De todas as restrições impostas para Congonhas somente a redução dos pousos e decolagens foi mantida
Bruno Tavares e Rodrigo Brancatelli
Na prática, o terminal que teve sua utilização colocada em xeque após o acidente continua sendo um dos mais movimentados do País, atrás somente do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos. Outros dois projetos anunciados com alarde na mesma ocasião - a construção de um terceiro aeroporto para atender a demanda de São Paulo e a instalação de áreas de escape em Congonhas - continuam engavetados.
As restrições impostas pelas autoridades aeronáuticas começaram a ser revistas em janeiro deste ano. Na mesma entrevista coletiva em que decretou a “inviabilidade técnica” da terceira pista de Cumbica, Jobim revogou a norma que proibia escalas e conexões de vôos em Congonhas, apontadas como as maiores culpadas pelo colapso da malha aérea do País. O ministro também permitiu a volta dos vôos fretados para o aeroporto, mas limitou as operações aos fins de semana. Por fim, o governo cedeu às pressões das empresas e de governadores do Nordeste e recuou da decisão de vetar vôos de mais de 1,5 mil quilômetros de distância com origem ou destino em Congonhas.
O comandante aposentado Carlos Camacho, diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, considera que os perigos e riscos de Congonhas continuam por lá, sem que o governo tenha feito nada para diminuí-los ou resolvê-los. “Eu fico perplexo quando vejo que Congonhas voltou a ser o mesmo monstro que era antes”, diz. “Mesmo com tudo o que foi dito nos meses seguintes ao acidente da TAM, não mudou quase nada ali, continua sendo o mesmo hub (centro de distribuição de vôos) de sempre.”
Camacho chama a atenção para a segurança da pista de Congonhas, que não comportaria os aviões de grande porte que continuam pousando e decolando dali. “A pista não admite uma única falha simples nos freios ou o não-acionamento dos spoilers. Se isso ocorrer em Guarulhos, há área de escape para o piloto conseguir parar a aeronave. Mas, em Congonhas, se acontecer uma falha simples em um avião teremos um novo acidente e novas mortes.”
Para Respício do Espírito Santo Filho, professor de Transporte Aéreo da UFRJ e presidente do Instituto Cepta, especializado em estudos do transporte aéreo, as mudanças propostas para Congonhas que não saíram do papel foram “reações emocionais”, e não técnicas. “Foram reações políticas em um momento delicado, de tragédia, mas não houve estudos ou grupos de trabalho para embasar qualquer decisão”, diz. “Mesmo retirar slots da aviação geral e diminuir o número de operações não teve justificativa técnica, foi um retrocesso. Congonhas é seguro dentro dos níveis técnicos internacionais.
Pode melhorar, mas o custo político e econômico é tão grande que se mantém o aeroporto da forma que está.”