Executivo defende a demissão de 20% dos funcionários e diz que objetivo é evitar que a empresa entre em crise



Mariana Barbosa

Desde janeiro, os contatos com a área de vendas da Embraer praticamente cessaram. Os clientes que ligam não querem realizar novas compras, mas adiar ou cancelar entregas. "Foi uma virada drástica e muito rápida", diz o presidente da Embraer, Frederico Curado, que está há duas semanas sob fogo cerrado por ter demitido 20% do pessoal. "Tivemos uma redução de 30% da nossa atividade industrial. Precisamos reduzir o efetivo para nos mantermos saudáveis. A Embraer não está em crise, mas tem de tomar cuidado para não entrar em crise. Alguns fabricantes vão deixar o mercado e temos de garantir que não seremos nós."

Ao realizar uma demissão de 20% de seu quadro, a Embraer foi acusada de insensível e de ingratidão. Como o sr. vê essas críticas?

De 2002 para cá, contratamos 10 mil pessoas. Mas, agora, chegamos a uma situação em que precisamos reduzir o efetivo para nos mantermos saudáveis financeiramente. A companhia não está em crise. Mas não podemos entrar em crise. O questionamento da sociedade, quando se tem uma redução dessa natureza, é natural e legítimo. Mas, uma vez que as causas sejam claramente elencadas, não podemos ficar nessa discussão intestina.

Sindicalistas dizem que a empresa foi capitalizada e financiada com recursos do FAT, via BNDES.

Primeiro, é preciso esclarecer uma confusão. O BNDES não financia a Embraer, ele financia nossos clientes. É evidente que é um apoio muito importante, mas não se trata de um favor do banco para a empresa. O banco tem lucro com essas operações. Não quero minimizar a importância disso, ainda mais neste momento de contração de crédito mundial. E o BNDES, de dois anos para cá, tem aumentado significativamente sua disposição.

A Justiça do Trabalho determinou, liminarmente, a recontratação dos empregados sob o argumento de que não houve negociação prévia com sindicatos. Por que não houve essa negociação prévia?

Fizemos o que julgávamos necessário, obviamente que dentro da lei. Mas medidas como férias coletivas você toma quando se tem uma expectativa de recuperação de curto prazo. Diferentemente do automóvel, que tem um ciclo de horas, o ciclo do avião é de meses. A indústria automobilística reage rapidamente a uma renúncia fiscal. Nós não. Teremos uma redução de 30% no volume da atividade industrial e um ciclo de recuperação que não será inferior a dois anos. Foi tudo muito drástico e rápido. Portanto, discutir soluções transitórias, paliativas, neste momento, é uma discussão falsa, não vai levar a nada.

A empresa teme ter de recontratar?

Num estado de direito, temos de seguir a lei. Mas vamos fazer o que puder para manter, pois o problema que causou a demissão está presente, não desapareceu. A intensidade de caixa na Aviação é muito grande, a velocidade com que se queima caixa é impressionante. Uma das fontes de caixa que qualquer fabricante tem são os depósitos iniciais de novas vendas. Só que não estamos tendo novas vendas. Se não há novas vendas, o caixa começa a vir só das entregas. A gente não pode brincar com uma situação como essa e deixar a empresa se enfraquecer. Precisamos olhar para frente e garantir que consigamos estabilizar a empresa onde estamos. É uma visão que não está garantida, temos de lutar dia a dia. Certamente neste instante há clientes ligando pedindo para adiar ou cancelar uma entrega. Temos de tentar segurar. Pode ser que fabricantes deixem o mercado. Temos de garantir que não sejamos nós. Estamos perdendo tamanho, não podemos perder relatividade e competitividade, é isso que assegura o futuro.

Como vocês estão sentindo essa retração em termos de adiamentos e cancelamentos?

O ano de 2008 fechou relativamente bem, conseguimos quase chegar à receita prevista, de US$ 6,5 bilhões. Chegamos a US$ 6,4 bi e pouco. O fato é que, até novembro, tínhamos tido apenas adiamentos. Mas, na virada do ano, em janeiro, tivemos uma verdadeira torrente de adiamentos e cancelamentos.

Há risco de mais demissões na Embraer?

Não estamos prevendo mais nenhuma demissão. Quem determina o nível de emprego não é a empresa nem o governo, é o mercado. Nossa ideia é lutar com triplas forças para que a gente não precise fazer mais nada. Se o mercado se recuperar, ótimo, vamos fazer a recontratação. Se lá na frente se deteriorar de novo, temos, claro, de reavaliar.

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