Ex-jornalista político descobriu por acaso a capacidade de encontrar pechinchas aéreas, e hoje comanda um site especializado com mais de um milhão de assinantes
Guillermo Arenas | El País
Vestindo roupa cômoda e com uma mochila pendurada no ombro, Scott Keyes poderia se camuflar sem problemas entre os milhares de turistas que visitam Madri. Entretanto, uma simples pergunta – “Quantos aviões você pega por ano?” – revela um viajante contumaz. “Posso lhe mostrar”, responde. “Tenho um diário de viagens onde anoto cada voo. Atualmente a média está entre 50 e 60”, explica, mostrando a tela do seu celular. Um gráfico revela um enorme pico em 2015, quando superou cem voos. “Sim, foi um bom ano. Muitos quilômetros!”, exclama com satisfação. Porque, aos 30 anos, o norte-americano Keyes conseguiu o sonho de quase todo mundo: viver da sua paixão. Mesmo que essa paixão seja mergulhar na Internet em busca de passagens aéreas.
Scott Keyes | Reprodução |
Keyes é o cofundador e executivo-chefe do site Scott’s Cheap Flights (“voos baratos do Scott”), que foi criado em 2015 como um boletim distribuído via e-mail com as pechinchas que ele garimpava na rede mundial de computadores. Atualmente, supera um milhão de usuários. “Tenho uma habilidade muito estranha”, reconhece, “algo com que nem eu mesmo achava que poderia ganhar a vida”. Porque o contador de milhas de Scott começou a girar por puro acaso. “Trabalhava como jornalista, sobretudo no site Think Progress, e escrevia sobre política, mas o que realmente gostava era de viajar”, recorda.
“Comecei a procurar passagens em sites, a comparar preços, e me dava bem.” Até que, num dia de 2013, encontrou o equivalente ao Santo Graal dos viajantes sem dinheiro. “A melhor ocasião com que topei na vida: uma viagem de Nova York a Milão, sem escalas, por 130 dólares [430 reais, pelo câmbio atual]. Eu nem acreditava!”, conta, orgulhoso. “Era mais barato do que voar para a casa dos meus pais em Ohio.”
Ao voltar de Milão, os amigos de Keyes começaram a lhe pedir que procurasse voos para eles. Compartilhava seus achados por e-mail, e o boca a boca começou a crescer. “As pessoas contavam para as outras, parecia um clube clandestino. De repente éramos 50, depois 100…, até que vi que existia uma demanda”, conta. Decidiu largar o jornalismo – “Fico contente de ter feito isso bem agora”, admite, referindo-se à atual situação política de seu país – e começou a queimar as pestanas diante de um monitor. “Teve épocas em que passava 14 horas por dia procurando voos. Parava para dormir e tomar banho. Muitas vezes comia na frente do computador.” Atualmente, comanda uma equipe de 25 pessoas que se alternam para encontrar essas oportunidades. “Às vezes as melhores pechinchas surgem no meio da noite.”
Fruto da habilidade e do acaso, o negócio de Keyes se nutre da compreensão de um maquinário tão pouco previsível como a das tarifas aéreas. “Ninguém sabe quanto se supõe que um voo deve custar, é um setor esquisito, mas há truques e padrões que podem ser descobertos”, diz. Outras vezes se aproveitam de erros humanos – “As companhias aéreas devem nos odiar de vez em quando, embora também lhes ajudemos a vender seus assentos”, comenta, rindo. Foi o caso da viagem inaugural a Milão. “Certamente foi uma falha. Alguém se esqueceu de acrescentar um zero no final.”
Em troca de uma modesta assinatura, os usuários do Scott's Cheap Flight se beneficiam disso recebendo por e-mail a possibilidade de viajar a um custo muito menor que o habitual. “Por mais que eu goste da busca pelo voo perfeito, essa é a parte que mais gosto”, admite Keyes. “Gente que me diz que achava não ter dinheiro suficiente para a viagem de lua de mel e que poderá fazê-la, ou gente que pode usar isso para visitar sua família.”
