Clientes conscientes mudaram política de companhias aéreas


Natália Zonta e Ana Carolina Sacoman

Seguidor fiel do turismo slow, o inglês Ed Gillespie, de 35 anos, tomou uma decisão radical em 2003: nunca mais usar o avião, um dos meios de transporte que mais agridem a natureza, nas viagens a lazer. O turista superconsciente não conseguia conviver com a idéia de que suas longas jornadas estavam poluindo o planeta.

Por incrível que pareça, Gillespie mantém sua promessa e já esteve em todos os continentes, inclusive na América do Sul, onde pegou carona num navio cargueiro. Nos lugares onde não há trem ou metrô, migra para os ônibus. Na semana passada, ele saiu da Costa Rica rumo à Inglaterra. Foram 12 dias de navegação - pouquíssimo tempo para um turista tão habituado à maneira slow de viajar.

Assim como o inglês, muitos incorporaram os cuidados com a preservação do meio ambiente ao conceito de turismo slow. 'Voar é uma das coisas mais destrutivas que um turista pode fazer', garante Gillespie. 'Sem contar que seguir por água ou por terra pode ser muito mais interessante, com mais chance de aventuras.'

Nem é preciso falar que evitar o aeroporto pode ser extremamente complicado em algumas circunstâncias. 'Definitivamente não é simples montar um roteiro sem avião, mas é bastante recompensador', garante o aventureiro.

Para registrar suas jornadas, ele criou o blog www.slowcarbontravel.com . Lá, Gillespie conta como fazer os roteiros de forma ecologicamente correta. 'Já fui da Nova Zelândia até o México com um barco que cruzava o Taiti. Foram mais de mil quilômetros em 16 dias.'

PRESSÃO

Esses viajantes conscientes já conseguiram provocar mudanças na política das companhias aéreas internacionais. Muitas dessas empresas investiram em programas de compensação ambiental, baseadas nas emissões de CO2 durante o vôo.

O plantio de árvores para compensar a emissão é a ação mais recorrente. No geral, uma
tonelada de carbono equivale a cinco árvores de ecossistemas degradados, como a mata atlântica ou a Floresta Amazônica.

Para se ter uma idéia, no trecho São Paulo-Paris-São Paulo são lançados na atmosfera 1.730 quilos de carbono, segundo a Air France. Isso por passageiro da classe econômica.

A companhia francesa já tem em seu site (www.airfrance.com.br ) uma ferramenta com a qual o cliente pode calcular a emissão de sua viagem. Mas ainda não faz nada de efetivo para reverter o prejuízo ambiental - o viajante pode ter essa iniciativa por conta própria.

A holandesa KLM mudou sistemas mecânicos e tornou os aviões menos poluentes. A companhia também firmou uma parceria com a World Wildlife Fund (WWF) e se comprometeu a compensar um total de 4 milhões de toneladas de CO2 emitidas em quatro anos.

EM DINHEIRO

Na Lufthansa, os turistas podem calcular a emissão do gás em suas viagens e doar um valor correspondente para estudos climáticos em países como a Índia. Uma viagem de ida e volta entre as cidades de São Paulo e Frankfurt, na classe econômica (19.646 quilômetros), por exemplo, emite 1.986 quilos de gás carbônico.

Pelos cálculos do site www.lufthansa.myclimate.org, o cidadão que quiser aliviar a consciência deve pagar 40 pelo estrago (R$ 104,47). Quem voou de primeira classe terá de desembolsar 95 (R$ 248,13), já que o número reduzido de acentos e o gasto maior de energia deixam a viagem mais poluente.

Outros detalhes fazem a diferença. A Lufthansa estuda medidas simples para diminuir o gasto com combustível e, conseqüentemente, reduzir a poluição. Entre as estratégias da empresa está a adoção de aviões mais leves e eficientes - atualizar o desenho da asa, por exemplo, representaria economia de combustível entre 5% e 15%; usar material mais leve na aeronave, uma redução de 3%.

Por isso, a companhia está investindo 14 bilhões na modernização de 170 aviões, segundo o diretor do departamento de Meio Ambiente e Sustentabilidade da empresa, Andreas Waibel. 'Ainda é preciso explorar esse campo, mas sabemos que medidas simples ajudam.'

Na British Airways e na Continental, a lógica é quase a mesma. Mas ambas têm parcerias com entidades que se encarregam de investir no meio ambiente. Na empresa inglesa, os US$ 55,84 (R$ 93,78) pagos por quem faz o trecho SP- Londres-SP vão para a hidrelétrica Faxinal dos Guedes, em Santa Catarina, que busca substituir a energia produzida por carvão na cidade.

Já a Continental tem parceria com a ONG Sustainable Travel International (ww.sustainabletravelinternatiobal.org), que arrecada fundos para ações de compensação.

JORNADA MAIS VERDE

Em cruzeiros e acampamentos, utilize produtos de higiene biodegradáveis, evitando a contaminação de mares e de rios Prefira vôos sem escalas e sem classe executiva. Estudos da Tufts University, de Estocolmo, indicam que aviões com classes diferenciadas produzem 1,5 vez mais CO2. Os trechos sem paradasproduzem duas vezes menos CO2 por milha.

Tente não usar o banheiro do avião (algo até possível em trechos curtos, como a ponte aérea).

Segundo estudo da China Southern Airlines, dar descarga em um avião que esteja a 9.144 metros do solo consome combustível suficiente para um carro rodar por quase 10 quilômetros.

Prefira vôos diurnos. Pesquisadores da Universidade de Leeds e Reading, na Inglaterra, constataram que 60% dos danos climáticos causados pelos aviões são provocados à noite.

Opte por cruzeiros em barcos menores. Os que poluem menos levam, no máximo, cem pessoas a bordo.

Alugue sempre carros menores, híbridos ou movidos a biodiesel. Atenção ao fazer as malas: não leve embalagens descartáveis. Evite jogar fora produtos que poderiam ser reaproveitados em locais que não disponham de serviço de reciclagem.

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