Pular para o conteúdo principal

Em 11 meses, pacote de Dilma para setor aéreo avança pouco

Por Daniel Rittner | Valor

De Brasília: A maior parte das medidas anunciadas pela presidente Dilma Rousseff para o setor aéreo há 11 meses, em concorrida solenidade no Palácio do Planalto, avança com lentidão e esbarra em uma série de dificuldades para sair do papel. Apenas as concessões dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), que eram o anúncio mais aguardado à época, seguiram conforme o planejado - houve apenas dois meses de atraso no cronograma original.

Também teve resultados práticos o decreto presidencial que viabilizou a construção de aeroportos voltados exclusivamente à aviação geral. Dois empreendimentos bilionários foram autorizados na região metropolitana de São Paulo - um da Harpia Logística, no extremo sul da capital, e outro da JHSF, no município de São Roque - para dar mais opções de pousos e decolagens à frota de jatos executivos.

A demora no início das obras, no entanto, torna quase impossível que estejam prontos para uso na Copa do Mundo de 2014 e possam desafogar os principais aeroportos paulistas durante o megaevento esportivo.

O objetivo dos projetos vai muito além de atender à demanda do torneio, mas eram vistos pelo governo como escape para o esperado congestionamento de jatinhos. Reservadamente, empresas envolvidas nos projetos afirmam que o decreto estava praticamente redigido desde o primeiro semestre do ano passado, mas foi deixado na gaveta para "engordar" o pacote anunciado por Dilma no dia 20 de dezembro de 2012.

Na solenidade, a presidente anunciou duas medidas para fortalecer a aviação regional no curto prazo. Ambas foram bem recebidas pelo setor, mas não decolaram até hoje. Uma era a criação de subsídios da União para voos entre cidades do interior, e desses municípios às capitais. Outra era a isenção completa de tarifas - tanto para companhias aéreas quanto para usuários - em aeroportos com movimento anual de até 1 milhão de passageiros.

O impacto das duas medidas é estimado em cerca de R$ 1 bilhão anuais. Esse gasto seria bancado pelo Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), formado com o pagamento das outorgas de grandes aeroportos concedidos à iniciativa privada. Apesar da renúncia fiscal em um momento de baixa arrecadação, o Tesouro apoia a medida e nem está segurando os recursos, conforme ressalta o secretário de Política Regulatória da Secretaria de Aviação Civil, Rogério Coimbra.

Ele admite dificuldades técnicas para "calibrar" a equação que definirá os subsídios à aviação regional. Um dos desafios, segundo Coimbra, é calcular o volume de recursos necessários, de modo a evitar que acabem ao longo do mesmo ano fiscal e deixem na mão as companhias responsáveis pelas rotas subvencionadas. Os subsídios terão um limite: serão 60 assentos por voo e não mais do que 50% da ocupação dos aviões.

Ainda existe um importante obstáculo à aplicação da medida. Ela precisará de aval legislativo, por projeto de lei ou medida provisória, para ser implementada, informação que não havia sido divulgada inicialmente. A expectativa do governo é enviar o texto ao Congresso nas próximas semanas.

Uma das maiores reviravoltas no pacote anunciado pela presidente ocorreu com as regras para a distribuição de slots (horários para pousos e decolagens) no aeroporto de Congonhas. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, teve intensa participação nas discussões. Em janeiro, foi colocada em consulta pública uma proposta que redistribuía os slots com base em critérios que incluíam até a quantidade de voos regionais na malha de cada companhia, abrindo mais espaço para a Azul. Em compensação, ficava iminente a perda de horários pela TAM e pela Gol, que reclamaram.

Sob pressão, o governo reformulou a proposta e deve anunciar o aumento - de 30 para 34 movimentos por hora - das operações em Congonhas, preservando os espaços das empresas que já atuam no aeroporto. Esse aumento será dividido entre a pista auxiliar, que deve reabrir para o uso de jatinhos e aeronaves menores, e a pista principal. Com isso, Azul (sobretudo) e Avianca devem ganhar slots adicionais em Congonhas, mas sem perdas para a TAM e para a Gol.

"A intenção é soltar a norma ainda neste ano", diz Coimbra, sem confirmar detalhes a respeito da mudança de planos, mas reconhecendo que houve alterações. "É uma prova de que a audiência pública não foi para inglês ver. A rigor, nem sequer era uma obrigação legal, mas a reação das empresas nos levou a revisar a proposta", afirmou o secretário. "É possível permitir a entrada de novos concorrentes sem provocar instabilidade a quem já está operando." 

O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, acrescentou que sua equipe técnica passa um pente-fino na norma para a distribuição de slots em outros aeroportos prioritários. A regra, que não vale para Congonhas, deve sair nas próximas semanas. 

Outra medida à espera de implementação é o programa de investimentos em aeroportos regionais. Foram prometidos R$ 7,3 bilhões. A Secretaria de Aviação Civil chegou a anunciar uma lista de 50 municípios que iam receber as primeiras obras em ampliação dos terminais e reforma de pistas, mas Dilma resolveu fazer ajustes no programa. Agora, as obras só começarão com estudos de viabilidade e projetos básicos apontando as necessidades de intervenções. Eles estão em fase final de contratação. "Há uma série de etapas complexas e necessárias, mas o programa é prioridade. Não deixamos de trabalhar nisso um só dia e a Casa Civil faz um acompanhamento semanal", diz Coimbra. 

A Infraero Serviços, subsidiária da estatal que poderá firmar convênios com governos estaduais e municípios para operar os aeroportos do interior, está sendo estruturada pelo Banco do Brasil Investimentos. Sua criação também havia sido anunciada, com pompa, por Dilma. O banco, contratado pela SAC, deverá fazer um "tour" no exterior para conversar com mais de dez operadoras estrangeiras, que demonstraram interesse em se associar à Infraero.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul