GABRIELA GUERREIRO
da Folha Online, em Brasília
O ministro da Defesa, Waldir Pires, minimizou nesta quarta-feira a crise no controle do tráfego aéreo do país. Ele atribuiu os problemas recentes no setor às falhas nos equipamentos e aos recursos humanos, numa referência indireta aos controladores de tráfego aéreo. O ministro considerou a crise como normal.
"Em países em desenvolvimento, essa é a rotina", afirmou, ao participar de audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir o caos aéreo.
Pires disse que o governo vai solucionar crise e que está aprimorando os diagnósticos para impedir novos atrasos nos vôos. "Os fatores são definidos ao meu juízo em procedimento de gestão que determinaram ocorrências. Não há por que deixarem de serem reordenadas e postas a serviço do povo brasileiro."
O ministro saiu em defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que há duas semanas desautorizou o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, a dar ordem de prisão para os controladores amotinados no Cindacta-1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília.
"Quando o presidente assume uma posição, ele assume como titular da soberania popular. Quando ele assume o comando supremo das Forças Armadas, ele tem o mandato oriundo de cada cidadão do Brasil. É a mais alta voz do Brasil, assume legitimamente."
Pires também disse que Lula agiu de forma correta ao designar o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) para negociar com os controladores e colocar fim ao motim ocorrido no fim de março --o mais grave do setor e que por, aproximadamente cinco horas, praticamente paralisou as decolagens no país. "Quando o presidente atribui diretamente a outros ordens de presença nas instituições, ele faz isso com legitimidade."
Participam também da audiência pública na Câmara dos deputados os presidentes da Infraero (estatal que administra os aeroportos), José Carlos Pereira, da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, além de Pires e Saito.
Crise
O pior episódio da crise ocorreu no dia 30 de março, quando controladores de tráfego aéreo paralisaram as atividades por cerca de cinco horas. O movimento começou no Cindacta-1 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo), em Brasília, e se espalhou para outras regiões do país.
Na ocasião, o governo federal chegou a firmar um acordo com os amotinados, mas recuou. Eles, agora, são investigados por suspeita de insubordinação.
Desde o final do ano passado, passageiros enfrentam constantes atrasos e cancelamentos de vôos. Inicialmente, os problemas foram causados pela operação-padrão dos controladores, que restabeleceram à força parâmetros internacionais de segurança. O Cindacta-1 sofria com a falta de controladores, pois alguns tinham sido afastados pelas investigações sobre a queda do Boeing da Gol, ocorrida em setembro.
Depois, falhas em equipamentos passaram a contribuir para aumentar a espera nos aeroportos. Desde março, o aeroporto de Congonhas (zona sul de São Paulo), um dos maiores do país, pára sempre que chove forte, pois a pista auxiliar está fechada para reformas e a principal tem graves problemas de escoamento.