Ullisses Campbell
O ano de 2007 ainda nem terminou e o Brasil já bateu o recorde em acidentes aéreos. De janeiro até a semana passada, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa) registrou 76 tragédias envolvendo aviões civis comerciais. Desde 1997, o país não registra tantos acidentes com aeronaves. “Esses números são preocupantes. O governo deveria aumentar a fiscalização porque há companhias aéreas que não operam com segurança”, ressalta o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Gilberto Salvador Camacho.
O número de mortes em acidentes aéreos também bateu recorde nos 10 primeiros meses deste ano. Foram 266 de janeiro a outubro. Nos últimos dois anos, 499 pessoas perderam a vida em tragédias aeronáuticas. “Essas estatísticas são alarmantes. É preciso repensar a segurança de vôo no Brasil. Há um déficit de controladores e a gente trabalha no limite”, avalia o presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Proteção de Vôo, Jorge Botelho.
O acidente mais recente ocorreu no último dia 4, matando oito pessoas. Um avião decolou do Campo de Marte, Zona Norte de São Paulo, com dois tripulantes a bordo, rumo ao Rio de Janeiro.
Minutos depois de levantar vôo, o jato caiu de bico sobre duas casas. Os imóveis ficaram destruídos. O avião também causou danos em duas casas vizinhas. Três dias antes, três helicópteros caíram em diferentes pontos de São Paulo, deixando, no total, três pessoas mortas e sete feridas. “A frota de avião no Brasil aumentou. É natural que aumente também o número de acidentes e mortes. Isso corre também com acidentes de carro”, justifica o professor de estatística Ronaldo Menezes da Costa, da Universidade de Brasília.
De fato o número de aviões cresceu no Brasil. Em 1998, havia no céu do país 10.178 aeronaves ativas, entre comerciais, militares e particulares. Hoje, há 11.201. “A tendência é que esse número aumente a cada ano porque está cada vez mais barato viajar. O governo também incentiva os brasileiros em campanhas da Embratur”, diz o presidente da Associação Brasileira de Proprietários de Aeronaves, José Carlos Maggi. Segundo ele, pelo menos 15 novos aviões são licenciados para voar mensalmente no país.
Segundo o Cenipa, dos 76 acidentes deste ano, 59 envolveram aviões e 19, helicópteros. O órgão faz ainda uma previsão de que acontecerão mais 10 acidentes aeronáuticos até o final do ano.
Essa projeção é feita com base nos dados históricos de novembro e dezembro do ano passado.
Pelos dados da Aeronáutica, no primeiro semestre deste ano, foram registrados 41 acidentes, sendo que em 37 deles houve mortos. A região campeã em incidentes aéreos é a Sudeste, que registrou 13 casos. No Nordeste, aconteceram 11 acidentes. O Norte vem em terceiro lugar, com sete. No Centro-Oeste e no Sul, foram registrados cinco em cada região. “O número de acidentes é maior no Sudeste porque a região concentra a maior parte da malha aeroviária do país”, explica o comandante Camacho.
Os táxis-aéreos respondem por 32% do total de acidentes da aviação civil no país.
Quedas no campo
No interior do país, os acidentes aéreos são subnotificados. Só no Pará, onde a população se desloca em aviões menores, o Sindicato dos Aeronautas registrou 56 casos em 2006. Esses números não aparecem no anuário estatístico da Aeronáutica. O uso das aeronaves na agricultura também registra índices preocupantes. Pelos dados do Centro Nacional de Investigações e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), desde 1990 já foram registrados 187 acidentes na aviação agrícola, causando a morte de 69 pessoas.
Na zona rural, a maior parte dos aviões é usada para borrifar agrotóxicos e para semear a terra.
“No interior, os acidentes acontecem principalmente por falta de manutenção nas aeronaves”, diz o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Gilberto Salvador Camacho.
Ele diz que a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não fiscaliza devidamente os aviões comerciais. “Na minha opinião, as empresas não fazem a manutenção devida nas aeronaves e, no interior, há muitos aviões clandestinos, principalmente na Amazônia”, ressalta Camacho.
Apesar dos recordes de acidentes e mortes, especialistas em aviação civil são unânimes em afirmar que o meio de transporte mais seguro continua sendo o avião. “Apesar de o tráfego aéreo estar cada vez mais intenso, a freqüência de acidentes envolvendo aviões comerciais continua baixa. O transporte aéreo registra média de 0,01 morte a cada 100 milhões de milhas viajadas, enquanto os carros somam 0,94”, compara o brigadeiro-do-ar Félix Costa Peixoto.(UC)