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O fim antes do caos



Marcelo Hecksher
Coronel-aviador (Ref.)

Está encomendada a missa do velório da aviação civil brasileira. Será na inspeção da Organização Internacional de Aviação Civil (Oaci), em maio de 2009. Não é possível que pessoas sem nenhum conhecimento técnico ou cultura aeronáutica sejam diretores de aviação civil, com as responsabilidades de gerir, controlar, fiscalizar, coordenar a aviação civil no Brasil, sujeita aos rigores das regulamentações internacionais e do Código Brasileiro de Aeronáutica.

Regulamentações que evoluem, de forma continuada e sequencial, com a finalidade de maior eficiência da indústria do transporte aéreo e, principalmente, de maior segurança das operações.

Repetir a inexperiência de Zuanazi e sua trupe foi um absurdo. Os resultados dos concursos abertos para selecionar inspetores de aviação civil foram, simplesmente, ridículos. Pior do que os resultados ridículos é o fato da direção da Anac, os restantes após a saída do brigadeiro Alemander, não terem a menor noção das razões do fracasso.

Quando pessoas como a Sra. Solange ou o ministro Jobim resolvem opinar sobre algum assunto relativo à operação de aeronaves, os aviadores que acompanharam a evolução da aviação brasileira, desde os tempos do DC-3 até as modernas aeronaves de hoje, sentem o perigo no ar.

Sabem esses aviadores que a falta de supervisão em empresas capitaneadas por mercenários, a falta de fiscalização na aviação geral e nas oficinas de manutenção são elos na corrente formadora de acidentes. Sabem que desprezar o conhecimento e a experiência em aviação é um caminho seguro para o desastre.

Quem é neófito em aviação não entende que o fato de uma pessoa saber pilotar não a credencia a ser instrutor de vôo ou inspetor de aviação civil. Existem pilotos e pilotos. Essa é uma área onde a experiência na tarefa tem real valor. Não há como transmitir ensinamento de vôo em determinada manobra ou situação, normal ou de emergência, se não se vivenciou essa situação anteriormente.

Quem é neófito em aviação não sabe quanto de dedicação é necessário para que um inspetor mantenha em dia seus conhecimentos teóricos sobre um determinado equipamento e sobre a legislação em vigor. Custa caro contratar um bom inspetor. Desprezar a experiência dos antigos inspetores do DAC não foi uma boa política. Foi como mandar embora os comandantes antigos de uma empresa aérea e contratar pilotos novinhos.

Existem alguns corolários de segurança em aviação que cobram seu custo quando desprezados.

Em aviação, não se despreza combustível, comprimento de pista e experiência de vôo.

Infelizmente, só quem voa é que sabe disso. Os vôos da Solange e do Jobim foram outros. Se o Brasil for rebaixado para a categoria 2, após a inspeção da Oaci (alguns chamam de visita técnica), suas empresas aéreas passarão a voar apenas para os aeroportos periféricos nos EUA e na Europa.

As empresas aéreas genuinamente brasileiras não sobreviverão. Restarão aquelas capitaneadas por testas de ferro estrangeiros, para as quais a Anac faz vista grossa.

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