A vocação acidental de Keyes também o levou a outras situações inesperadas. Em 2017 completou uma volta ao mundo em menos de sete dias, com um orçamento inferior a 4.000 reais, cumprindo um desafio feito pela marca de moda Dockers, com a qual colabora na campanha #GameChangersbyDockers. “Foi muito divertido, como montar um quebra-cabeça. Pode parecer um pouco estranho, mas essa é minha ideia de diversão”, afirma. E também, obviamente, de continuar viajando. “Sempre existe essa tentação de ir um passo à frente do resto dos viajantes”, diz. Suas apostas como os próximos destinos da moda se dividem entre os países bálticos (“Lituânia, Letônia, Estônia… têm uma surpreendente mistura de estilos”), Taiwan (“uma beleza natural incrível”) e sua nova obsessão: ilhas remotas. “Socotra, por exemplo: um pequeno arquipélago na costa do Iêmen. É do outro mundo.” Não, Keyes ainda não se cansou de embarcar em aviões e ajudar os outros a fazerem o mesmo. “Ainda resta muito mundo para ver”, conta, antes de se perder no inverno madrilenho.
Ao voltar de Milão, os amigos de Keyes começaram a lhe pedir que procurasse voos para eles. Compartilhava seus achados por e-mail, e o boca a boca começou a crescer. “As pessoas contavam para as outras, parecia um clube clandestino. De repente éramos 50, depois 100…, até que vi que existia uma demanda”, conta. Decidiu largar o jornalismo – “Fico contente de ter feito isso bem agora”, admite, referindo-se à atual situação política de seu país – e começou a queimar as pestanas diante de um monitor. “Teve épocas em que passava 14 horas por dia procurando voos. Parava para dormir e tomar banho. Muitas vezes comia na frente do computador.” Atualmente, comanda uma equipe de 25 pessoas que se alternam para encontrar essas oportunidades. “Às vezes as melhores pechinchas surgem no meio da noite.”
Fruto da habilidade e do acaso, o negócio de Keyes se nutre da compreensão de um maquinário tão pouco previsível como a das tarifas aéreas. “Ninguém sabe quanto se supõe que um voo deve custar, é um setor esquisito, mas há truques e padrões que podem ser descobertos”, diz. Outras vezes se aproveitam de erros humanos – “As companhias aéreas devem nos odiar de vez em quando, embora também lhes ajudemos a vender seus assentos”, comenta, rindo. Foi o caso da viagem inaugural a Milão. “Certamente foi uma falha. Alguém se esqueceu de acrescentar um zero no final.”
Em troca de uma modesta assinatura, os usuários do Scott's Cheap Flight se beneficiam disso recebendo por e-mail a possibilidade de viajar a um custo muito menor que o habitual. “Por mais que eu goste da busca pelo voo perfeito, essa é a parte que mais gosto”, admite Keyes. “Gente que me diz que achava não ter dinheiro suficiente para a viagem de lua de mel e que poderá fazê-la, ou gente que pode usar isso para visitar sua família.”
A vocação acidental de Keyes também o levou a outras situações inesperadas. Em 2017 completou uma volta ao mundo em menos de sete dias, com um orçamento inferior a 4.000 reais, cumprindo um desafio feito pela marca de moda Dockers, com a qual colabora na campanha #GameChangersbyDockers. “Foi muito divertido, como montar um quebra-cabeça. Pode parecer um pouco estranho, mas essa é minha ideia de diversão”, afirma. E também, obviamente, de continuar viajando. “Sempre existe essa tentação de ir um passo à frente do resto dos viajantes”, diz. Suas apostas como os próximos destinos da moda se dividem entre os países bálticos (“Lituânia, Letônia, Estônia… têm uma surpreendente mistura de estilos”), Taiwan (“uma beleza natural incrível”) e sua nova obsessão: ilhas remotas. “Socotra, por exemplo: um pequeno arquipélago na costa do Iêmen. É do outro mundo.” Não, Keyes ainda não se cansou de embarcar em aviões e ajudar os outros a fazerem o mesmo. “Ainda resta muito mundo para ver”, conta, antes de se perder no inverno madrilenho.