Gustavo do Vale, da Infraero: "Antes, tínhamos muita receita e pouca obra, e agora, temos muita obra e pouca receita"
De Goiânia
Às vésperas de perder o controle dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), a Infraero deverá receber uma capitalização recorde no ano que vem, a fim de sustentar os investimentos em sua rede. O governo já deu aval a um aporte de quase R$ 2 bilhões à estatal e incluiu essa previsão na proposta de lei orçamentária de 2014, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Esses recursos são cruciais para garantir a continuidade dos investimentos nos aeroportos que continuam sob controle da União, segundo o presidente da Infraero, Gustavo do Vale. "Antes, tínhamos muita receita e pouca obra. Agora, temos muita obra e pouca receita", diz o executivo.
Pela proposta orçamentária, a previsão do Ministério do Planejamento é que a Infraero receba um aporte recorde de R$ 1,969 bilhão em 2014, dos quais R$ 1,669 bilhão vão para investimentos em terminais administrados pela estatal. Outros R$ 300 milhões serão destinados a integralizar o capital acionário das concessionárias privadas dos aeroportos, nos quais a Infraero detém participação de 49% e precisa aplicar recursos para não perder sua fatia a outros acionistas.
O futuro aporte demonstra como a empresa tem ficado dependente do Tesouro Nacional para caminhar. Os três aeroportos concedidos no ano passado - Guarulhos, Viracopos e Brasília - representavam 36% de suas receitas totais. Agora, o Galeão e Confins significam 23% de toda a arrecadação que restou. Com mais essa perda, a própria Infraero teme sair do azul e registrar prejuízo operacional. "Queremos levar o custeio da empresa com as nossas pernas e estamos nos reestruturando para conseguir isso. Para investir, vamos precisar do Tesouro e do FNAC [Fundo Nacional de Aviação Civil]", explica Vale.
Este ano, depois de ter perdido o controle de seus três primeiros aeroportos, a empresa já recebeu aporte significativo do Tesouro. Foram R$ 915 milhões até agora. Espera-se o repasse de mais R$ 799 milhões até o fim do ano. Isso tem sido necessário, segundo Vale, para sustentar um programa recorde de investimentos nos terminais geridos pela Infraero. Há obras importantes de ampliação em andamento em Manaus, Fortaleza, Florianópolis, Curitiba, Cuiabá e Foz do Iguaçu.
Ontem, em Goiânia, a Infraero comemorou uma vitória com sabor especial: depois de seis anos e meio parada, em meio a problemas com o Tribunal de Contas da União (TCU), a obra do novo terminal de passageiros finalmente teve ordem de serviço para recomeçar. Cerca de 30% dos serviços foram feitos. Mas o "esqueleto" do terminal, às margens da rodovia BR-153, havia se tornado um símbolo da paralisia dos investimentos públicos. Por determinação do TCU, que bloqueou pagamentos às empreiteiras responsáveis pela obra após ter detectado indícios de sobrepreço, estava tudo parado desde abril de 2007.
Envolvido pessoalmente nas negociações, Vale conseguiu aval do órgão de controle para dar sequência à obra, que será tocada por um consórcio formado por Odebrecht e Via Engenharia. Ao todo, serão investidos R$ 246 milhões nas novas instalações, com prazo de 18 meses para a execução dos trabalhos. O novo terminal de Goiânia terá capacidade para 5,1 milhões de passageiros por ano, na primeira etapa, quase 50% superior à existente hoje.
Vale acredita que as obras do aeroporto de Vitória, paradas desde 2008, também poderão ser retomadas nos próximos meses. Ele pretende apresentar o novo projeto executivo de engenharia ao TCU, em novembro, para buscar o reinício da construção.