AtĂ© meados deste ano, todas as exportaçÔes e importaçÔes de materiais aeronĂĄuticos tinham de ser aprovados pela AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil (Anac). "Mas a Receita Federal jĂĄ faz isso", lembra Miguel Jorge. "Agora a Anac, que destinava dez pessoas para esse tipo de processo, pode cuidar de outra coisa."
Simone Cavalcanti
SĂŁo Paulo - Impossibilitado de resolver a questĂŁo da contĂnua valorização do real frente ao dĂłlar e voltar a incutir a vontade exportadora nos empresĂĄrios brasileiros, o governo come pelas beiradas e tenta, pelo menos, desburocratizar o comĂ©rcio exterior. Em entrevista exclusiva Ă Gazeta Mercantil, o ministro do Desenvolvimento, IndĂșstria e ComĂ©rcio Exterior, Miguel Jorge, indica que estĂĄ em andamento uma negociação entre 18 ĂłrgĂŁos governamentais para que as aprovaçÔes de liberação de mercadorias importadas ocorram ao mesmo tempo.
Hoje, se uma empresa precisa do consentimento, por exemplo, de trĂȘs ĂłrgĂŁos do governo para receber suas compras do exterior, tem de esperar trĂȘs semanas porque cada aprovação em cada ĂłrgĂŁo ocorre em dias diferentes. "Queremos que a anuĂȘncia seja dada conjuntamente e no mesmo local. Vamos estabelecer um prazo para isso que, se nĂŁo for cumprido, a mercadoria estarĂĄ aprovada automaticamente", garante.
O ministro conta que houve um caso de importação de peças de motocicletas que precisou da aprovação do MinistĂ©rio da Agricultura porque os produtos estavam embalados em caixas de madeira dentro do contĂȘiner e havia a possibilidade de essa madeira, se nĂŁo estivesse tratada, embutir alguma espĂ©cie de praga. A mercadoria nĂŁo pĂŽde ser retirada durante um mĂȘs Ă espera da anuĂȘncia.
Outra medida que estå em andamento é a ampliação da chamada linha Azul, pela qual as mercadorias importadas estariam automaticamente liberadas e seriam conferidas posteriormente pela Receita Federal. Segundo Jorge, apenas dez empresas atualmente são beneficiadas por esse processo.
Para ele, a baixa adesĂŁo Ă© pelo desconhecimento do programa ou pelo medo das empresas em permitir que o Fisco faça a verificação na empresa. "Mas a Receita pode bater Ă porta da empresa a qualquer momento. Se estĂĄ tudo certo, nĂŁo hĂĄ o que temer", afirma, ressaltando que, para se habilitar, a empresa precisa ter um "bom currĂculo", ou seja, nĂŁo ter tido problemas em nenhuma das operaçÔes de importação e/ou exportação. "Vamos procurar as empresas para conversar sobre as vantagens da linha Azul", diz.
Bem mais simples
Algumas medidas de simplificação jĂĄ foram tomadas como resultado de uma reuniĂŁo com 35 ĂłrgĂŁos da Esplanada dos MinistĂ©rios. A AgĂȘncia Nacional de VigilĂąncia SanitĂĄria (Anvisa), por exemplo, nĂŁo exige mais que produtos para saĂșde, fabricados no Brasil e destinados Ă exportação, sejam registrados no ĂłrgĂŁo. TambĂ©m nĂŁo hĂĄ mais necessidade de aprovação em trĂąnsito aduaneiro para todas as mercadorias que nĂŁo constam em lista especĂfica, desde que os produtos nĂŁo sejam perecĂveis e precisem de armazenamento especial.
Ricardo Mendes, sócio-diretor da Prospectiva Consultoria, diz acreditar que o setor de fårmacos só tem a ganhar com essa iniciativa, uma vez que melhorarå o fluxo de exportaçÔes e reduzirå o custo com advogados que acompanham os processos. "Antes, os produtores ficavam esperando até 40 dias a liberação", diz.
Entre os entraves do comĂ©rcio exterior foram encontradas sobreposiçÔes. Uma delas no setor de aviação. AtĂ© meados deste ano, todas as exportaçÔes e importaçÔes de materiais aeronĂĄuticos tinham de ser aprovados pela AgĂȘncia Nacional de Aviação Civil (ANAC). "Mas a Receita Federal jĂĄ faz isso", lembra Miguel Jorge. "Agora a ANAC, que destinava dez pessoas para esse tipo de processo, pode cuidar de outra coisa."
Para o sócio-diretor da Prospectiva, essas duas açÔes aumentam a competitividade dos setores envolvidos, principalmente porque são produtores a que chamou de protegidos das oscilaçÔes cambiais.
"Eles dependem de insumos importados para produzir e exportar, assim, quanto mais barato estiver o dĂłlar, melhor para as compras", afirma.
Uma outra medida tem aspecto curioso. Miguel Jorge conta que, ao fazer o levantamento dos entraves burocrĂĄticos, descobriu-se que, para exportar materiais explosivos era preciso pedir um registro na Secretaria do ExĂ©rcito do MinistĂ©rio da Defesa. "Esse tipo de exigĂȘncia foi feita em 1942, quando o Brasil entrou na 2 Guerra Mundial, para um determinado momento, mas era pedida atĂ© hoje", conta o ministro, mostrando-se satisfeito por ter tirado mais esse entrave da pauta.