MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO - FOLHA DE SP
Com uma menor oferta de assentos e preços mais altos, o movimento de passageiros domésticos nos aeroportos brasileiros administrados pela Infraero encolheu 2,9% em dezembro, na comparação com dezembro de 2011.
Levantamento feito pela Folha com dados da Infraero mostra que este foi o pior desempenho para o mês de dezembro desde 2004. Foi também a única retração mensal de 2012. No ano, o setor cresceu 6,9%.
"A desaceleração é resultado direto da política de redução de oferta e aumento de tarifa", diz o consultor da Lunica, Lucas Arruda.
Em dezembro de 2008, imediatamente após o estouro da crise financeira internacional, a demanda no mercado doméstico encolheu 2,21%. Mas já no ano seguinte essa queda foi compensada, com alta de quase 30% em dezembro de 2009 sobre o mesmo mês em 2008.
Diferentemente do fim de 2008, em que a causa foi a crise financeira, a retração em dezembro passado se explica pela crise de Gol e TAM, donas de quase 80% do mercado. Só a Gol teve mais de R$ 1 bilhão de prejuízo de janeiro a setembro.
As duas líderes encolheram a oferta de assentos ao longo do ano e, nos últimos meses, vêm promovendo reajustes em suas cestas de tarifas numa tentativa de recompor o choque de custos provocado pela alta do combustível e do dólar.
A redução da oferta de assentos tem ajudado as empresas a aumentar a taxa de ocupação, que ficou em 77,76% em dezembro, um recorde, segundo a Abear, a associação das empresas aéreas.
O consultor técnico da Abear, Adalberto Febeliano, diz que dezembro "não foi tão ruim" e que o volume de passageiros pagos por quilômetro (RPK) aumentou 2,67% em dezembro, na comparação com igual mês de 2011. O dado oficial de RPK deve ser divulgado na semana que vem pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Indicador de demanda, o RPK mede o número de passageiros pagantes multiplicado pela distância de voo total. Por isso, ele pode subir mesmo com redução no volume de passageiros transportados.
A alta do RPK em dezembro, inferior à metade do crescimento anual do setor, é explicada, segundo Febeliano, pelo fato de que a malha de voo das companhias, implementada após o corte de oferta, privilegia voos de duração mais mais longa. Segundo a Abear, apesar de ter transportado menos gente, as empresas faturaram mais, com tarifas mais altas e voos de maior duração.