Alberto Komatsu e Cynthia Malta, de São Paulo - Valor
A Latam Airlines, fusão entre a brasileira TAM e a chilena LAN anunciada na sexta-feira, foi criada com apetite para competir globalmente. A nova empresa terá a TAM com foco no Brasil e a LAN dedicada aos mercados hispânicos. E a Europa e os Estados Unidos são estratégicos para a expansão do grupo que está sendo considerado o maior privado do mundo, em valor de mercado, atrás das estatais Air China e Singapore Airlines.
"A TAM não abre mão da liderança no Brasil. Com a nossa conectividade internacional, temos que ser líderes ", disse o presidente da holding TAM S.A., Marco Antonio Bologna. Em julho, a TAM respondeu por 43% do fluxo de passageiros transportados no país, ou 4,85 pontos percentuais à frente da Gol.
Bologna, que vai comandar, ao lado de Ignacio Cueto, o Centro de Excelência Operacional da Latam, em Santiago, disse que a TAM vai concentrar sua operação no Brasil. Mas isso não a impede de abrir novos voos em países latino-americanos, após a integração da malha com a LAN. Esta vai focar sua operação no mercados onde tem forte atuação. Além do Chile, Argentina, Peru e Equador, a LAN está entrando também na Colômbia, afirmou Bologna. O México é citado como um novo mercado.
"Estamos criando uma força sul-americana", disse o executivo.
As duas empresas vão receber 200 aviões até 2016. Segundo Bologna, a fusão poderá fazer com que cerca de mais 100 opções de compra sejam exercidas.
TAM e LAN, que continuarão a operar suas marcas independentemente, vão criar novos centros de distribuição de voos (hub). A TAM quer abrir novas frentes nas regiões Norte e Nordeste, pontos de passagem para os voos à Europa e aos Estados Unidos. "Vamos descentralizar os hubs da região Sudeste do Brasil", disse Bologna.
A TAM planeja abrir mais uma rota para a Europa via continente africano. Para isso, a companhia pretende oferecer um voo para a Angola. Segundo uma pessoa que acompanha as negociações, mas que pediu para não ser identificada, Roma, Barcelona, Suíça e Portugal devem ser o destinos prováveis.
Nos EUA, a TAM manterá seu foco na costa leste a a LAN na oeste.
De acordo com Bologna, o surgimento da Latam foi uma maneira de os dois grupos se prepararem para um futuro cenário de céus abertos, o que deve acontecer entre 30 e 40 anos. Dentro dessa nova realidade, companhias estrangeiras que queiram operar voos em outro país não estarão mais limitadas a uma negociação bilateral para definir a quantidade de voos por semana, como acontece atualmente.
Bologna defende que não seja permitido às estrangeiras a operação de voos dentro de um país que não o seu, a chamada cabotagem. "Um estudo da Iata [sigla em inglês de Associação Internacional do Transporte Aéreo] mostra que em até 40 anos vamos ter de 10 a 12 grupos de companhias aéreas no mundo", disse.
A aproximação entre as duas empresas teve início ainda quando o comandante Rolim, fundador da TAM, era vivo. Foi em meados de 1996, quando TAM, LAN e Taca fizeram um pedido conjunto de quase 200 aviões da Airbus. Rolim morreu num acidente de helicóptero em julho de 2001.
Foi em meados de junho que o plano de Rolim ganhou força. Projeto Córdoba, cidade argentina que fica no meio do caminho entre o Brasil e o Chile, foi o codinome para o nascimento da Latam, nome criado pelo próprio Rolim. Nas reuniões internas, TAM era chamada de "tiger", de tigre em inglês, e a LAN era "lion", ou leão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conheceu os detalhes do negócio, segundo Bologna, na sexta-feira, na base aérea de Porto Velho (Rondônia). Bologna e Maria Cláudia Amaro, presidente do conselho de administração da TAM, voaram de Nova York, onde cuidavam dos últimos detalhes. O presidente estava nas obras da usina hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, e foi de helicóptero ao encontro. Bologna conta que Lula, com quem Rolim gostava de conversar, ficou entusiasmado com o negócio.