Por Daniel Rittner | Valor
De Brasília

Anunciada em dezembro do ano passado pela presidente Dilma Rousseff, mas ainda sem ter saído do papel, a Infraero Serviços já recebeu manifestações concretas de interesse de sete grandes operadoras estrangeiras que querem associar-se à nova subsidiária da estatal de aeroportos. A alemã Munich e a suíça Zurich, que fazem parte do consórcio vencedor do leilão de Confins (MG), estão na lista de interessadas. Também a Fraport, responsável pela administração do aeroporto de Frankfurt, respondeu positivamente às primeiras consultas formais da Infraero.

Foram enviadas 17 cartas-consulta a operadoras com experiência na movimentação de aeroportos com mais de 12 milhões de passageiros por ano. Essa faixa de corte foi definida porque era justamente a exigência mínima do governo para operadoras nos consórcios que iam disputar o leilão de Confins. No Galeão, exigiam-se 22 milhões de passageiros. Sete empresas manifestaram, por escrito, interesse em entrar no capital da Infraero Serviços.

Conforme explica o diretor de administração da Infraero, Geraldo Neves, trabalha-se com a ideia de 51% de participação da estatal na nova subsidiária e de 49% do sócio estratégico. "Mas nada impede que seja capital majoritariamente privado", diz.

A criação da subsidiária é um dos caminhos para viabilizar a continuidade da Infraero como uma empresa rentável. De acordo com ele, o governo brasileiro fará um "road show" no exterior, na segunda quinzena de janeiro. O objetivo é apresentar pessoalmente, às operadoras interessadas, o futuro modelo de negócios da Infraero Serviços. Neves acredita que o novo sócio terá sido escolhido até março de 2014. 

Esse parceiro não ficará com nenhuma participação da holding Infraero. O diretor da estatal afirma que não há necessidade de abertura de processo licitatório. "É uma seleção nossa mesmo. Um dos fatores levados em consideração é se a empresa opera também aeroportos de pequeno porte", diz.

No fim de 2012, Dilma anunciou a criação da Infraero Serviços como um complemento ao pacote de investimentos em aeroportos regionais, que prevê desembolsos de R$ 7,3 bilhões em 270 municípios.

"Atrasamos um pouco porque as próprias operadoras diziam estar focadas nos leilões do Galeão e de Confins", afirma Neves. A subsidiária poderá cuidar da gestão de terminais hoje operados por governos estaduais e municipais sem experiência relevante no setor.

Neves revela a intenção de que, uma vez constituída, a nova empresa possa até mesmo concorrer em eventuais concessões de aeroportos no exterior. "Por exemplo, na América Latina", afirma.

Também serão oferecidos, segundo ele, serviços como a elaboração de anteprojetos e projetos de engenharia às operadoras de aeroportos já concedidos no Brasil.

A criação da subsidiária é um dos caminhos necessários para viabilizar a continuidade da Infraero como uma empresa rentável. O presidente da estatal, Gustavo do Vale, ressaltou que não há nenhuma necessidade de receber aportes para seus gastos de custeio. "Para os investimentos, houve uma opção do governo, quando foi iniciado o programa de concessões, de que todos os recursos viessem do Fundo Nacional de Aviação Civil. E a forma encontrada pelo Tesouro Nacional para fazer isso são aumentos de capital da Infraero."

Até o fim de dezembro, segundo ele, a estatal precisa de um aporte de mais R$ 200 milhões do Tesouro. Desse total, R$ 90 milhões vão para obras. Outros R$ 110 milhões são para integralizar o capital acionário da GRU Airport, concessionária responsável pelo aeroporto internacional de Guarulhos (SP), na qual a Infraero detém uma participação de 49%.

Para 2014, a previsão é receber aportes de quase R$ 2 bilhões do Tesouro, mas esse dinheiro não inclui os desembolsos que serão necessários para constituir as sociedades de propósito específico responsáveis pelo Galeão e por Confins. Na proposta de lei orçamentária, estão previstos R$ 1,669 bilhão de capital novo para investimentos em terminais administrados pela Infraero e mais R$ 300 milhões para acompanhar as concessionárias privadas de Guarulhos, Viracopos e Brasília.

"Não trabalhamos com a hipótese de recursos do Tesouro para custeio. Vamos nos virar com os nossos próprios meios. Esses aportes são exclusivamente para investimentos", frisa Vale. Para modernizar a empresa, com uma reestruturação de suas superintendências regionais, será implementado a partir de janeiro um plano encomendado à consultoria Falconi. "Vamos cortar cargos e excessos do ponto de vista administrativo."

Um plano de demissões voluntárias tem a meta de alcançar até 3,8 mil adesões. Hoje a Infraero tem cerca de 13 mil funcionários em sua rede. Todo esse esforço visa manter a Infraero com lucro operacional em 2014, mesmo após a perda dos dois aeroportos leiloados na semana passada. O contrato de concessão será assinado em março. Nos primeiros meses, porém, a estatal continuará responsável pela administração dos terminais - é a chamada "operação assistida". Nesse período, fica com todas as receitas e despesas do Galeão e Confins, que são lucrativos.

A passagem definitiva de bastão ocorrerá em agosto. Hoje, descontando os dois aeroportos, Vale admite que a Infraero entraria em prejuízo operacional. Sua intenção é que, após reformas na estatal, ela reverta essa tendência e permaneça no azul ao término de 2014.

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