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As razões da tragédia

Avião teria tocado com trem de pouso em uma mureta, segundo a Aeronáutica, provocando o desequilíbrio

Afonso Morais e Pedro Paulo Rezende

Da equipe do Correio Braziliense

Dois dias depois do maior acidente aeronáutico do Brasil, a sociedade brasileira, perplexa e indignada com as mortes causadas pelo choque de um Airbus A-320 da TAM contra o depósito de cargas da própria empresa na Avenida Washington Luiz, em São Paulo, quer saber as causas reais da tragédia. A conclusão oficial deverá sair em 10 meses e, por enquanto, as opiniões dos especialistas se dividem. Para Carlos Camacho, diretor de segurança de vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, a maior falha estaria na ausência de áreas de escape nas cabeceiras da pista. “Se o aeroporto estivesse equipado com placas de concreto poroso em lugar de grama, o piloto necessitaria apenas desviar o avião para um dos lados da pista para pará-lo sem problemas. O concreto poroso cede com o peso do aparelho freando a aeronave”, comentou.

Na noite de ontem, a Aeronáutica divulgou um vídeo que comprova que o Airbus A-320 tocou o solo em velocidade acima da estabelecida operacionalmente. São imagens de dois vôos da TAM. O primeiro, em velocidade adequada à pista, leva 12 segundos para cruzar a tela. O segundo mostra que o aparelho acidentado levou apenas três segundos para cobrir o mesmo percurso. É um dos indícios colhidos pelos investigadores que apontam, segundo a Aeronáutica, a falha humana como a causa mais provável do maior acidente aéreo ocorrido no Brasil .

Segundo uma fonte da Aeronáutica ouvida pelo Correio, o Airbus “tocou no ponto certo, operou o freio, que não conseguiu parar o aparelho devido à velocidade excessiva, e tentou decolar acelerando o motor, perdendo a direção e cruzando parte do gramado lateral da pista. O reverso não estava operando.

Teria conseguido levantar vôo se não tivesse tocado com um dos trens de pouso na mureta que marca o terreno do aeroporto”. Com o choque, o jato se desequilibrou para a esquerda, atravessou a avenida Washington Luiz e entrou no prédio da TAM Express. Na hora do acidente, a pista não apresentava lâmina d’água, conforme o superintendente de engenharia da Infraero, Arnaldo Schneider Filho.

Entre as provas de que o piloto tentava um touch and go (decolar novamente), estaria a ausência de marcas na área gramada entre a pista de taxiamento e a mureta. Um representante do Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (SNEA), que participou ontem de uma vistoria em Congonhas realizada pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, confirmou que há evidências de que o avião tentou arremeter após tocar o solo. “O muro que fica na beira da pista realmente apresenta marcas do trem de pouso”, disse. A fonte pediu anonimato. Para ele, isso é indício de que o piloto teria tentado erguer a aeronave.

O representante do SNEA afirmou ainda que os técnicos encontraram marcas de frenagem na pista principal do aeroporto, mas que não há sulcos, o que sinalizaria a suposta derrapagem. “Os investigadores da comissão formada pela Aeronáutica estão entrevistando mecânicos, funcionários que trabalhavam na torre no momento do acidente e todos os envolvidos na parte operacional da TAM e do aeroporto de Congonhas”, relatou.

Outros especialistas, entretanto, apontam para falhas estruturais do aeroporto, como a ausência de grooving — ranhuras sobre a pista — no pavimento. Ele só será aplicado a partir do dia 26, porque exige um processo de cura de 30 dias do concreto asfáltico. A reforma na pista principal de Congonhas foi entregue no útlimo dia 29. O trabalho, então, só poderia ser feito no início de agosto.

Para o pesquisador de tráfego aéreo da Universidade de São Paulo (USP) Ítalo Romani de Oliveira, pelas imagens veiculadas nas redes de televisão ontem mostrando a hora em que o Airbus tocou a pista do aeroporto paulista, “é possível que tenha acontecido uma falha mecânica que induziu ao erro do piloto”. Apesar das recentes especulações, Romani acredita que o grooving seria importante para evitar a tragédia.

Em entrevista coletiva na tarde de ontem, o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, partiu em defesa da tripulação do vôo JJ 3054 e afirmou que os pilotos Kleyber Lima e Henrique Stephanini tinham grande experiência e eram treinados de acordo com os padrões internacionais de exigência. Lima trabalhava na companhia havia 20 anos. Stephanini somava quase 15 mil horas de vôo, mas tinha sido contratado pela TAM há sete meses e estava em período de avaliação.

Até o fechamento desta edição, 182 corpos já haviam sido resgatados. O total de vítimas pode chegar a 195. A lista de passageiros divulgada pela TAM mostra que o vôo JJ 3054 transportava 186 ocupantes, entre tripulantes, passageiros e funcionários da companhia aérea. À noite, o governador de São Paulo, José Serra, confirmou a morte de três pessoas que estavam no posto de gasolina, parcialmente destruído no acidente.

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