Azul é a terceira empresa a estrear na bolsa paulista neste ano. De 2014 a 2016 foram apenas 3 aberturas contra 25 fechamentos de capital.


Por Darlan Alvarenga | G1


Depois de 3 anos de represamentos e desistências de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o mercado de ações brasileiro começa a ensaiar uma retomada com uma nova leva de de empresas que estão abrindo o seu capital e se listando na B3 – novo nome da bolsa paulista após a fusão da BMF&Bovespa com a Cetip.

Azul é a terceira empresa a abrir capital na bolsa de valores paulista em 2017 (Foto: Divulgação)
Azul é a terceira empresa a abrir capital na bolsa de valores paulista em 2017 (Foto: Divulgação) 

De 2014 a 2016, apenas três IPOs foram feitos no Brasil (Ourofino, Par Corretora e Alliar) em meio à maré baixa da economia, enquanto 25 empresas saíram do mercado de ações. Os registros de cancelamento, chamados de ofertas públicas de aquisição (OPAs), bateram recorde em 2016. Foram 13, entre eles os da Arteris, Banco Sofisa, Alpargatas e Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul.

Em 2017, com o início das negociações de ações da Azul na Bolsa, já são 3 IPOs no ano – igualando o número de aberturas de capital registrado nos últimos 3 anos.

A oferta de ações na bolsa de valores é um dos caminhos das empresas para se capitalizarem e conseguirem financiar sua expansão ou pegar recursos para pagar dívidas mais caras, por exemplo. Na prática, os sócios cedem uma parte da empresa a investidores em troca de capital.

Três ofertas


Depois de 3 tentativas abortadas, a Azul conseguiu levantar R$ 2,02 bilhões na sua oferta inicial de ações. Até então, os IPOs da Smiles (R$ 1,13 bilhão) e do BB Seguridade (R$ 11,47 bilhões), ocorridos em abril de 2013, tinham sido os últimos a ter superado a marca de R$ 1 bilhão em recursos captados.

Somados, os IPOs da Azul, da locadora de veículos Movida (R$ 600 milhões) e da rede de laboratórios médicos Hermes Pardini (R$ 877 milhões) movimentaram R$ 3,49 bilhões este ano.

O número ainda está longe da marca de R$ 17,29 bilhões registrada em 2013 ou do recorde de R$ 55,6 bilhões movimentados em 2007, quando foram registrados 64 IPOs, mas a expectativa do mercado é que ao menos outras 3 ofertas iniciais de ações ocorram até o final do ano, podendo movimentar mais de R$ 6 bilhões, em meio à perspectiva de retomada da economia e queda gradual dos juros.

Próximos IPOs

"Após o movimento de valorização do Ibovespa no ano passado, as empresas voltaram a se sentir encorajadas a buscar dinheiro dentro da bolsa através de IPOs e este é um indicador que a economia começa a esboçar algum tipo de reação", afirma Alexandre Wolwacz, sócio-fundador da L&S.

A consultoria de investimentos projeta um total de 6 novas listagens de empresas neste ano. "Se a bolsa continuar forte e a economia continuar na trajetória de recuperação, talvez para o ano que vem poderemos ter algo bem maior, em torno de 8 ou 9”.

O Carrefour afirma que avalia abrir capital no Brasil ainda este ano "se as condições do mercado permitirem". Outro IPO à vista é o da Log Commercial Properties, subsidiária de propriedades comerciais controlada pela incorporadora MRV, que já registrou o prospecto preliminar da sua oferta de IPO na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Empresas como Votorantim Metais (conhecida como VMH) e N2com Internet SA (conhecida pela marca de varejo online Netshoes) também estão avaliando IPOs no Brasil ou no exterior, segundo a agência Reuters. Outras potenciais ofertas esperados pelo mercado são os da corretora XP Investimentos e da rede de academias Bio Ritmo.

Algumas empresas que tinham interesse em estrear na bolsa este ano, no entanto, desistiram de fazer ofertas. Em fevereiro, a empresa de aluguel de veículos Unidas cancelou o IPO previsto para este ano, citando condições desfavoráveis de mercado. Já a Caixa Seguridade afirmou que o IPO saiu dos planos de curto prazo e pode não acontecer mais em 2017.

Ao todo, 12 pedidos de abertura de capital (primeiro passo para um eventual IPO) já foram registrados na CVM neste ano. Após o pedido de companhia aberta, elas precisam fazer o registro da oferta de ações para efetivamente entrarem na bolsa.

