanha para o Japão durante a Primeira Guerra Mundial e, antes do ataque de 1941 a Pearl Harbor, era uma importante base militar para Tóquio.

Os arquivos japoneses não têm registros de Earhart como prisioneira, mas, como muitos documentos desses arquivos se perderam, isso não prova necessariamente que a teoria esteja errada.

Ao mesmo tempo, é mais provável que a descoberta da fotografia só colabore para aumentar o mistério, em vez de resolvê-lo.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul