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Os crimes das malas

O extravio e o furto de bagagens popularizaram o serviço de envelopamento de malas, e as empresas disputam espaço para operar nos maiores aeroportos brasileiros

Marcelo Sakate | Veja


A cada ano, 26 milhões de bagagens são danificadas, furtadas ou extraviadas em aeroportos em todo o mundo. Em um voo com 300 passageiros, três terão algum tipo de problema com a bagagem. É um transtorno para quem viaja e um custo elevado para as companhias, que, no ano passado, gastaram 2,6 bilhões de dólares com indenizações e despesas adicionais. As conexões são as grandes vilãs e respondem por metade dos casos de extravio e furto. Para reduzir esse custo, as empresas e os aeroportos investiram em tecnologia. Equipamentos rastreiam as malas do momento do check-in até que sejam retiradas na esteira do aeroporto de destino. Aplicativos permitem ao passageiro saber onde se encontra a bagagem. Os passageiros ficaram mais precavidos. As vendas de malas rígidas, mais resistentes, ganharam espaço na preferência do consumidor. Nos Estados Unidos, depois dos atentados de 11 de setembro, o órgão responsável pela segurança em aeroportos desenvolveu um modelo de cadeado que pode ser aberto com uma chave universal, o TSA, evitando a quebra em caso de suspeita de conteúdo ilegal.

Outro serviço que se popularizou é o de lacrar a mala com um filme plástico, presente em mais de setenta países. Segundo as empresas aéreas, o recurso é eficiente na redução dos danos à bagagem e inibe os furtos. No Brasil, 300.000 malas são envelopadas por ano, ao preço de 40 reais. A técnica tem dois brasileiros entre os seus pioneiros. Depois de um voo de São Paulo para Madri, em 1989, o advogado Paulo Cesar Fabra descobriu, ao abrir a mala no hotel, que havia sido furtado — e pela segunda vez. Depois desse episódio, ele e um amigo, Sergio Cassettari, buscaram desenvolver uma máquina para lacrar a mala com um filme plástico. Na mesma época, o serviço passou a ser oferecido nos Estados Unidos, mas com outra técnica de embalagem. Fabra e Cassettari começaram a oferecer o serviço no Aeroporto de Guarulhos, em caráter experimental. No primeiro dia, embalaram só uma mala.

Mas insistiram na ideia, registraram a patente no Brasil e criaram a Protec Bag. Em três meses, as vendas reagiram. Nos quinze anos em que vigorou a proteção da patente, a empresa dominou esse mercado no país.

Hoje a competição é acirrada. Nos últimos anos, a Protec Bag perdeu espaço para a italiana TrueStar nos principais aeroportos brasileiros. A disputa pelos pontos envolve denúncias de irregularidades e contratos inflacionados. No ano passado, para ganhar o direito de operar no Galeão, a TrueStar ofereceu pagar à Infraero 132.000 reais por mês, mais que o triplo da segunda melhor proposta. 


Em Florianópolis, a sua oferta foi dez vezes o montante que o contrato anterior estipulava. O grupo italiano alega que os valores de contrato no Brasil estavam abaixo dos praticados em outros países. Para Fabra, os valores são irreais e chegam a superar o faturamento obtido naqueles pontos.

A Infraero acabou abrindo uma investigação. A auditoria constatou que a TrueStar vendia seguros contra extravio ou dano à bagagem sem a autorização da Superintendência Nacional de Seguros Privados (Susep). O órgão recomendou que a empresa fosse multada em 10,6 bilhões de reais pela infração. A defesa apresentada pela companhia está sendo analisada. A Infraero também concluiu que a TrueStar foi favorecida pela renovação de seu contrato com o Aeroporto de Guarulhos, em 2011.

Além disso, em Brasília e em Congonhas o grupo italiano ocupava áreas maiores do que as previstas em contrato. No aeroporto paulista, os equipamentos de embalagem invadem a calçada do terminal. O relatório da Infraero, concluído em março de 2012, ainda não teve consequências. A estatal informou que a apuração ainda está em curso.

A briga fora dos terminais pelo domínio do mercado não é privilégio brasileiro. No Aeroporto de Miami, a TrueStar teve a vigência de seu contrato reduzida depois de a empresa ter pedido uma redução nos valores pagos para explorar o serviço. Houve nova licitação, e os italianos perderam para uma concorrente americana, a Safe Wrap.

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