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Executivos estão se livrando do jatinho

Mercado de aviões particulares e corporativos novos está paralisado



Mariana Barbosa

Quando Rick Wagoner, o executivo-chefe da General Motors, pegou seu jatinho corporativo para ir a Washington discutir o plano de auxílio financeiro do governo para as montadoras, na semana passada, ele não imaginaria que isso poderia comprometer o futuro da montadora. O simples fato de Wagoner ter aterrissado em Washington de jatinho para pedir dinheiro público irritou parlamentares, que citaram o episódio como justificativa para não aprovar o plano de socorro às montadoras.

Embora atualmente os jatos executivos - próprios ou alugados - tenham se transformado no principal meio de locomoção de presidentes de grandes corporações ao redor do mundo, seu uso ainda é sinônimo de esbanjamento. Sinal de que a farra da Enron, que foi à bancarrota no início da década, enquanto altos executivos promoviam festas pelos ares, permanece no imaginário popular.

Para evitar danos maiores a sua imagem, a GM anunciou que colocaria à venda dois de seus cinco jatos executivos. Seja pela necessidade de apertar o cinto ou para manter a imagem de austeridade perante aos acionistas, estão todos colocando seus jatinhos à venda. Nos últimos três meses de crise, o estoque de usados no mundo mais de dobrou, passando para cerca de 2.200 jatos.

“Não é mais hora de esbanjar e muita gente fica com vergonha de falar que tem avião”, afirma o empresário Alexandre Eckmann, sócio da Colt Aviation, empresa de táxi aéreo e de compra e venda de jatinhos.

No Brasil, não há um número para o estoque de jatos usados à venda, mas há muito empresário pedindo cotação junto aos revendedores. O empresário José Salim Mattar Junior, da Localiza, por exemplo, avisou que quer vender um de seus dois jatinhos. Ele tem um Citation Bravo (avaliado em cerca de US$ 3 milhões) e recebeu faz poucos meses um Excel (US$ 12 milhões) novinho da fabricante Cessna.

Diante das dificuldades financeiras da Laep, controladora da Parmalat, o empresário Marcus Elias também decidiu vender seus jatinhos - um Citation 10 e um King Air, além de um helicóptero Agusta. Fotos do empresário em um jato ao lado da modelo Naomi Campbell nas colunas sociais não pegaram bem com investidores. Hoje seu Citation está à venda por US$ 12 milhões.

Mas vender não está nada fácil. O empresário Alexandre Negrão, controlador do Laboratório Medley, era um dos poucos a exibir no Brasil um Global 5000, da Bombardier, que há dois anos estava avaliado em US$ 33 milhões. Há cerca de cinco meses, um milionário europeu chegou a assinar o contrato para comprá-lo, pagando US$ 50 milhões, mas desistiu da compra. “Hoje está praticamente impossível vender um jato desse porte”, afirma Alexandre Eckmann. “São jatos para grandes corporações, que neste momento não vão gastar com isso.”

Quem não está desesperado para fazer caixa, a melhor opção é deixar o avião parado no hangar, uma vez que o custo de operação é bastante alto. “Há jatos sendo vendidos abaixo do preço de custo”, diz um consultor. “Vender agora é como se desfazer de uma posição de ações na baixa.”

O único caso de “subprime” de jatinho que se tem notícia até o momento no Brasil é o da Agrenco, empresa que entrou em recuperação judicial depois que seus controladores foram presos pela Polícia Federal, acusados de sonegação fiscal. O Gulfstream G10 da companhia foi devolvido ao Citi, que o financiou.

OBJETOS DE DESEJO

Enquanto o crédito era farto e a bolsa fazia milionários (ou bilionários) da noite para o dia, os jatos executivos se transformaram em um dos mais cobiçados objetos de desejo. E esse desejo era tanto que a espera para levar um jato novo para casa, independentemente do modelo ou do fabricante, chegou a mais de quatro anos.

Os jatos usados - pelo simples fato de poderem ser adquiridos imediatamente - passaram a custar mais caro que um novo. “Os preços estavam absurdos. A crise vai servir para aproximar os preços dos usados da realidade”, afirma Rui Aquino, presidente da TAM Marília, revendedora de jatos Cessna.

A crise ainda não fez a fila diminuir, mas as vendas de jatos novos estão praticamente paradas.

A principal financiadora de jatos no Brasil, a GE Capital, fechou seu escritório no País há duas semanas.

Quem tinha de assinar o cheque para receber seu jato no ano que vem decidiu adiar a entrega.

A financeira do grupo GE, que é a grande financiadora da Bombardier no mundo, cancelou até compromissos que já estavam contratados, deixando na mão mais de uma dezena de clientes.

“Tínhamos 12 entregas previstas para até o fim do ano, mas conseguimos reacomodar com outro financiador”, diz José Eduardo Brandão, diretor comercial da OceanAir Táxi Aéreo, representante da Bombardier. “Dos doze casos, só não conseguimos equacionar um.”

A Cessna é uma das poucas empresas que possui uma financeira própria. “Nosso financiamento segue inalterado”, afirma Aquino.

A Embraer, por exemplo, que estava se programando para entregar de 120 a 150 jatinhos Phenom 100 e 300 no ano que vem, anunciou há duas semanas uma revisão desse número para 110.

No mercado, comenta-se que a companhia estaria estudando a criação de uma divisão para a comercialização de usados, a exemplo do que fazem outros fabricantes. A idéia seria permitir que o cliente dê o seu usado como entrada, para estimular as vendas.

Mas ainda há quem passe ao largo da crise. Acaba de aterrissar no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio, um Gulfstream 450, de US$ 40 milhões. É o novo brinquedo de luxo do banqueiro Gilberto Sayão, 37 anos, que se tornou um dos mais jovens bilionários do País com a venda do Banco Pactual para o UBS, em 2006.

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