A companhia aĂ©rea Vasp teve sua falĂȘncia decretada pelo juiz Alexandre Alves Lazzarini, da 1ÂȘ Vara de FalĂȘncias e RecuperaçÔes Judiciais de SĂŁo Paulo. Ă provĂĄvel que os advogados da empresa recorram da sentença, mas tudo indica que o fim da Vasp estĂĄ prĂłximo.
A Vasp Ă© um exemplo de gestĂŁo ruinosa desde antes da privatização, em 1990, quando operava com prejuĂzo de US$ 30 milhĂ”es anuais e devia US$ 750 milhĂ”es. Mas a situação agravou-se apĂłs a venda de 60% das açÔes do Estado de SĂŁo Paulo para o Grupo Canhedo.
A privatização parecia ser a melhor saĂda para o governo paulista, mas o processo de venda foi obscuro. O Grupo Canhedo pagou US$ 43 milhĂ”es pelo controle, mas nada fez que justificasse o negĂłcio. A empresa nĂŁo foi capitalizada, como seria indispensĂĄvel. Descontava dos salĂĄrios dos funcionĂĄrios as contribuiçÔes devidas Ă PrevidĂȘncia Social, mas nĂŁo recolhia o dinheiro ao INSS. Em março de 2004, o controlador do grupo, Wagner Canhedo, chegou a ser preso, em BrasĂlia, por ordem do juiz federal David Rocha Lima de MagalhĂŁes e Silva, da 8ÂȘ Vara de ExecuçÔes Fiscais de SĂŁo Paulo, como depositĂĄrio infiel. A Vasp tampouco quitava os tributos federais ou as taxas devidas Ă Infraero.
Atrasada no pagamento de combustĂvel Ă BR Distribuidora, do Grupo PetrobrĂĄs, pagou com cheques sem fundos e teve o fornecimento suspenso. Pouco antes de deixar de voar, sĂł conseguia abastecer os aviĂ”es se pagasse em dinheiro.
Deixou de pagar dĂvidas com o governo federal avalizadas pelo Tesouro paulista. E usou artifĂcios contĂĄbeis para reduzir a participação acionĂĄria do governo de SĂŁo Paulo de 40% para 4,6%.
Para continuar operando, buscou sempre o refinanciamento e a rolagem de dĂvidas. Tomou emprĂ©stimos em condiçÔes irregulares, usando documentos supostamente falsificados. E o dinheiro que entrava nĂŁo era destinado a investimentos. A frota ainda existente, de 27 aviĂ”es, Ă© constituĂda por modelos com mais de 30 anos de uso, canibalizados pela remoção de peças usadas para manter em operação um nĂșmero cada vez menor de aviĂ”es. Sem manutenção e com riscos Ă segurança, o Departamento de Aviação Civil interrompeu os vĂŽos em janeiro de 2005.
Em resumo, o Grupo Canhedo praticou toda a sorte de desmandos na gestĂŁo da Vasp, que em 1990 detinha 31% do mercado e era a segunda maior do ramo e, ao ser proibida de operar, tinha 0,75% do mercado.
HĂĄ bem mais tempo a Vasp teria sido impedida de atuar, nĂŁo fosse a leniĂȘncia de autoridades e credores. Com a mudança na Lei de FalĂȘncias, a Vasp ganhou sobrevida e anunciou um plano de recuperação judicial - tambĂ©m descumprido. Por isso a falĂȘncia foi decretada. Mas credores e empresa foram criticados. “A recuperação judicial se arrasta sem qualquer solução, sempre com expectativa de decisĂ”es judiciais milionĂĄrias ou investidores tambĂ©m milionĂĄrios”, escreveu o juiz Lazzarini em julho, ao negar o pedido de adiamento da assemblĂ©ia de credores em que a falĂȘncia foi aprovada.
A Vasp sĂł se mostrou competente em protelar sua falĂȘncia. Seus advogados agarraram-se Ă hipĂłtese de a empresa ser declarada vencedora em açÔes que move contra a UniĂŁo para ser ressarcida pela venda de bilhetes a preço tabelado, entre 1988 e 1992. Os recursos, segundo os defensores, dariam para pagar a dĂvida, estimada entre R$ 4 bilhĂ”es e R$ 5 bilhĂ”es, e sobraria dinheiro.
ExcluĂdas as açÔes, a Vasp tem poucos ativos, tais como imĂłveis avaliados, hĂĄ trĂȘs anos, em R$ 200 milhĂ”es e aviĂ”es sucateados, peças de reposição e ferramentas. A Infraero quer receber o que a Vasp lhe deve e retomar as ĂĄreas que a empresa ocupa nos aeroportos. Pior Ă© a situação dos empregados da empresa, que perderam o trabalho e nĂŁo sabem se e quando receberĂŁo suas indenizaçÔes.
O juiz quer saber por que o INSS nĂŁo penhorou os aviĂ”es da empresa para a quitação das dĂvidas. Afirmou, ainda, que outro credor, o fundo de pensĂŁo Aeros, sob intervenção hĂĄ 10 anos, “mostra desgovernança”. TĂŁo absurda quanto a gestĂŁo da Vasp, durante os 15 anos que transcorreram entre a privatização e a interrupção dos vĂŽos, Ă© a omissĂŁo dos credores e dos responsĂĄveis pelo transporte aĂ©reo no Brasil.