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Um vôo sobre a morte

Helicóptero faz pouso forçado ao ser atingido por tiro de fuzil e bala se aloja a 3 cm de passageiro


Antônio Werneck e Fábio Vasconcellos

Um vôo de helicóptero em dia limpo, de sol e céu de brigadeiro, quase acabou em tragédia para seis pessoas que seguiam na última sexta-feira do Rio para Ibitipoca, em Minas Gerais. Quando o grupo sobrevoava, por volta das 9h30m, a Vila Cruzeiro, no Complexo do Alemão, na Penha, a cerca de 500 pés de altitude (cerca de 160 metros a partir do ponto mais alto), a aeronave foi atingida por um tiro de disparado supostamente por um traficante. A bala perfurou a fuselagem, atingiu o tanque de combustível e se alojou no banco a cerca de três centímetros de um dos passageiros.

Logo que percebeu que o aparelho havia sido atingido, o piloto — não identificado — entrou em contato com a torre de controle do Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador, e foi autorizado fazer um pouso de emergência. No helicóptero, além do piloto, estavam o empresário Arthur Bahia; s mulher, a artista plástica Mucki Skowronski; o casal de empresários mineiros Renato e Cristina Machado; e a arquiteta Márcia Müller, segundo o blog de Lu Lacerda. Ninguém ficou ferido. O grupo decolou do heliponto da Lagoa Rodrigo de Freitas. A aeronave foi atingida no corredor aéreo chamado “perna do vento”, na rota Penha, quando esperava autorização dos controladores de vôo do Tom Jobimpara seguir viagem para Minas.

— Foi um pesadelo. Sentimos um forte impacto, seguido de um forte cheiro de queimado e combustível. Tivemos muita sorte porque o piloto foi de grande habilidade. Fiquei com muita vontade de abandonar o Rio, largar tudo e me mudar para outro estado, mas sou apaixonada pela cidade — disse Mucki.

‘Foram os 6 minutos mais longos que vivi’

Procurada, a Aeronáutica não retornou as ligações. Já a Secretaria de Segurança informou ontem que nenhuma operação foi realizada pela polícia no Complexo do Alemão na última sexta-feira. O órgão reconheceu que a Vila Cruzeiro tem traficantes fortemente armados e lembrou que operações para desarmar criminosos têm sido freqüentes. Para a secretaria, é possível (embora nenhum registro formal tenha sido feito) que o chefe de Polícia Gilberto Ribeiro, determine aos policiais da área a abertura de um inquérito para apurar tentativa d homicídio.

A arquiteta Márcia Müller contou que ela e Mucki foram contratadas para decorar a pousada do casa mineiro, em Ibitipoca. Márcia disse que, após o pouso forçado, todos seguiram viagem num avião peque para Minas.

— Tomamos um susto muito grande. Após o impacto, ficamos mudos, sem entender o que tinha acontecido. Quando o piloto disse que precisava fazer um pouso de emergência, ficamos preocupados.

Foram os seis minutos mais longos que vivi. Havia um cheiro forte de queimado. Só passava pela minha cabeça que a aeronave pudesse se incendiar ou que o motor parasse a qualquer momento. Seria uma tragédia, pois o helicóptero mataria muita gente — disse Márcia.

O pesquisador Moacyr Duarte, da Coordenação dos Programas de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em plano de emergência, disse que helicópteros podem ser derrubados com tiros de fuzil, mas somente quando pontos específicos da aeronave são atingidos. Se Moacyr, tiros em tanques de combustível não derrubam helicópteros, mas podem causar incêndios. E afirmou ainda ser importantíssimo que a polícia investigue quem atirou.

— Temos um tráfego aéreo bem menor que o de São Paulo. Temos também boas condições, mas a criminosos é preocupante. A polícia precisa descobrir se esse tiro que acertou o helicóptero foi uma bala perdida ou se foi proposital — disse Moacyr.

Ataques freqüentes

Nos últimos dois anos, pelo menos nove helicópteros civis (sem contar as aeronaves militares) foram atingidas por tiros no Rio. Apenas na região do Complexo do Alemão, de Ramos até a Penha, seis casos graves foram registrados pela Gerência Regional da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) nos primeiros meses de 2007. Este número, no entanto, pode ser maior. Pilotos de helicópteros reivindicam mudanças nas rotas do Rio — de responsabilidade do Estado-Maior da Aeronáutica — porque a maioria delas passa sobre favelas dominadas por traficantes que possuem armas de guerra.

A Região Metropolitana do Rio é dividida por 16 corredores aéreos de uso exclusivo de helicópteros. Segundo norma da Diretoria de Eletrônica e Proteção de Vôo da Aeronáutica, as aeronaves civis (helicópteros militares e da polícia seguem outra norma) devem voar a uma altitude mínima de 500 pés, a partir do ponto mais alto do solo; e máxima, de 2.500 pés. O problema é que nas rotas mais perigosas, as aeronaves só podem chegar a uma altitude de mil pés (cerca de 320 metros de altura, a partir do ponto mais alto). E uma bala de fuzil, segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO, pode atingir com precisão um alvo a uma distância de até 1.500 metros.

Apesar da freqüência, o único caso divulgado de morte em ataque de bandidos a helicópteros na cidade aconteceu, em novembro do ano passado, durante uma operação policial no Morro do Adeus, em Ramo Traficantes do Complexo do Alemão, que fica em frente ao Adeus, acertaram três tiros no helicóptero da Polícia Civil. O agente Eduardo Henrique de Matos, de 35 anos, da Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core), levou um tiro na cabeça e morreu.

Em Macaé, na região que concentra o maior tráfego aéreo de helicópteros do país (conseqüência das operações aéreas para as plataformas de petróleo), dois helicópteros, que seguiam do Aeroporto de Macaé para uma plataforma, foram atingidos em 2007.

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