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Por que voar no Brasil virou um pesadelo?

Numa semana marcada por mais um ultimato do presidente Lula para que a crise aérea seja resolvida em definitivo no país, o comando da Aeronáutica afasta 14 controladores de vôo por insubordinação.

Fantástico

Por que voar no Brasil virou um pesadelo? Em entrevista exclusiva ao Fantástico, Christoph Gilgen, o controlador de vôo que comandou a comissão internacional que estudou o acidente com o avião da Gol, no ano passado, afirma: os equipamentos usados no controle do tráfego aéreo no Brasil são antigos e ineficientes.


Esta foi mais uma semana de muita tensão dentro dos aeroportos brasileiros. Filas imensas, vôos atrasados, passageiros muito nervosos. Esse é o lado visível da crise aérea que se arrasta há quase nove meses. Você vai ver conhecer mais um dos motivos pelos quais os controladores de vôo e o comando da Aeronáutica estão em pé de guerra.


Christoph Gilgen é controlador de vôos na Suíça. Também é representante da Federação Internacional de Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca), que tem mais de 50 mil associados em 130 países.


Após o choque entre o Boeing da Gol e o jatinho Legacy, a Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo pediu ajuda para a Ifatca. A organização internacional mandou, em outubro de 2006, 13 investigadores para o país. Christoph era um deles.


A visita resultou em um relatório que foi enviado para organizações, como a Federação Internacional de Pilotos e a Organização Internacional de Aviação Civil.

Nesta sexta-feira, ele recebeu a correspondente da TV Globo Sônia Bridi, no Centro de Controle de Aproximação do Aeroporto de Genebra, na Suíça.

Além de falar um pouco de português - ele é casado com uma brasileira - Christoph foi escolhido para vir ao Brasil por já ter participado da investigação de um outro acidente aéreo parecido com o da Gol.


Em 2002, dois aviões se chocaram no ar e caíram na Alemanha - 71 pessoas morreram.


"Infelizmente eu tenho experiência em casos de colisão aérea", diz Christoph.

Em 2006, o suíço passou uma semana dentro do principal centro do comando de vôos do Brasil, o Cindacta-1, em Brasília. Com base no que viu, Christoph critica seriamente o sistema usado no país para controlar o tráfego aéreo.


“Os rádios são muito velhos, o alcance deles não é suficiente para cobrir todos os setores que são controlados, por exemplo, pelo Centro-Brasília. Os radares também são antigos, mostram muitas imagens de fantasmas e outros alvos incorretos. Os radares não têm o alcance que deveriam, por isso existem pontos cegos onde você não vê os aviões. No geral achamos que o sistema é muito antigo, que são várias partes colocadas juntas sem uma idéia geral de como vai funcionar o conjunto”, analisa.


Christoph faz outro alerta, ainda mais grave. O programa de computador usado no Brasil para controlar os vôos tem uma falha séria.


“O senhor pode afirmar que o sistema X-4000 usado pelo controle de vôo contribuiu para o acidente?”


“Sim, sem dúvida. Em poucas palavras, eu posso afirmar que o software X-4000 contribuiu fortemente para a cadeia dos eventos que terminou com a colisão do avião Legacy com o Boeing da Gol”, confirma.


A explicação é técnica e Christoph prefere falar em inglês.


“O programa, sob certas condições, pode mudar automaticamente a altitude do sistema, sem que o controlador perceba. Então temos uma situação em que o controlador, que está no chão, e o piloto, que está voando, estão trabalhando com altitudes diferentes. É lógico que isso é muito perigoso - os controladores não podem garantir segurança nem separação das aeronaves. Infelizmente, como vimos no dia 29 de setembro, isso pode acabar da pior maneira possível, em uma colisão”, explica.


“Existe outro sistema de controle no mundo que muda automaticamente na tela a altitude de acordo com o plano de vôo sem que isso seja confirmado numa conversa entre o controlador e o piloto?”, pergunta a repórter.


“Não. Francamente, eu viajo muito e já tive o prazer de ver muitos Centros de controle no mundo, nos cinco continentes, na Austrália, África, nos Estados Unidos, Canadá. Nunca vi um sistema que permita essa mudança automática sem que o operador perceba essas coisas e tenha que correr atrás do sistema para poder achar o avião. É um comportamento bem estranho que eu nunca vi na minha vida”, afirma Christoph.


Uma noite de domingo com muitos passageiros no saguão do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Mas o movimento é considerado normal para o maior aeroporto do país. Há apenas um vôo atrasado e nove partidas foram canceladas no decorrer do dia.


Nos outros aeroportos do país, o domingo foi de poucas filas e muita calma. Em todo o Brasil, 5% dos vôos partiram com mais de uma hora de atraso.

De acordo com o presidente da Infraero, José Carlos Pereira, a origem dos problemas foi controlada e a situação deve permanecer tranqüila durante a semana. Mas ele alerta: a crise ainda não foi completamente resolvida


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