Pular para o conteúdo principal

Tranquilidade de Viracopos vai abrigar 90 milhões em 2041

Por Samantha Maia | Valor
De Campinas

Os corredores tranquilos do aeroporto de Viracopos, a calma dos comerciantes e a falta de pressa dos usuários para os procedimentos de embarque parecem compor o quadro de um gigante adormecido. Em pouco tempo, o crescimento já exponencial de passageiros nos últimos anos deve ganhar novo impulso com a ampliação das instalações que fará de Viracopos o maior aeroporto da América do Sul, após 30 anos de concessão. Distante 99 quilômetros da capital paulista, Viracopos está situado no município de Campinas e despontou como alternativa para passageiros a partir de 2006.

Nesse momento, o aeroporto de Congonhas já se mostrava insuficiente para atender à crescente demanda de voos domésticos e Guarulhos, na Grande São Paulo, enfrentava dificuldades para implementar os planos de ampliação.

O aeroporto de Viracopos, que na década de 90 era mais voltado para o transporte de cargas, é agora a principal aposta do governo federal para melhorar a estrutura aeroportuária paulista. O plano de investimento, a ser tocado em sua maior parte pelo concessionário que vencer o leilão de 6 de fevereiro, elevará a capacidade dos 7,6 milhões de passageiros, em 2011, para 90 milhões em 2041. Antes da construção do aeroporto de Guarulhos, em 1985, Viracopos era o principal terminal de passageiros internacionais de São Paulo. Operavam lá companhias como a Air France e empresas que já saíram do mercado, como Pan American, Braniff e a brasileira Varig. O auge dessa operação foi na década de 80.

Com Guarulhos pronto, os voos internacionais regulares de passageiros deixaram Viracopos e só foram retomados em 2010, com a chegada da companhia portuguesa TAP.

O ganho de receita durante a concessão será o maior entre os três aeroportos a serem licitados. 

É esperado um incremento de 348% nas receitas tarifárias, que passarão de R$ 347 milhões em 2012 para R$ 1,5 bilhão após os 30 anos de concessão. As receitas não tarifárias, por sua vez, aumentarão 1.378%, de R$ 44 milhões para R$ 651 milhões até 2042. O aeroporto também exigirá o maior aporte do investidor entre os três terminais que serão licitados - R$ 9,9 bilhões em 30 anos. Hoje, estão sendo investidos R$ 877 milhões pela Infraero na construção de um novo terminal de passageiros e adequação do existente, obras que devem terminar em 2013, e um terminal provisório, entregue no ano passado.

Para a segunda pista, que deve ser feita na primeira fase de investimento da concessão, já foi obtida a licença ambiental prévia, em janeiro de 2011, e o projeto executivo está em elaboração. A obtenção das demais licenças e o investimento na segunda pista são responsabilidades do próximo operador. Entre as metas da concessão estão a construção de mais duas pistas, entre 2021 e 2031. O salto no movimento em Viracopos se deu em 2008 com a chegada da companhia Azul. O número de embarques e desembarques de passageiros passou de 1 milhão em 2007 para 3,4 milhões em 2009.
Hoje, a Azul tem a sua maior base em Viracopos, com 168 voos para cerca de 40 destinos.

"Campinas tinha um enorme potencial de tráfego, que era ignorado. Era inconcebível imaginar uma região, com uma economia do tamanho do Chile, ser atendida, na época, por 18 voos diários", diz Gianfranco Beting, diretor da Azul. Agora, seis companhias operam no aeroporto, com menos voos: Trip (13 voos), Gol (13), TAM (6), Pluna (2) e TAP (1). As receitas futuras da expansão do aeroporto servirão para o desenvolvimento local, segundo a prefeitura de Campinas. O prefeito Pedro Serafim (PDT) afirma que a cidade vai se preparar à medida que a ampliação do aeroporto for ocorrendo. "Existem mais bônus do que ônus para o município nesse investimento", diz ele.

A ampliação de Viracopos passa pela ocupação de uma área rural de colonização alemã e suíça. 

