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Investidores levantam dúvidas sobre viabilidade de oferta da LAN pela TAM

Alexander Cuadros e Eduardo Thomson | Bloomberg, São Paulo e Santiago 

Os investidores estão duvidando da capacidade de a LAN conseguir completar a planejada tomada de controle da companhia aérea TAM, segundo demonstram os negócios com o papel da área brasileira.

A ação da TAM fechou na sexta-feira valendo 18% menos que o preço de oferta de 13 de agosto feita pela chilena LAN - percentual até duas vezes maior que o desconto pago por combinações passadas de linhas aéreas globais um mês depois de terem sido anunciadas, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Temores de que o negócio de US$ 4 bilhões possa ser anulado ou retardado por agências reguladoras está impedindo a redução da diferença, disse Octavio Vaz, que ajuda a administrar US$ 3,3 bilhões na Global Equity .

O ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, rebateu essa especulação em 2 de setembro, afirmando que a compra obedece a uma lei que limita o controle estrangeiro de companhias aéreas. O desconto encolheu por dois dias antes de se ampliar.

"Esse tipo de desconto só ocorre se o mercado pensa que ele não prosperará ou que se estenderá por tanto tempo que não compensará", disse Vaz por telefone, do Rio. "Não é Mantega quem decide. O mercado não o levou a sério."

Pelos termos do acordo, os investidores da TAM receberão 0,9 ação da LAN a cada ação da aérea brasileira que detiverem. O papel da LAN subiu 0,1%, indo a 14.612 pesos na quinta-feira, o que significa que 0,9 de cada ação vale R$ 45,35. A ação da TAM registrou queda de 2%, indo a R$ 37,30 no fechamento do pregão de São Paulo na sexta-feira. Enquanto os mercados chilenos permaneciam fechados na sexta-feira devido a um feriado nacional, os recibos de depósitos americanos (ADR) da LAN caíram 1,6%, a US$ 28,30.

A tomada do controle acionário deve ser aprovada pelos órgãos reguladores no Brasil e no Chile. 

A lei no Brasil exige que os acionistas controladores da TAM mantenham 80% das suas ações com direito a voto para preservar o limite máximo de 20% de titularidade estrangeira que vigora no país. A LAN deterá aproximadamente 70% da companhia combinada, a Latam Airlines Group. A Latam, por sua vez, terá "essencialmente" a totalidade das ações preferenciais da TAM, que têm um valor de mercado 77% maior do que as ações com direito a voto, e a TAM será retirada da bolsa, segundo os termos do negócio.

A conclusão do acordo depende de os órgãos reguladores do Brasil determinarem que a companhia satisfaz o "espírito da lei" que limita propriedade estrangeira, disse Cleveland Prates Teixeira, ex-diretor da agência antitruste do Brasil, que presta serviços de consultoria em assuntos relacionados com regulamentação.

O Congresso do Brasil tem debatido um aumento no limite sobre o controle estrangeiro das companhias aéreas desde 2004. Uma emenda recente a um projeto de lei introduzida em julho de 2009 permitiria aos estrangeiros deter a titularidade exclusiva em companhias aéreas brasileiras dependendo de acordos governamentais bilaterais. Os legisladores, em campanha pela reeleição em outubro, ainda não votaram o projeto de lei.

O desconto da TAM em relação ao preço oferecido pela LAN é maior que nos negócios feitos recentemente. A Northwest Airlines negociou com um desconto de 7,3% em relação à oferta da Delta Air Lines, uma queda de 11% numa média de 30 dias, um mês depois que a Delta propôs a tomada de controle em abril de 2008. A espanhola Iberia foi negociada com um desconto de 11% em relação a oferta de novembro de 2009 da British Airways. A TAM registra um desconto médio de 17% desde o anúncio da oferta.

Enquanto a compra de US$ 2,75 bilhões da Delta pela Northwest foi completada, outras fusões não ocorreram por conta de preocupações dos reguladores com concentração de mercado. A Ryanair fez tentativas frustradas de comprar a Aer Lingus em 2006 e 2008, e a United Airlines e a US Airways não chegaram a acordo sobre uma fusão de US$ 12,3 bilhões em 2001. 

Outras companhias aéreas são mais atrativas do que a TAM, disse Greg Lesko, que ajuda a administrar US$ 750 milhões na Deltec Asset Management, em Nova York. "Até que esteja fechado, não está fechado", disse ele. "Nós gostamos de comprar o que a agente acha que está com desconto", afirmou.

A Deltec vendeu a maior parte de suas ações da TAM e comprou papéis da panamenha Copa Airlines, disse Lesko. A gestora, que não possui ações da LAN, manteve sua fatia na Gol. Essa última é negociada a 13,9 vezes o lucro reportado, enquanto a Copa tem índice de 11 vezes, a TAM de 33,8 vezes e a LAN, de 32 vezes, segundo dados da Bloomberg.

As assessorias de imprensa da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) disseram que os órgão não comentariam a aprovação do negócio entre LAN e TAM.

O órgão regulador antitruste do Chile disse que vai investigar possível concentração de mercado em três rotas por conta da fusão. A agência não possui uma data limite para tomar uma decisão.

Em agosto, a TAM divulgou um prejuízo no segundo trimestre de R$ 154,1 milhões (US$ 87 milhões) com vendas líquidas de R$ 2,61 bilhões. A LAN obteve um lucro de US$ 60,6 milhões sobre receita de US$ 1 bilhão. Juntas, elas seriam a terceira maior companhia aérea do mundo por valor de mercado, depois da Air China e a Singapore Airlines.

"[O negócio] atende aos requisitos legais", Mantega disse numa entrevista em 2 de setembro.

"Se não atendesse, não seria feito."

O desconto da TAM mostra que os investidores estão superestimando o risco de o negócio não ir adiante, de acordo com Stacy Steimel, que ajuda a administrar US$ 430 milhões de ações latinoamericanas na Pinebridge Investments.

"Nós vendemos nossa posição na LAN e compramos TAM logo depois do anúncio", Steimel disse por telefone de Santiago. "TAM estava mais atraente do ponto de vista de avaliação do ativo. O desconto também pode estar relacionado ao fato de as pessoas estarem apostando que o acordo possa demorar mais do que o esperado para ser fechado."

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