Geralda Doca e Henrique Gomes Batista | O Globo
BRASÍLIA e RIO - A 197 dias da abertura dos Jogos da Copa do Mundo, um balanço conjunto da Infraero e dos concessionários privados, divulgado ontem, mostrou grande diferença no ritmo das obras nos aeroportos das capitais que vão sediar o evento. Enquanto nos aeroportos privatizados o percentual de execução varia entre 65% e 80%, nos terminais administrados pela estatal as obras estão bem mais atrasadas. E, em quatro deles (Galeão, Porto Alegre, Curitiba e Fortaleza), parte das melhorias não ficará pronta a tempo.
Em Porto Alegre, a reforma do aeroporto só começou há cerca de dois meses e no Galeão, o percentual de execução é de 43,51% no terminal 2 de passageiros. Mesmo com o atraso, o presidente da estatal, Gustavo do Vale, assegurou que até a data do evento entregará, em média, 70% das intervenções previstas e importantes para a operação desses aeroportos. Ele admitiu, porém, que no caso do Galeão, vai ficar faltando concluir as obras nas partes B e C do terminal 1 de passageiros; em Curitiba, somente ficarão passageiros e o mesmo deve ocorrer em Fortaleza. Em Curitiba, apenas 9,15% da ampliação do terminal de passageiros foram concluídos.
PARA ANALISTA, É A COPA DO "PUXADINHO"
Entre os privatizados, Brasília, onde as obras começaram com ligeiro atraso, o nível de execução está em 65% (até fim de outubro) e "metade do aeroporto é um tapume" conforme definiu o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, durante seminário sobre o balanço das obras.
O novo aeroporto de Natal, que está sendo construído em São Gonçalo do Amarante (RN) apresentou nível de execução de 71% e tem previsão para entrar em funcionamento em abril de 2014, mas isto depende das obras de acesso viário, de responsabilidade do governo local, que estão atrasadas. Os dois aeroportos são administrados pelo consórcio Inframérica e, segundo o executivo da empresa, Alysson Paolinelli, todas as obras serão entregues dentro do prazo exigido.
Em estágio mais avançado está Guarulhos, com 80% de execução das obras. Em maio, a empresa que administra o aeroporto pretende inaugurar o terceiro terminal de passageiros, com capacidade para 12 milhões de pessoas, 20 novas pontes de embarque e 34 posições no pátio de aeronaves.
— O Brasil dará um show de bola nos campos e nos aeroportos — disse o presidente do GRU Airport, Antônio Miguel Marques.
Em Viracopos, que servirá de base alternativa para aviação geral, 74% das obras programadas para a Copa já foram realizadas e o novo terminal de passageiros, que vai substituir o atual, também será inaugurado em maio.
— Viracopos é o aeroporto que mais evoluiu neste ano — comemorou o executivo da empresa Viracopos Aeroportos Brasil, Luiz Alberto Küster.
Presente no evento, o ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, disse que o primeiro balanço, um ano depois da privatização dos aeroportos de Brasília, Viracopos e Guarulhos ao setor privado, revela o esforço dos concessionários para entregar as obras no prazo exigido.
Para especialistas no setor aeroportuário, há problemas de origem no processo de modernização dos aeroportos. O professor Respício Espírito Santo (UFRI) afirma que, independentemente das obras da Copa, o planejamento está errado:
— A Copa é o trampolim, mas a piscina já deveria estar pronta antes. O planejamento destes aeroportos não deveria ser feito pensando no evento de junho do ano que vem, mas em 10, 15, 20 anos — disse ele, que teme que mesmo estas obras parem após o mundial de futebol, criando dificuldades para os usuários.
O professor Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, afirma que esta será a Copa do "puxadinho" e do "remendo" nos aeroportos. Ele acredita que o Brasil vai se sair muito pior que a África do Sul, que na Copa de 2010 conseguiu inaugurar novos e bons aeroportos:
— Acredito que teremos três tipos de aeroportos na Copa. O primeiro grupo será o da maquiagem total, com tapumes encobrindo obras, será o caso de Curitiba, Porto Alegre e Fortaleza. No segundo grupo estarão os aeroportos com "puxadinhos" prontos, como Confins (MG). E no terceiro grupo estarão os aeroportos que terão entregado obras definitivas, permanentes, mas que ainda estarão aquém do necessário, do planejamento. Neste grupo estarão inclusive os aeroportos privados, que devem entregar algo, mas que o projeto definitivo só ficará pronto em dois ou três anos — disse.
Hoje, o ministro Moreira Franco anuncia uma nova política comercial a ser adotada nos aeroportos brasileiros, tanto pelas empresas privadas, quanto pela Infraero. A nova norma vai especificar, por exemplos, preços de aluguel diferenciados e mais baratos para lanchonetes e valores distintos a serem cobrados nos estacionamentos para veículos, de acordo com a distância da vaga. Os operadores terão que ampliar as ofertas para os consumidores nas áreas de embarque e não fora delas, como ocorre hoje.