De Brasília, o melhor terminal do país, ao Galeão, o pior, lotação e equipamentos quebrados
Danielle Nogueira e Geralda Doca - O Globo
Do menos ao mais eficiente, do ponto de vista financeiro, os aeroportos brasileiros deixam muito a desejar para os usuários no que diz respeito à qualidade de serviços e infraestrutura.
Repórteres do GLOBO passaram um dia nos aeroportos de Brasília e do Galeão, considerados o melhor e o pior, respectivamente, entre 16 terminais do país, segundo levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) divulgado semana passada. Este se baseou na relação entre volume de passageiros/carga transportados e custos. Elevadores quebrados, estacionamentos lotados, dificuldades de acesso e sinalização de pista deficiente são alguns dos problemas que se tornaram rotina para quem viaja de avião no Brasil, seja no banco de passageiros ou no comando da aeronave. Um desafio para o novo presidente da Infraero, Gustavo do Vale.
Para especialistas, os problemas refletem falhas na gestão e falta de investimentos. Em 2010, o orçamento previsto para o Galeão era de R$108,6 milhões, mas apenas 63,5%, ou R$69,04 milhões, foram executados. No aeroporto de Brasília, esse percentual é ainda menor: só 27% (R$3,59 milhões) da dotação de R$13,28 milhões foram aplicados. O montante foi destinado à instalação de um módulo de embarque provisório. Segundo a Infraero, estatal que administra os aeroportos, a baixa liberação de recursos se deve a licitações fracassadas ou adiadas.
- Falta um programa de manutenção adequado no Galeão. Esse aeroporto já foi o mais moderno do Brasil. Todo o sistema de informações deveria ser informatizado, para facilitar a gestão. Além disso, há forte politização da Infraero. Isso prejudica os aeroportos - diz o ex-presidente da Infraero e professor da Universidade de Brasília Adyr da Silva.
Congestionamento de aeronaves no Rio
No aeroporto carioca, pelo qual passaram 12,2 milhões de pessoas em 2010, um dos principais problemas são os elevadores. No terminal 2, metade - são quatro no total - está quebrada há pelo menos quatro meses, segundo funcionários. No horário de pico, as filas são inevitáveis. Quem vai para lá de carro ainda tem de subir e descer as escadas com as malas, pois o elevador do estacionamento também não funciona.
Frederico Barbosa, morador de Rio das Ostras, estava voltando de Salvador com a mãe, Andrea, na semana passada, e teve que carregar as malas pelas escadas até o carro:
- Já viajamos duas horas de avião, vamos para Rio das Ostras e ainda tenho que carregar as malas.
No terminal 1, um terço dos 16 elevadores também estava inoperante semana passada. O estacionamento confirmava a precariedade. Sem vagas, os motoristas deixavam os carros em cima da calçada e na área destinada ao desembarque, atrapalhando o trânsito de passageiros.
Os pilotos também enfrentam problemas. De acordo com o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Gelson Fochesato, a sinalização das pistas do pátio é deficiente no Galeão. Além disso, é comum haver congestionamento de aeronaves, pois as duas pistas de pouso e decolagem são convergentes, não paralelas como as de Brasília. Isso inviabiliza partidas simultâneas, dependendo da rota. Fora os pássaros e balões que muitas vezes vêm de encontro aos aviões.
- Quando chove muito, não é possível ver com nitidez as faixas que nos orientam quando estamos no pátio - disse Fochesato, frisando, porém, que isso não interfere na segurança do pouso ou da decolagem.
A Infraero informou que a revitalização das sinalizações será concluída até o fim de março.
Em Brasília, há queixas sobre banheiros apertados, falta de espaço para descanso e banho, de um hotel nas proximidades e dos poucos funcionários na Alfândega. O estacionamento caro (R$5 por hora e diária de R$31) e a ausência de transporte público para a cidade também são reclamações constantes.
Embora tenha gerado no ano passado uma receita de R$127,9 milhões e da boa aparência externa, o terminal tem gargalos no pátio para aeronaves e nas áreas de check-in. Preparado para receber oito milhões de passageiros, viu o movimento subir de 9,4 milhões para 14,1 milhões nos últimos cinco anos, sem que as obras acompanhassem a demanda.
Mônica David de Sousa, funcionária pública, chegou a Brasília de uma viagem internacional em meados de janeiro, num domingo, e levou mais de uma hora para passar pela Receita e a Polícia Federal, em cujos postos só havia dois funcionários.
- O mesmo funcionário da Receita conferia a documentação da Alfândega e também operava o raios X do canal vermelho - contou Mônica, queixando-se ainda da falta de transporte público, como existe em Confins (Belo Horizonte) e Guarulhos.
Infraero promete investir R$1,4 bi
A Infraero informou que será investido R$1,4 bilhão nos aeroportos de Brasília e do Rio até 2014.
Para Brasília, serão R$744,4 milhões , que contemplam várias melhorias, como aumento do número de sanitários e de posições de check-in (de 82 para 230), e ampliação da capacidade de passageiros do aeroporto para 18 milhões por ano. A Infraero também já abriu licitação para construir um hotel de categoria econômica nas proximidades do aeroporto. O mesmo foi feito no Galeão, cuja previsão de investimentos até 2014 é de R$687,4 milhões.
Ociosidade pode ser trunfo
Vantagem para Galeão na preparação para Copa
Hoje apontado como problema, o baixo fluxo de passageiros no Galeão - considerando-se as dimensões do aeroporto - pode se tornar um trunfo na preparação para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, na avaliação do especialista em transporte aéreo e professor de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ Elton Fernandes. Ele está elaborando um estudo a pedido do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), com o perfil dos principais aeroportos do país, que deverá ser divulgado este mês.
Dos principais aeroportos brasileiros, o Galeão é o único com indicador de conforto - medido em metro quadrado por passageiro em hora de pico - acima das recomendações internacionais, justamente pelo baixo fluxo. Em 2010, eram 43 metros quadrados por passageiro em hora de pico, contra 20,4 no Santos Dumont, 22 em Guarulhos, 12,7 em Congonhas e 17,7 em Brasília. A recomendação varia de 23 a 37 metros quadrados, dependendo do volume de passageiros domésticos e internacionais.
Fernandes reconhece que o Galeão tem problemas de gestão, mas se diz contrário à privatização do terminal:
- Com o crescimento da demanda, o Galeão só tende a se tornar rentável. Por isso, há uma forte pressão por sua privatização.