Pular para o conteúdo principal

Peritos detectaram fumaça em motor, diz presidente da Infraero

Nova versão da estatal inclui falha mecânica nas investigações do acidente; TAM havia negado essa hipótese

Análise partiu de filme da tentativa de pouso; fumaça pode indicar que motores estavam funcionando em sentidos contrários

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente da Infraero (estatal responsável pelos aeroportos), brigadeiro José Carlos Pereira, disse ontem que os peritos detectaram "fumaça forte" no motor esquerdo do Airbus-A320 da TAM no filme feito do avião durante sua tentativa fracassada de pouso na pista do aeroporto de Congonhas.

Essa fumaça, ainda segundo o brigadeiro, introduz um elemento novo no início das investigações do maior acidente da história da aviação brasileira, com cerca de 200 mortes: a possibilidade de falha mecânica no equipamento -algo que a direção da TAM nega.

Pereira, que está em São Paulo acompanhando investigações e discussões sobre as causas do acidente, ocorrido às 18h50 da última terça, explicou em linguagem leiga o que pode significar a fumaça anormal.

Segundo ele, os motores são acionados para trás quando da decolagem, para impulsionar o jato para frente. O fluxo é invertido quando ocorre o pouso, ajudando a frenagem. É o famoso "reverso", cujo defeito foi responsável pela queda do Fokker-100 da mesma TAM em Congonhas em 1996.

A fumaça pode indicar que os motores estavam funcionando em sentidos opostos, um impulsionando para frente e outro freando, o que explicaria, por exemplo, por que o piloto não conseguiu parar o avião, que continuou em velocidade bem alta depois de tocar o solo e girou para a esquerda ao final da pista, em vez de seguir reto.

Se confirmada, a hipótese enfraquece suspeitas de que o acidente esteja ligado a falhas na pista, que passou por reforma sob responsabilidade da estatal. Apesar de haver várias dúvidas ainda, o brigadeiro disse que está praticamente comprovado que o avião estava em velocidade acima do normal para pousos e que o piloto tentou desesperadamente arremeter (decolar de novo), sem sucesso.

"Vira"

O filme mostra claramente a diferença de velocidade entre o Airbus e outras aeronaves no mesmo espaço. Ele gasta três segundos para passar por um campo de visão de câmera no qual outro avião gasta 16.

O grito "vira, vira" que as autoridades aeronáuticas identificaram nos minutos finais do vôo reforçam também a possibilidade de que o avião, com uma turbina impulsionando para frente e outra em "reverso", tivesse girado à esquerda antes de se projetar sobre a avenida Washington Luís.

Com o avião dando a guinada à esquerda, um dos dois pode ter tido o impulso de gritar "vira", para tentar manter o prumo e continuar reto na pista -condição que seria essencial para arremeter com sucesso.

O próprio brigadeiro, porém, disse que os investigadores não descartam a hipótese de que os gritos tenham partido de outra aeronave que, ao ver a manobra inesperada e trágica do Airbus, tenham involuntariamente gritado, numa espécie de torcida para que o avião escapasse.

Os rádios muitas vezes ficam em aberto, com várias aeronaves na mesma sintonia e vozes sendo ouvidas pelas torres de controle e entre elas próprias.

Para o diretor-geral do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), o também brigadeiro Ramon Borges Cardoso, os pilotos têm as mãos ocupadas nos manches e controles de aceleração durante pousos e decolagens e ficam sem disponibilidade para acionar botões de rádio para conversar com os controladores em terra.

Tanto Pereira quanto Cardoso frisaram que suas declarações estão ainda no nível de hipóteses e que as caixas-pretas vão mostrar exatamente em que momento os pilotos decidiram parar e depois arremeter.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul