Por Cesar Bianconi e Guillermo Parra-Bernal
REUTERS
SÃO PAULO - A Embraer está aberta a oportunidades de aquisição, sobretudo no mercado de defesa, como forma de acelerar o aumento da receita além do crescimento orgânico.
A companhia -- que nasceu em 1969 com a missão de desenvolver aeronaves para as Forças Armadas do Brasil na década -- negocia a compra de uma empresa na área de defesa e segurança que pode ser anunciada em breve, afirmou nesta quinta-feira o seu presidente-executivo, Frederico Curado.
"Estamos procurando ficar um pouco mais abertos a oportunidades de aquisição. É uma forma de crescer sem aquele monólogo do desenvolvimento de novos produtos sempre", disse Curado no Reuters Latin American Investment Summit.
"Na área de defesa há uma série de pequenas e médias empresas... Queremos ser vistos como uma empresa central para o Brasil na área de defesa e segurança." Em 15 de março, a Embraer Segurança e Defesa, divisão da companhia, anunciou a compra de 64,7 por cento da divisão de radares da Orbisat da Amazônia por 28,5 milhões de reais.
"Existe um segundo processo em andamento que temos uma expectativa positiva para as próximas semanas", declarou o executivo, sem dar mais detalhes.
A Embraer, maior fabricante mundial de aviões comerciais regionais, vem apostando em novos produtos na aviação executiva e em defesa nos últimos anos como forma de ampliar as vendas.
A principal unidade de negócio continua a ser a de jatos comerciais, que terminou 2010 com encomendas por 250 aviões para serem entregues.
Alguns analistas temem que a Embraer terá dificuldade para manter entregas anuais de 100 jatos regionais ou mais a partir de 2013, considerando a carteira atual de pedidos e a chegada de concorrentes para os E-Jets da fabricante brasileira, que transportam de 70 a 118 passageiros.
Curado, porém, descartou esse risco.
"Eu tenho uma visão de longevidade dos E-Jets bastante grande. Temos hoje motores de nova geração que estão sendo utilizados em novos projetos que chegarão ao mercado em alguns anos, então qualquer visão que considere que o Embraer 190 (de 100 passageiros) é obsoleto tem uma visão errada." "Os E-Jets são aviões que estarão no mercado durante décadas... Eu vejo nos E-Jets a história do Boeing 737, que é um produto que tem 40 anos, com três gerações."
Sobre os futuros aviões rivais na faixa dos 100 assentos -- de China, Rússia e Japão --, o presidente-executivo da Embraer disse que "mesmo que entreguem tudo que estão prometendo, para se chegar a uma escala industrial serão oito ou nove anos".
O executivo revelou ainda que a "ansiedade por remotorizar os E-Jets diminuiu bastante", diante da forte procura pelos modelos. "Os E-Jets, em algum momento, não sei se daqui a cinco ou seis anos, precisarão de uma nova versão", disse.
Diante desse quadro, o que a Embraer decidirá até o final do ano é se desenvolverá um avião maior totalmente novo, que a colocaria em disputa com as gigantes Boeing e Airbus.
OPORTUNIDADES NOS EUA
A Embraer passou de uma receita média anual de perto de 3 bilhões de dólares na primeira metade da década passada para 5,2 bilhões de dólares ao ano nos últimos cinco anos.
Para 2011, a empresa estima receita de 5,6 bilhões de dólares, avanço de cerca de 5 por cento sobre o ano passado e meta que foi considerada conservadora por analistas.
O principal vetor de expansão da receita da empresa tem sido a ampliação da linha de produtos. A próxima expansão do portfólio da Embraer na aviação executiva ocorrerá em 2012 e 2013, com o Legacy 500 e Legacy 450. Em defesa, será com a entrada em serviço do cargueiro KC-390 em 2015.
Questionado se um novo salto no patamar da receita ocorreria somente a partir de 2015, Curado respondeu que, além dos novos produtos e das aquisições, pode se esperar antes disso um aquecimento do mercado aéreo norte-americano.
"As companhias aéreas dos Estados Unidos praticamente não estão comprando aviões já faz muito tempo. Em aviação comercial existe uma perspectiva fantástica nos próximos anos lá", disse, citando negociações já públicas com a Delta Air Lines por uma encomenda. Boeing, Airbus e Bombardier também estão no páreo.
JAPÃO PREOCUPA
Curado comentou ainda que a Embraer e todo o setor aeronáutico acompanham com atenção os desdobramentos do terremoto e tsunami que atingiram o Japão em 11 de março, já que há relevantes fornecedores da indústria no país asiático.
"Temos apreensões, mas não temos hoje uma indicação clara de que temos um impacto já conhecido. Daqui a uma ou duas semanas devemos ter um quadro um pouco mais claro." "A Kawasaki, nosso principal fornecedor no Japão, não teve impacto direto na fábrica, que fica no sul do Japão. Mas a falta de energia pode prejudicar os fornecedores dela", disse.
"Há preocupação e acho que sim, pode afetar... Se faltar um rebite, não entregamos o avião", finalizou.