Para especialista, construtoras brasileiras têm excelente engenharia de grandes obras, mas falta experiência em operações aeroportuárias
Glauber Gonçalves, de O Estado de S. Paulo
RIO - Grandes construtoras brasileiras travam uma corrida para fechar parcerias com operadoras internacionais, de olho na privatização dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília. De acordo com fontes ouvidas pelo ‘Estado’, Galvão Engenharia, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Carioca Engenharia e Camargo Corrêa negociam com empresas estrangeiras especializadas na administração de aeroportos.
O movimento é visto como inevitável por especialistas no setor, por causa da falta de experiência das empreiteiras em operações aeroportuárias. "Nossas construtoras têm excelente engenharia de grandes obras e levam muita competitividade para um projeto. Porém, em operação aeroportuária não são especialistas", diz o professor da UFF Marco Aurélio Cabral.
Apesar de já operar aeroportos como o de Quito, com a americana ADC&HAS, a Andrade Gutierrez firmou parceria com a alemã Fraport para uma possível participação nos leilões. A empresa de Houston, por sua vez, chegou a conversar com a Odebrecht, mas, segundo uma fonte, as negociações não avançaram. Procurada, a construtora não quis comentar.
Ao lado da Galvão Engenharia estaria a Munich Airport, que opera o aeroporto de Munique, na Alemanha, disse um consultor que não quis se identificar. A informação foi confirmada por um executivo de empresa concorrente. Já a Carioca Engenharia fechou parceria com a Aéroports de Paris, que opera os aeroportos Charles-de-Gaulle e Orly, na capital francesa.
Sócia da suíça Flughafen Zürich AG na joint venture A-Port, formada em 2008, a Camargo Corrêa diz que, enquanto não houver maiores definições sobre o leilão, não se manifestará. Fontes, no entanto, confirmam o interesse na privatização.
Embora ainda não haja informações sobre negociações entre a OAS e companhias estrangeiras, a empresa deve participar do leilão por meio da Invepar, empresa na qual é sócia dos fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, da Petrobrás e da Caixa Econômica Federal.
Incertezas. Mesmo com as associações em curso, ainda é difícil garantir os grupos candidatos aos leilões dos aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília, avalia o consultor José Wilson Massa.
Para ele, o cenário só ficará claro após o leilão do projeto do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, previsto para o mês que vem. "São Gonçalo do Amarante será o grande termômetro do processo de concessão, um indicador de quanto o mercado realmente está interessado."
Segundo uma fonte, as companhias interessadas avaliam como arriscado o negócio nesse aeroporto. "As mais conhecidas falam que é um negócio que apresenta muitos riscos", disse, sem citar o nome das empresas. Segundo essa fonte, A-Port e Andrade Gutierrez estariam quase fora do leilão, ao passo que "a Odebrecht nunca esteve dentro". Estariam interessadas as operadoras internacionais Asur (México), ADC&HAS (EUA), e a Munich Airport, em parceria com Galvão Engenharia.
Detentora de cinco das sete rodovias federais leiloadas em 2007, a espanhola OHL disse, em nota, que "avalia a oportunidade", sem dar mais detalhes. Companhias aéreas também podem acabar compondo os grupos que disputarão o leilão. TAM e Gol têm posições semelhantes: apesar de não se mostrarem muito interessadas, dizem que, se necessário, entram na concorrência para garantir a qualidade da gestão dos aeroportos.
Especialistas advertem, porém, que as regras para a participação das aéreas devem ser definidas com rigor para evitar conflitos de interesse, uma vez que essas empresas seriam ao mesmo tempo clientes e sócias da operação aeroportuária. Procurada, a Secretaria de Aviação Civil (SAC) não respondeu até o fechamento desta edição.