Valor
De São Paulo, do Rio e de Brasília
Com ágios superlativos, que atingiram a média de 347%, a disputa pela concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília foi encerrada em menos de três horas. Em uma cena rara, nenhuma das gigantes da construção nacional - Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa - figurou entre os vitoriosos. Além disso, nenhuma operadora de renome internacional integra os consórcios vencedores - a gestão dos três aeroportos ficará sob responsabilidade de empresas estrangeiras do mundo emergente. Ao saírem da Bovespa com despesas muito superiores à dos lances mínimos, os consórcios terão de enfrentar o grande desafio de resolver a equação financeira dos novos negócios com lucro.
Embora o pagamento dos R$ 24,5 bilhões em outorgas seja feito anualmente ao longo das concessões, os valores superam a geração de caixa anual obtida hoje pelos aeroportos. No caso de Guarulhos, a outorga consumirá pouco mais de R$ 800 milhões por ano, enquanto a estimativa de geração de caixa gira em torno de R$ 500 milhões atualmente.
A Invepar, controlada pelos fundos de pensão Previ, Petros, Funcep e pela empreiteira OAS, ofereceu R$ 16,213 bilhões por Guarulhos, valor mais de R$ 4 bilhões superior ao lance mais próximo, da OHL Brasil. A construtora aliou-se à operadora sul-africana ACSA. Com estrutura de holding, a Invepar tem sob seu guarda-chuva seis empresas operacionais: Linha Amarela, Raposo Tavares, Metrô Rio, 25% da CRT, Bahia Norte e Litoral Norte. Seu faturamento foi de R$ 1,1 bilhão em 2011. O presidente da companhia, Gustavo Rocha, não detalhou o plano de negócios, mas antecipou que a ampliação das receitas não tarifárias é parte essencial da estratégia.
A Engevix, que arrematou a concessão de Brasília com proposta de R$ 4,51 bilhões, ágio de 673% sobre o valor inicial, fechou parceria com a argentina Corporación América - detentora de uma rede de 33 aeroportos em seu país e um histórico de renegociações contratuais e falta de investimentos.
A Triunfo, vencedora do leilão de Viracopos com uma oferta de R$ 3,821 bilhões, associou-se à francesa Egis Aiport Operation - cujas operações se concentram no Congo, Costa do Marfim, Chipre e Taiti. Em outubro de 2008, a Triunfo chegou a se classificar em primeiro lugar no leilão para concessão das rodovias Ayrton Senna e Carvalho Pinto, em São Paulo, mas foi desabilitada por não depositar as garantias exigidas dentro do prazo. Endividada, suas ações caíram 5% após vencer o leilão.
De seu gabinete no Planalto, a presidente Dilma Rousseff acompanhou em tempo real os leilões. O resultado superou as melhores expectativas do governo federal.