Do UOL, em São Paulo
A fabricante americana de aviões Boeing anunciou nesta sexta-feira (19) que havia suspendido temporariamente a entrega de seus aparelhos 787 Dreamliner, à espera de que uma solução para seus problemas de bateria seja validada pelas autoridades americanas, mas informou que a produção será mantida.
"A produção dos 787 continua. Não vamos entregar 787 até que a FAA (Autoridade Federal de Aviação americana) aprove um meio "para restabelecer a autorização de voo das aeronaves, que foram mantidas em terra desde a quarta-feira (16)" e que a solução aprovada seja aplicada", disse um porta-voz do grupo.
As 49 unidades do modelo 787 que a Boeing entregou até agora a companhias aéreas nos EUA, Japão e Europa não serão usadas até que se descubra a causa dos seis problemas técnicos registrados nas últimas duas semanas.
O 787 sofreu uma série de avarias, a última delas obrigou um avião da companhia aérea japonesa ANA a fazer um pouso de emergência na quarta-feira (16) em Takamatsu, Japão, após a detecção a bordo de fumaça e de um forte odor proveniente de uma bateria de lítio situada no compartimento elétrico.
A Boeing recebeu até agora 848 encomendas do modelo 787 e em novembro aumentara sua capacidade de produção para cinco unidades por mês, esperando elevar esse número a dez unidades mensais até o fim do ano.
Suspensão dos voos
A Autoridade Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) determinou a suspensão, no mundo todo, dos voos com o modelo Boeing 787 Dreamliner, após seis incidentes envolvendo a aeronave em menos de dez dias.
"É uma decisão pouco frequente", declarou um porta-voz da agência de segurança aérea europeia, destacando que apenas o país de fabricação da aeronave pode tomar uma decisão semelhante em nível mundial. Segundo o jornal "Wall Street Journal", é a primeira vez em 40 anos que os reguladores dos EUA adotam uma medida do tipo.
Antes de voltarem a operar com o modelo, as companhias aéreas devem demonstrar que as baterias são seguras, informou a agência norte-americana em comunicado. "A FAA vai trabalhar com o fabricante e as operadoras para desenvolver um plano de ação corretiva para permitir que a frota de 787 possa voltar a operar da forma mais rápida e segura possível."
A companhia americana Boeing, que aposta no modelo para competir com a Airbus, assegurou, na quarta-feira (16), que a segurança dos passageiros é sua "máxima prioridade", e se comprometeu a colaborar com as investigações sobre os incidentes. Em comunicado, o presidente da Boeing, Jim McNerney, disse que a companhia está trabalhando "contra o relógio" com os clientes e diversas autoridades reguladoras.
Na sexta-feira (11), o Departamento de Transportes dos EUA anunciou que faria uma ampla revisão nos sistemas críticos da aeronave, incluindo design, manufatura e montagem. Na quarta (16), as autoridades aéreas indianas imobilizaram os Boeings 787 da Air India em Boston.
No mesmo dia, as japonesas All Nippon Airways (ANA) e Japan Airlines (JAL) anunciaram a suspensão temporária das operações com seus Boeing 787. As duas possuem 24 aviões do modelo -- quase metade dos 49 operacionais no mundo todo --, e realizaram revisões das baterias e dos condutores de combustível de suas frotas sem detectar anomalias. A decisão foi copiada pela LAN Chile, que suspendeu temporariamente a operação dos três Boeing 787 que possui.
Série de incidentes
No último incidente registrado, uma aeronave da ANA que fazia o voo entre Tóquio e Ube teve que desviar de sua rota para aterrissar, às 8h45 locais (21h45 de Brasília), 35 minutos depois da decolagem.
A aeronave levava 129 passageiros e oito tripulantes a bordo, e ninguém ficou ferido, segundo o Ministério dos Transportes.
"Durante o voo, o comandante observou um alerta de falha procedente de uma bateria", revelou um porta-voz da ANA.
Histórico de falhas no modelo
No dia 7, em Boston, um 787 da Japan Airlines (JAL) proveniente do Japão teve um princípio de incêndio em terra. No dia seguinte, outro voo da JAL que partia de Boston foi atrasado por um vazamento de combustível.
No último dia 9, um voo da All Nippon Airways realizado por outro Boeing 787 foi cancelado no país asiático por causa de um problema nos freios.
Na sexta-feira, também no Japão, dois incidentes aconteceram a bordo de dois Boeing 787 da ANA: um voo foi cancelado por causa de uma rachadura no vidro da cabine, e outro foi atrasado por causa do vazamento de óleo.
Modelo fez primeiro voo comercial em 2011
Reguladores dos EUA levantaram dúvidas sobre a confiabilidade do 787 em longas rotas transoceânicas, publicou o jornal "Wall Street Journal".
O Dreamliner é o primeiro avião do mundo construído com compósitos de carbono e possui preço de tabela de US$ 207 milhões.
O modelo fez seu primeiro voo comercial no final de 2011, depois que uma série de atrasos de produção deixou as entregas do modelo três anos atrás do planejado. Até o final do ano passado, a Boeing vendeu 848 Dreamliners e entregou 49 unidades do modelo.
O piloto do voo e as autoridades aeroportuárias confirmaram que os indicadores da cabine detectaram um problema em uma das baterias do avião.
(Com agências)