As primeiras famílias chegaram na região em 1884 e hoje moram no local 2 mil pessoas. Para a construção da segunda e da terceira pistas, serão desapropriados 17,5 km2, envolvendo o bairro alemão de Friburgo e parte das propriedades da comunidade suiça Helvétia. A área total a ser desapropriada até o fim da ampliação pode aumentar, dependendo da construção da quarta pista. "Toda obra causa impacto, e o licenciamento foi dado pensando na forma adequada de compensar as perdas", diz o secretário de Assuntos Jurídicos de Campinas, Antônio Caria Neto. Há 868 processos de desapropriação em andamento, e mais 918 para serem ajuizados, conta.

A expansão do aeroporto para o lado rural foi decidida em 2008, quando a prefeitura e o governo federal desistiram de avançar para uma região mais adensada, de ocupação irregular, próxima à rodovia Santos Dumont. A avaliação de alguns é que a prefeitura quis reduzir o ônus político de ocupar uma área com cerca de 30 mil famílias. Caria Neto diz que a duplicação da rodovia em 2008 foi um dos fatores que pesaram na decisão, já que a ampliação do aeroporto na área antes considerada causaria interferência na estrada. Carmelo Campreher, 50 anos, é morador de Helvétia desde que nasceu e se tornou um dos representantes da resistência local ao crescimento do aeroporto, apesar de sua propriedade não estar na área de desapropriação. "Estamos falando de manter uma tradição e uma história, e não há preço que pague isso", diz ele.

A região possui uma escola onde são ministradas aulas em alemão, a réplica de uma igreja suíça e um cemitério. Todos serão poupados, mas segundo Campreher, os prejuízos para quem vai ficar próximo ao aeroporto serão grandes. "Já sofremos problemas com ruídos, poluição, e isso vai se agravar." O morador conta que os primeiros colonos receberam em sua casa soldados da Primeira Guerra, que desceram num voo forçado no local onde futuramente seria construído Viracopos. "O que era um prazer contar, virou desgosto", diz.

O aeroporto, porém, caiu no gosto dos passageiros. A rapidez do atendimento nos balcões e a oferta de transporte gratuito das empresas aéreas de São Paulo até o aeroporto fazem de Viracopos uma escolha vantajosa, segundo quem usa o terminal. Não se veem lá as filas enormes no check-in, comuns em Congonhas e Guarulhos. A carioca Carla Guimarães, 47 anos, conta que se espantou a primeira vez que comprou passagem para São Paulo e viu que iria desembarcar em Campinas. "Não tinha ideia de onde era, mas depois percebi que não é tão longe e o acesso para São Paulo é bom", diz ela, que viajava a trabalho.

A distância da capital, que poderia ser uma desvantagem, é compensada, segundo usuários, pela oferta de transporte pelas empresas aéreas, e pelas boas vias de acesso - rodovias Anhanguera, Bandeirantes e Santos Dumont.

Lilian Ramos, 43 anos, e Alberto Silva, 41 anos, moram na capital paulista e foram para Viracopos com um ônibus da Azul, saindo do metrô da Barra Funda, a dez minutos de casa. O casal viajava para Recife com a filha de cinco anos. Segundo Lilian, ir a Campinas foi uma opção melhor do que o aeroporto de Cumbica. "Chegamos em Viracopos em uma hora e pouco. Para Guarulhos, teríamos que pegar um táxi e ficaria bem mais caro", diz ela, que descartou a possibilidade de ir de transporte público por causa da bagagem e pela experiência anterior de Silva com a "confusão" de Guarulhos.

Para quem estava em Viracopos pela primeira vez, como Joseana Diniz, 26 anos, chamou atenção a organização. "O atendimento foi tranquilo e o local é bem sinalizado", diz ela, que foi de carro da capital paulista para o aeroporto e deixou o veículo em um estacionamento próximo, que cobra R$ 18 a diária. Ela estava a caminho de Vitória, no Espírito Santo.

Lojistas ouvidos pelo Valor disseram que não sabem se algo vai mudar, mas esperam que o contrato de cinco anos para permanência no aeroporto seja respeitado. Há, contudo, grande expectativa com a chegada no investidor privado. "Acho que a concessão vai aumentar o número de clientes. Somos dependentes do trabalho das empresas aéreas. Ficamos de olho, por exemplo, nos dias que chegam voos internacionais, para tentar chamar a atenção dos passageiros", conta Renata Pinheiro, gerente de loja de roupas no aeroporto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul