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A dura batalha das comandantes

Elas ainda são poucas, mas já disputam espaço nas companhias aéreas do país.

Paola de Moura - Valor

Ela tinha 11 anos quando viu um avião pela primeira vez no aeroporto de Maceió. Conta que ficou impressionada e com os olhos cheios d´água de emoção. Na mente, um sonho infantil: "Um dia vou trabalhar em um avião". Hoje, com 41 anos, Patrícia Melo é uma comandante de aeronaves Airbus 320 da TAM, onde trabalha há 14 anos. A empresa tem 1.974 pilotos, apenas 19 são mulheres, das quais sete são comandantes. De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), na somatória de todas as categorias de pilotos já foram emitidas 34.293 licenças para homens e apenas 684 para mulheres. No caso de pilotos de linhas aéreas, como Patrícia, a diferença é ainda maior: No ano passado, 230 homens conquistaram essa certificação, enquanto o time feminino teve apenas uma representante.

Patrícia conseguiu seu primeiro emprego na Varig aos 19 anos, trabalhando no balcão do aeroporto. "Naquela época, o salário não dava para pagar os estudos, principalmente as aulas práticas".
 
Atualmente a Anac está com inscrições abertas para oferecer bolsas de estudos para alunos de pilotagem. O valor vai de R$ 12 mil a R$ 70 mil.

Depois de três anos atendendo o público em terra, Patrícia começou a dar asas ao sonho, mas ainda como comissária de bordo. Foi quando começou os estudos para se tornar piloto. "Enquanto os outros comissários saíam para passear nos pernoites dos destinos, eu ficava no hotel estudando", lembra. "Nos dias de folga, fazia as aulas práticas."

Patrícia conta que, nesta época, sofria muito preconceito dos instrutores, que exigiam mais dela no curso. "O que eles não sabiam é que estavam me ajudando, já que, com a cobrança mais forte, eu me aperfeiçoava mais rápido."

Após dois anos de curso e aprovada no antigo DAC, Patrícia se embrenhou na Amazônia e foi trabalhar como co-piloto de táxi-aéreo. "Como a demanda por voos na selva amazônica é maior, eu conseguiria chegar ao número de horas voadas exigidas por uma grande companhia em menos tempo."

Num ambiente totalmente masculino, Patrícia, com apenas 26 anos, dividia o avião com os pilotos -todos homens- garimpeiros, índios, além de galinhas e outros bichos. "Pela regra, o co-piloto organiza o avião e é responsável por carregar toda a bagagem. Eu fazia questão de cumprir a hierarquia.  Mesmo assim, eles me apelidaram de Penélope Charmosa", brinca.
 
Foram dois anos para chegar às 1.500 horas de voo exigidas. Patrícia então, finalmente, começava a viver o sonho de infância. Foi contratada pela TAM como co-piloto de Cesnna Caravan. Lá foi evoluindo: passou pelos Fokker 50 e 100. Depois de seis anos, foi promovida. Hoje comanda aeronaves Airbus 320 e 330.

Patrícia reconhece que no dia a dia da aviação, a vida para uma mulher comandante não é fácil e que ela precisa apresentar mais que os colegas. "Numa profissão em que você é minoria, todos ficam esperando algum deslize". Sua melhor experiência foi quando buscou uma aeronave zero quilômetro na fábrica na França. "A sensação de assinar a papelada e trazer o avião novinho para o Brasil foi maravilhosa".

Durante toda a carreira, Patrícia fez questão de não ter qualquer privilégio pelo fato de ser mulher. Quando fez um voo de instrução para comandar um A330, por exemplo, a aeromoça ofereceu a refeição primeiro para ela dentro da cabine. A hierarquia quase militar de uma aeronave exige que o comandante escolha sua refeição primeiro. "Ele não gostou e disse que escolheria primeiro e eu o apoiei", diz. Patrícia gostou da atitude e depois de alguns voos com o comandante, acabou casando.

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