Num momento em que serviços pĂșblicos enfrentam problemas sĂ©rios, contingenciamento das verbas chega a 85,7% das receitas
Renée Pereira - O Estado de S.Paulo
Sem prestĂgio na atual administração, as agĂȘncias reguladoras amargaram no ano passado o maior corte no orçamento desde que foram criadas, em meados da dĂ©cada de 90. O contingenciamento, que em 2002 era de 65,6%, cresceu tanto no governo Lula que alcançou 85,7% das receitas totais, segundo levantamento da Associação Brasileira de Infraestrutura e IndĂșstrias de Base (Abdib), com informaçÔes do Tesouro Nacional.
Entre 1998 e 2009, cerca de R$ 37 bilhĂ”es deixaram de entrar no caixa das agĂȘncias para reforçar o superĂĄvit primĂĄrio do governo federal. SĂł em 2009, foram R$ 8 bilhĂ”es, referentes a receitas diversas, como royalties, taxas de fiscalização cobradas das concessionĂĄrias e bĂŽnus. Normalmente, esses recursos nĂŁo podem ser usados para outras finalidades, por isso entram no superĂĄvit.
Um dos principais reflexos da asfixia das agĂȘncias Ă© a fiscalização dos serviços pĂșblicos, cuja qualidade tem se deteriorado nos Ășltimos anos. Sem dinheiro suficiente e quadro de funcionĂĄrios restrito, a capacidade para detectar falhas no mercado e exigir melhorias diminui sensivelmente. Isso dĂĄ margens para a piora na prestação de serviços ao consumidor.
No setor aĂ©reo, o aumento da demanda provocou o caos nos aeroportos e testou a paciĂȘncia dos passageiros. O Ășltimo episĂłdio, ocorrido no inĂcio do mĂȘs, escancarou as fragilidades da AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil (Anac), que nĂŁo conseguiu evitar o colapso provocado pela Gol ao mudar seu sistema de dados. No fim do ano passado, o mesmo havia ocorrido com a TAM, que mudou o sistema de check-in.
Um dos fatores por trås dessa dificuldade para detectar problemas futuros é exatamente a falta de recursos. No ano passado, a årea de fiscalização e regulação da Anac contava só com R$ 20 milhÔes para garantir o funcionamento da aviação civil dentro de padrÔes internacionais de qualidade e segurança, conforme dados da ONG Contas Abertas. Neste ano, dos R$ 34 milhÔes autorizados para a årea, R$ 10 milhÔes foram contingenciados.
O setor de energia, embora mais evoluĂdo, tambĂ©m padece da mesma deterioração nos serviços, cuja demanda tem crescido de forma expressiva. Em 2006, por exemplo, o tempo que o brasileiro ficou sem luz foi o mais longo desde a privatização, com uma sequĂȘncia de apagĂ”es que se estendeu atĂ© este ano.
Embora a AgĂȘncia Nacional de Energia ElĂ©trica (Aneel) afirme que realizou fiscalizaçÔes acima da meta fĂsica do Projeto de Lei OrçamentĂĄria Anual, o volume caiu em relação a 2008. O planejamento inicial era fazer 2.017 fiscalizaçÔes, mas foram realizadas sĂł 1.866 por causa do corte de verbas, conforme RelatĂłrio de GestĂŁo referente a 2009.