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Um aeroporto no limite

Obras no pátio de estacionamento do Santos Dumont em 2013 poderão restringir voos

Antônio Werneck - O Globo


Depois dos engarrafamentos em terra - e também no mar, por causa das embarcações enfileiradas em frente às praias, esperando vaga para atracar no porto - o carioca pode começar 2013 enfrentando congestionamentos de aviões. Novas regras para o espaço aéreo do Santos Dumont, que entraram em vigor em novembro, e o anúncio pela Infraero de obras importantes para o terminal poderão ter impacto direto no tráfego aéreo do aeroporto.


Uma das medidas, que já está valendo, limita a três horas o tempo de permanência que uma aeronave da aviação geral (jatinhos particulares, táxi aéreo e aviões executivos) pode ficar estacionada na pista do Santos Dumont. A segunda é mais complexa: o pátio de estacionamento do aeroporto passará por uma ampliação, prevista para começar em janeiro de 2013, ano em que a cidade começa a testar sua infraestrutura para grandes eventos.


A previsão é que o pátio fique fechado durante a execução das obras, que podem durar seis meses, impedindo que os aviões continuem utilizando o trecho para manobrar durante os pousos e decolagens. Sem esse pátio, os jatos da aviação comercial terão que usar a pista auxiliar para taxiar, aumentando o tempo de permanência no local e, consequentemente, provocando filas de aeronaves que buscam aproximação do aeroporto para aterrissar, além de causar reflexos nas filas de embarque de passageiros.


- De que haverá impacto, nós não temos dúvidas. O tamanho do problema é que ainda estamos dimensionando. O que posso afirmar é que, na segurança, ninguém mexe - afirmou o coronel da Aeronáutica Ary Rodrigues Bertolino, diretor do Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), subordinado ao Ministério da Defesa e ao comando da Aeronáutica.


A Infraero confirmou que fará obra de recapeamento de pista e do pátio de estacionamento do Santos Dumont, mas garantiu que não pode prever ainda se isso vai causar problemas para os passageiros, como atrasos nos embarques e nos voos. Segundo a Infraero, tudo será feito para minimizar ou evitar impactos à rotina do aeroporto. A empresa garantiu também que, antes da intervenção, haverá uma reunião de planejamento com o Decea, o CGNA, as empresas aéreas e a Agência Nacional de Avião Civil (Anac).


Segundo explicou o coronel Bertolino - responsável pelo controle estratégico do espaço aéreo brasileiro, e que esteve à frente do planejamento e gerenciamento do tráfego aéreo da cidade durante a Rio+20 -, funcionando cem por cento, a capacidade do Aeroporto Santos Dumont é de 37 movimentos (pousos e decolagens) por hora. Por medida de segurança, o CGNA opera com 80% de sua capacidade: 29 movimentos por hora, sendo 23 reservados à aviação comercial (regular) e seis para aviação geral.


- Mantendo todos os padrões de segurança recomendáveis, o Santos Dumont opera no limite. E a sociedade precisa discutir o assunto: se é melhor construir outro aeroporto ou ativar pistas que estão fora de operação, como o Aeroporto de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense) e de Búzios (Região dos Lagos) - disse Bertolino.


Ricardo Nogueira, diretor da Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), afirmou que as empresas terão que se adaptar, permanecendo em pista o máximo de três horas.


- Não gostamos, não aceitamos, mas vamos acatar. É mais uma determinação tomada nos últimos quatro anos sem o necessário amadurecimento - afirmou Nogueira.


O diretor da Abag lembrou ainda que as empresas de táxi aéreo vão sentir o impacto, principalmente nos custos operacionais.


- No contrato, geralmente está previsto aguardar o cliente, mas o avião agora terá que deixá-lo no Santos Dumont e ir embora. E nem sempre quando a aeronave sai, ela vai poder voltar. Teremos prejuízos nas operações aéreas e financeiras - diz Nogueira.


O comandante Ronaldo Jenkins, diretor de segurança e operações de voos da Associação Brasileira de Empresas Aéreas - entidade que cuida dos interesses das cinco maiores empresas aéreas brasileiras (Gol, TAM, Avianca, Trip e Azul) -, afirmou esperar que não ocorram problemas com atrasos de voos e prejuízos para o embarque de passageiros, mas admitiu que, eventualmente, eles poderão ocorrer.


- A nosso ver, os maiores problemas serão enfrentados pelas empresas de aviação geral, que estão perdendo, com as obras, duas posições no pátio do Santos Dumont. Pelo que está sendo planejado, não vamos ser atingidos, mas é até possível que ocorram problemas eventualmente - disse Jenkins.


Ainda conservando seu charme aos 76 anos, e cobiçado pelos passageiros, por sua localização privilegiada, o Aeroporto Santos Dumont foi projetado e construído em 1936 pelos irmãos Marcelo e Milton Roberto, que ganharam um concurso nacional. Atualmente, com a crescente demanda, e o número de voos e passageiros disparando ano a ano, o aeroporto está sobrecarregado, e já é tratado como uma grande dor de cabeça pelas autoridades Aeronáuticas.


Movimento tem crescido

 

Dados da Infraero revelam que, em 2009, o número de passageiros (partidas e chegadas) foi de cinco milhões no Santos Dumont. No ano seguinte, a movimentação pulou para 7,8 milhões. Em 2011, fechou o ano registrando 8,5 milhões de passageiros (embarques e desembarques). Números que também estão refletidos no crescimento dos voos: passaram de 97 mil pousos e decolagens em 2009 para 130 mil em 2011.

- Hoje eu diria que o Santos Dumont não é mais um aeroporto, é um porta-aviões - diz um oficial da Aeronáutica ao resumir a defasagem do aeroporto.

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