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Modelo de baixo custo recebe investimentos

Por Guilherme Serodio e Alberto Komatsu | Valor
Do Rio e de São Paulo

A primeira companhia aérea de baixo custo, ou "low cost", da Colômbia deve começar a voar em meados de 2012. Batizada como VivaColombia, tem entre seus investidores o fundo Irelandia, da família Ryan, controladora da irlandesa Ryanair. Não se trata de um caso isolado. Desde o início do ano, é o quarto projeto para lançamento de companhia de baixo custo.

Em meados de maio, a AirAsia, da Malásia, divulgou plano de abrir uma subsidiária "low cost" para voos de longo curso. Na semana passada, foi a vez da espanhola Iberia. Em julho, a Air France também divulgou planos nesse sentido.

"Em companhias que atuam apenas no mercado doméstico, a tendência é a das 'low cost' terem resultados melhores do que as tradicionais", diz o especialista em aviação da consultoria Bain & Company, André Castellini.

O diretor de finanças e relações com investidores da Gol, Edmar Prado Lopes, concorda com o consultor. Ele cita um estudo da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês).

"Esse estudo mostras que as empresas de baixo custo têm obtido resultados melhores do que as tradicionais nos últimos anos", diz o executivo.

A ideia de criar a VivaColombia começou num curso de MBA da Universidade de Stanford (EUA).

Em "uma aula de incubadora de empresas", o gaúcho de Bento Gonçalves Gabriel Migowski conheceu o mexicano William Shaw, ex-gerente comercial da British Airways World Cargo, com quem desenvolveu o projeto.

Migowski foi consultor da Bain & Company, onde participou de diversos projetos na área de aviação no Brasil e na América Latina. Shaw trabalhou na British na Colômbia e conhecia o expresidente da Avianca, Juan Emílio Posada. De Stanford, os dois entraram em contato com Posada, que comprou a ideia.

"Dessa forma não planejada começamos a discutir sobre as oportunidades em aviação na região andina", diz Migowski. E a Colômbia foi escolhida como o país certo para receber o investimento.

Segundo Migowski, o país vive um fenômeno parecido com o brasileiro, com o aumento da renda da classe C. "Como no Brasil, [na Colômbia] você tem uma classe média emergente que quer começar a consumir", afirma.

Apesar da tendência de as empresas de baixo custo apresentarem melhores resultados, a Gol registrou, no segundo trimestre, prejuízo de R$ 358,7 milhões, sete vezes maior do que as perdas do mesmo período de 2010. Lopes diz que o resultado foi afetado por uma conjunção de fatores: alta do preço do petróleo, dólar desvalorizado e acirrada competição de tarifas.

Uma análise dos balanços do primeiro semestre de empresas "low cost", em comparação com o de uma empresa tradicional, como a United Continental, mostra que as receitas das companhias de baixo custo têm obtido taxas superiores de crescimento.

A receita de US$ 2,1 bilhões da americana JetBlue, por exemplo, cresceu 19% no primeiro semestre, ante igual período de 2010. A receita da United Continental cresceu 11%, no mesmo período.

Para o projeto da VivaColombia, Posada, ex-presidente da Avianca, trouxe o ex-presidente da Tampa Cargo, Fred Jacobsen. E, no começo de 2009, com um capital inicial de US$ 2,6 milhões, os quatro montaram a companhia. Em setembro daquele ano receberam a certificação da Aeronáutica Civil de Colombia [equivalente colombiana da Anac] para operar.

Mas faltava conquistar investidores. Em outubro de 2010, os sócios contataram por e-mail o fundo de investimento Irelandia, da família Ryan, controladora da aérea "low cost" Ryan Air, que abraçou o projeto.

Por meio do fundo Irelandia, os Ryan já investiram em outras empresas de baixo custo, como a Tiger Airways, na Ásia, e a VivaAerobus, no México, esta última uma parceria com o grupo mexicano Iamsa, que, apresentado pela família Ryan, também se juntou ao projeto da VivaColombia.

Contando com a credibilidade do nome por trás da Ryan Air, o projeto conquistou a confiança do último investidor, o Bolívar, um dos maiores grupos financeiros da Colômbia.

A divisão acionária da companhia foi feita da seguinte forma: os sócios fundadores (25%), o Grupo Bolívar (25%), o Irelandia (25%) e o grupo mexicano Iamsa (25%). O investimento de cada um no negócio é confidencial, mas, de acordo com Migowski, atual vice-presidente financeiro da companhia, "é muito em linha com o valor investido em empresas [aéreas low cost] como a Gol, a Tiger Airways e a Ryan Air".

Com o preço médio de passagem em 29.000 pesos colombianos, o equivalente a cerca de US$ 15, e "o cuidado em não tentar dar o passo maior que as próprias pernas", a empresa planeja explorar mercados que considera subutilizados. A VivaColombia vai operar 22 destinos domésticos em 32 rotas já definidas, a grande maioria saindo do aeroporto de Medellín, a segunda maior cidade do país, que será o 'hub' (centro de distribuição de voos) da companhia.

"Se você vive na Colômbia e não mora em Bogotá, há muito poucos destinos que são disponíveis diretamente", comenta Migowksi.

A disputa com a maior empresa do setor no país, a Avianca, do empresário Germán Efromovich, não é um objetivo. "A gente não tem uma fome de crescimento tão grande", diz o sócio brasileiro.

Prudente, Migowski não informa seus planos acerca do percentual do mercado de voos domésticos que planejam alcançar no primeiro ano de operações.

A Aeronáutica Civil de Colombia estima que o mercado de voos domésticos em 2011 totalizará 16,7 milhões de passageiros e a Avianca tem 59% do mercado. Há ainda a chilena Lan, que, no fim de 2010, comprou a colombiana Aires, com 18%; a panamenha Copa (13%), além da estatal Satena (5%) e as regionais Easy Fly (3%) e Aerolíneas de Antioquia (2%).

Iniciando com "pouco mais de 200 voos semanais em média", os sócios planejam chegar aos 250 voos por semana em um ano, quando devem contar com cinco aeronaves em operação. O objetivo é superar os 30 mil passageiros por semana ao final de doze meses, número que a deixaria abaixo do patamar da terceira maior operadora do país. Em julho, a Copa registrou 199.073 passageiros.

Com os objetivos traçados, os sócios agora trabalham na aquisição de equipamentos e na contratação de funcionários. A Aeronáutica Civil de Colombia exige das companhias ter cinco aviões nos primeiros seis meses de operação. A VivaColombia planeja operar com apenas um modelo, o Boeing 737 ou o Airbus A320. A empresa deve anunciar dentro de um mês o modelo escolhido.

Atualmente, a empresa tem apenas 13 funcionários. A maior parte das contratações necessárias para o início das operações, cerca de 150 pessoas entre tripulação, mecânicos e pessoal de terra, será feita no começo de 2012.

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