Vasconcelo Quadros
Brasil Digital
BRASÍLIA. Os pilotos comerciais estão irritados com o encaminhamento que vem sendo dado pelo governo à crise aérea e com a confusão de versões que vêm sendo divulgadas para tentar explicar a tragédia com o Airbus A-320 da TAM
Revoltados, mas contidos em decorrência do luto pelos colegas mortos, os pilotos vão iniciar um movimento para pressionar o governo por uma solução definitiva para a crise. Eles querem uma auditoria independente no sistema aéreo.
Os principais motivos da crise na aviação e da insegurança que tomou conta dos passageiros estão relacionados, segundo eles, à precária infraestrutura (as condições das pistas) do Aeroporto de Congonhas e à falta de informações confiáveis aos comandantes das aeronaves.
- Estão tirando o foco de onde ele precisa ficar. A questão de pousar ou não uma aeronave é uma gerência de risco que cabe ao piloto avaliar. O fato é que ele (o comandante do vôo 3054, Henrique Stephanini Di Sacco) não tinha as informações que as autoridades aeroportuárias deveriam fornecer com precisão, como os níveis de água na pista e de atrito - diz o assessor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Célio Eugênio de Abreu Júnior.
Segundo ele, as condições oferecidas por outros aeroportos, como Cumbica e Viracopos, tornam óbvia a constatação de que "alguma coisa falta em Congonhas" que as autoridades não haviam enxergado até a tragédia com o avião da TAM. Além de uma pista mais longa e, portanto, mais adequada a aviões de grande porte, Cumbica tem equipamentos de aproximação mais sofisticados, que permitem o pouso em condições de visibilidade bem mais reduzida do que em Congonhas.
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, a comissária Graziella Baggio, afirma que o principal pleito dos pilotos é a realização de uma auditoria externa que faça um diagnóstico real do sistema aéreo brasileiro e aponte as soluções de emergência e de longo prazo que precisam ser tomadas. Ela disse que as medidas anunciadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última sextafeira para Congonhas - redução de pousos, decolagens e de peso das aeronaves, proibição de uso da pista principal para vôos fretados, entre outras - já vinham sendo reivindicadas há vários anos pela categoria.
- O que precisamos com urgência é recuperar a credibilidade do sistema aéreo. Se tem falhas, elas precisam ser apontadas por uma auditoria independente, e solucionadas - afirma Graziella.
Ela lembra que uma das entidades internacionais credenciadas para esse tipo de trabalho, a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), fez o diagnóstico e apontou as soluções para restabelecer o sistema aéreo do Iraque depois da guerra.
- A crise não apareceu com o acidente da Gol e nem agora com o da TAM. Os dois acidentes apenas expuseram os problemas que já existiam há duas décadas - afirma.
Especialista em segurança de vôo, Abreu Júnior compara o sistema aéreo a um corpo humano debilitado.
- Se a pessoa tem colesterol alto, fuma e bebe, a probabilidade de sofrer um infarto é bem maior.
Ele chama a atenção para a necessidade de fazer um diagnóstico preciso sobre o setor aéreo.
- Os pilotos são auditados a cada seis meses pelas autoridades aeronáuticas e a todo momento pelos usuários. Somos a favor disso, mas quem audita as autoridades? - pergunta.