Ainda este semestre, Guarulhos e Brasília terão sala especial de gestão
 

Flávia Barbosa e Geralda Doca - O Globo
 
BRASÍLIA. A concessão, total ou parcial, dos maiores aeroportos brasileiros à iniciativa privada será precedida de um grande esforço público para melhorar a gestão e ampliar a capacidade de uso dos terminais antes das grandes obras, disse ao GLOBO o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt. O plano do governo envolve ações de curto, médio e longo prazos.

 
Até as férias de meio de ano, os terminais de Guarulhos (SP) e Brasília, os primeiros a serem concedidos, ganharão uma sala de situação com a presença dos principais agentes no dia a dia de um aeroporto: Infraero, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Polícia Federal (PF), Receita Federal, Departamento de Comando do Espaço Aéreo (Decea) e as companhias aéreas de voos regulares. O objetivo é acabar com o jogo de empurra dos órgãos envolvidos e fazer com que cada um assuma suas responsabilidades.

 
Fim da falta de coordenação elevaria capacidade em 30% Todas as áreas do aeroporto estarão cobertas por equipamentos de monitoramento e inteligência.

 
Bittencourt conversou pessoalmente com os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, e os presidentes das companhias aéreas, para que o pessoal destacado para a sala de situação seja qualificado, com perfil gerencial. Ele ressaltou que os escolhidos devem ser “solucionadores de problemas”.

 
— Queremos que as pessoas, lado a lado, vejam como o trabalho delas afeta o dos outros, para que a solução seja construída coordenadamente. Não queremos lutadores dentro da sala, queremos solucionadores. Todos têm de ter perfil gestor — afirmou o ministro.
 

A ideia inicial é não instituir a Autoridade Aeroportuária, como anunciado no ano passado, que implica “alguém mandar nos outros”, o que emperrou o processo.
 
A figura de um coordenador existirá no futuro, disse Bittencourt, mas o fundamental agora é melhorar a governança dos aeroportos. A falta de coordenação das partes envolvidas na operação de um aeroporto é tão grande que, segundo o ministro, as próprias companhias admitem que o fim desse gargalo aumentaria a capacidade da malha aérea brasileira em 30%.

 
Sobre os alertas de que os aeroportos não estão preparados para a Copa de 2014 e que o tempo está se esgotando, o ministro afirma que todos estão trabalhando para que as obras avancem, mas o foco não pode ser limitado: — A preocupação é com o passageiro do dia a dia.

 
A profissionalização da Infraero — cujo pontapé foi dado na última quarta-feira, com decreto autorizando a mudança de estatuto da empresa — também obedece a essa orientação.

A SAC também vai reforçar os equipamentos. Em Guarulhos, por exemplo, será ampliado o número de máquinas da alfândega e quase dobrada a quantidade de postos da PF para controle de passaporte. Além disso, serão instalados radares mais possantes para auxiliar pousos e decolagens em condições climáticas desfavoráveis.

 
— O modelo é o das salas de situação das concessionárias de rodovias. Todos estão lá; da empresa, da Polícia Rodoviária Federal, dos órgãos estaduais.


Na hora em que acontece um problema, um acidente, uma retenção, todos veem ao mesmo tempo e já tomam as decisões — explicou o ministro.

 
Para ministro, Galeão pode voltar a ter papel central Bittencourt completaria 36 anos de BNDES em julho se não tivesse aceitado o desafio de ser a primeira autoridade civil independente a cuidar da caótica infraestrutura aeroportuária brasileira.

 
Para o ministro, o desafio é gigantesco e é preciso mudar a cultura atual dos aeroportos.

 
— Gestão é tudo nesta vida — afirmou ele, que no BNDES fez parte do grupo de estudo sobre a situação dos aeroportos.


Já a médio e longo prazos, o planejamento estratégico passa pela definição de quais aeroportos serão concedidos, quais ficarão com a Infraero, quais precisarão ser construídos.

 
O ministro acredita que o Galeão pode voltar a ter um papel central na recepção e na distribuição de voos, perdido nas duas últimas décadas. Ele garantiu que aéreas brasileiras e estrangeiras têm manifestado a intenção de elevar a oferta de voos a partir do Rio, e a TAM seria a locomotiva desse movimento.


Mas alertou que é preciso haver incentivos, pois o Galeão tem de ser economicamente viável para as empresas.


Ele afirmou não haver dogma quanto ao modelo de administração e/ou construção dos terminais:

 
— Pode ser concessão administrativa, PPP (Parceria Público- Privada), porteira fechada (privatização integral), passar para estados e municípios. Tudo pode. Mas, neste momento, estamos estudando.

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