Alberto Komatsu

Pela primeira vez em cinco anos, a demanda por vôos domésticos deverá crescer menos de dois dígitos em 2009, cerca de 7%, influenciada pela turbulência no sistema financeiro dos Estados Unidos, conforme estimativas de especialistas e de empresas aéreas. Isso vai ocorrer num cenário poucas vezes visto na aviação comercial brasileira, com a entrada de uma nova companhia, a Azul, o fortalecimento financeiro da Trip Linhas Aéreas com o aporte da americana SkyWest, a unificação operacional da Gol com a Varig, a expansão internacional da TAM e a reestruturação da OceanAir.

“Não é uma queda do setor aéreo propriamente dita, mas uma conseqüência da turbulência da economia mundial. Se houver desaquecimento da macroeconomia, os investimentos diminuem, afetando as viagens de negócios, por exemplo, avalia o especialista em aviação da consultoria Bain & Company, André Castellini. Ele lembra que a demanda do setor aéreo geralmente cresce duas vezes o desempenho do PIB, que deverá ficar em 3,5% em 2009, segundo prevê o mercado.

A possível redução do fluxo de passageiros transportados em 2009 poderá levar a uma superoferta de assentos no mercado doméstico. As seis principais companhias aéreas nacionais planejam agregar 33 novos aviões às suas frotas. Caso isso ocorra, o consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio prevê mais uma guerra tarifária, desta vez com o reforço de competidores novos e fortalecidos financeiramente.

“O ano que vem começa com uma incógnita, que é o reflexo da crise mundial no Brasil. Mas, com mais empresas e aviões no mercado e a demanda não crescendo muito, poderemos ter uma interessante guerra tarifária”, diz Sampaio. Na sexta-feira, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) divulgou um prejuízo de R$ 1,3 bilhão das empresas de transporte regular de passageiros em 2007. Segundo a agência, um dos motivos foi o acirramento da competição por tarifas mais baixas. Só na ponte aérea as perdas foram de R$ 7,6 milhões.

O presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Estratégicos e de Políticas Públicas em Transporte Aéreo (Cepta), Respício Espírito Santo, avalia que o agravamento da crise pode brecar investimentos do setor aéreo no País. “O ano que vem pode ser o início de um novo ciclo. Mas pode haver receio dos investidores, alguém que tinha intenção de investir no Brasil, quer seja em empresas aéreas ou aeroportos, por exemplo.”

Opinião parecida tem o presidente da Trip, José Mario Caprioli. Ele diz que a crise poderá afetar os investimentos no setor que não haviam sido programados com antecedência. “Já acendeu a luz amarela no mercado de crédito internacional. A minha sorte é que eu já tinha negociado meus pedidos um pouco antes”, conta Caprioli. A Trip deve receber oito aeronaves, entre modelos ATR 72-500, para 66 passageiros, e Embraer 175, para 86 pessoas.

A OceanAir, por sua vez, planeja integrar cinco novas aeronaves à frota em 2009, entre os modelos A319 e A320, da européia Airbus, diz o diretor-geral da empresa, José Efromovich. Este ano, a empresa fez uma reestruturação que reduziu a quantidade de aviões de 30 para 14. Também demitiu 600 pessoas e tem agora 1.100 funcionários. O número de cidades nas quais a OceanAir opera também caiu, de 37 para 23. Em 2009, porém, a empresa quer voar para até 30 municípios.

“A crise americana vai refletir no Brasil, com mais ou menos intensidade. Mas, como tivemos um baque tão grande nos últimos seis meses por causa do combustível, não aguardo grandes mudanças na aviação, a não ser uma limitação de linhas de crédito”, considera Efromovich. Ele estima que a OceanAir pode ter até 5% do mercado em 2009, o dobro de sua participação atual.

A crise internacional não afetou os planos da Azul Linhas Aéreas, disse recentemente o presidente do conselho de administração da empresa, David Neeleman. A Azul quer antecipar a sua estréia de janeiro de 2009 para dezembro. Para isso, obteve dos investidores um aporte adicional de US$ 50 milhões, elevando a capitalização para US$ 200 milhões, a maior para lançamento de uma companhia na história da aviação mundial. A empresa também ampliou seu planejamento de frota em 2009, de 10 aeronaves para 16.

A Gol considera que ainda é cedo para avaliar o impacto da crise internacional na aviação brasileira, mas concorda que o crescimento do fluxo de passageiros transportados por quilômetro (principal índice da aviação comercial) deverá ficar abaixo de 2 dígitos em 2009, entre 7% e 8%. De janeiro a agosto, a demanda doméstica acumula crescimento de 10,9%, segundo a última estatística disponível na ANAC.

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