Entre as empresas com pedido de abertura de capital em análise estão: WSL Investimentos, Conasa, Brasil Securitizadora, Companhia Energética Sinop, Argo Energia, concessionária Ponte Rio-Niterói (Ecoponte) e BMG.

Vantagens de um IPO

O ingresso em Bolsa de Valores é uma forma das empresas captarem recursos para alavancar investimentos e buscarem crescimento. Outras formas são a emissão de títulos de dívida no brasil ou no exterior, ou empréstimos concedidos por bancos de fomento, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES).

Uma das principais vantagens do IPO em relação às outras formas de captação como títulos e debêntures é que, no lugar de comprometer um fluxo de caixa de longo prazo para o pagamento de juros, a empresa consegue levantar recursos em troca da entrada de novos sócios no seu capital e da pulverização do controle.

“O IPO é uma das maneiras mais atraentes para o empresário captar dinheiro pois o custo deste capital é baixo, pois não existe uma taxa de juros a ser paga. O que existe obviamente é um risco para os dois lados, de prejuízos e também de bons lucros", explica Wolwacz.

O especialista em Mercado de Capitais da Eleven Financial, Adeodato Volpi Netto, destaca que os investidores estrangeiros costumam ser os principais compradores das IPOs e que, portanto, a abertura de capital é fortemente dependente do apetite externo e da confiança na economia brasileira.

"O momento é muito mais favorável. A retomada tem nível consistente, se levarmos em consideração o estrago feito na economia e o ineditismo de um modelo de gestão na política econômica que realmente tem foco no longo prazo. O excesso de liquidez global também ajuda muito", afirma Netto.

Retomada no mercado de capitais

Considerando as ofertas subsequentes de ações (CCR, Lojas Americanas e Alupar), as captações com ações chegaram a R$ 8 bilhões no 1º trimestre, o que corresponde a 75% do montante captado em todo o ano de 2016. Pela projeção da Eleven, a movimentação pode passar de R$ 22 bilhões em 2017, ante R$ 10,6 bilhões no ano passado.

Nesta terça-feira (11), antes da abertura dos negócios com as ações da Azul, o presidente da B3, Edemir Pinto, afirmou que a bolsa espera cerca de 17 ofertas de ações, entre IPOs e emissões subsequentes (follow ons), até o final deste ano, totalizando cerca de R$ 25 bilhões. "Podemos ter avalanche de investidores estrangeiro no segundo semestre", disse o executivo.

O economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, cita a queda da Selic e a nova política de financiamento do BNDES como impulsos adicionais para o mercado de ações.

Na semana passada, o mercado financeiro baixou sua previsão para a taxa básica de juros da economia, a Selic, de 8,75% para 8,5% ao ano no fechamento de 2017 - ou seja, passou a projetar um corte maior de juros neste ano. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano.

"Olhando a situação política, hoje talvez não seria o melhor momento. Mas o mercado de capitais costuma antecipar a retomada da economia e as condições estão propiciando a volta de IPOs", afirma. "Com os juros dos financiamentos do BNDEs mais próximos das taxas de mercado e não tão subsidiado, as grandes empresas que querem ter volume de operações para captar recursos vão ter que partir para o IPO".

Recuperação da Bovespa

Hoje, a BM&FBovespa tem 338 companhias de capital aberto listadas, que em março somaram R$ 2,65 trilhões em valor de mercado. Esse número passava de 400 em 2008.

A Bovespa acumula valorização de cerca de 7% no ano, após ter registrado alta de 39% no ano passado, na primeira valorização anual desde 2012 e a maior alta desde 2009. Apesar da trajetória de recuperação, o Ibovespa, principal índice de ações no país, ainda está bem longe das máximas históricas. O patamar recorde foi registrado em 20 de maio de 2005, quando o índice chegou a 73.516 pontos.

Já o número de investidores individuais pessoas físicas subiu de 564 mil no final de dezembro para 575 mil em março, mas segue abaixo do pico de 610 mil registrado em 2010. Os investidores estrangeiros responderam por cerca de metade do volume financeiro movimentado na Bovespa.

Para o economista-chefe da INVX Global Partners, Eduardo Velho, o cenário continua sendo favorável para o mercado de ações, apesar do inerentes riscos.

"Com o juro real caminhando a 4%, 3% e podendo chegar a 2%, vai ter um deslocamento natural dos investidores para ações, principalmente na medida em que a alta dos juros nos EUA tende não ser tão forte assim", avalia.

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