Copa já provoca a valorização dos pontos comerciais. Grandes redes querem entrar. Lojas que já estavam antes da reforma brigam para não sair


Marina Falcão - Jornal do Commércio

A pouco menos de quatro anos da Copa do Mundo no Brasil, o metro quadrado do Aeroporto Internacional do Recife está sendo disputado por gigantes do chamado varejo de viagem a preços superinflacionados. Com seus contratos de concessão pública expirados, as concessionárias antigas do aeroporto recorrem às brechas judiciais para não perder seus promissores pontos comerciais.

Com uma proposta de aluguel de R$ 82 mil, o Grupo Laselva venceu a última licitação para operar um restaurante de 290 m² na praça de alimentação do quarto piso. A empresa - que já está no Aeroporto Internacional do Recife com a Laselva Bookstore - faz presença nos 20 principais aeroportos que concentram 85% do fluxo de passageiros do Brasil. Desde meados de 2008, a rede vem diversificando seu negócio com novos conceitos de lojas no ramo de café, importados, presentes finos e restaurantes. A companhia projetou para este ano crescimento de 25%.

A disputa final na concorrência pública vencida pela Laselva foi travada com a GRSA Alimentos, que pertence a norte-americana Compass Group. O patamar de ofertas está elevadíssimo. Não consegui nem chegar na fase do leilão, conta o empresário pernambucano Carlos Rubens de Goés.

No ano passado, seu contrato de concessão de 10 anos para operar uma franquia da Bobs expirou. Pagava um aluguel de R$ 17 mil. A empresa que venceu a licitação, a TB Alimentos, vai pagar 150% a mais. Não dá para competir dessa forma, conta.

Justamente com outros concessionários cujos contratos de concessão se encerraram no ano passado, Góes briga na Justiça para permanecer no ponto. No ano da reforma do aeroporto, em 2004, eles tiveram que investir em novas estruturas. A empresária Wansley Jarocki conta que foram aplicados recursos da ordem de R$ 500 mil na nova unidade da Pizza Pronta. Na época, segundo ela, a Infraero se comprometeu - através de documento assinado pelo então gerente comercial de logística - a acrescentar um prazo de 60 meses (cinco anos) ao prazo remanescente do contrato de concessão dos lojistas como forma de compensá-los pelos gastos.

Essa promessa não está sendo cumprida e a Infraero está licitando todos os contratos que completaram 10 anos, revela o presidente da Associação dos Concessionários Aeroportuários do Recife (Acap), Héber Lucena.

Conforme explica o superintendente regional da Infraero no Nordeste, Fernando Nicácio, não é legal renovar o contrato dos concessionários com mais de 10 anos. A gente entende a luta dos empresários em querer se manter no aeroporto, pois hoje mais do que nunca é um excelente negócio.

Mas como empresa pública, somos obrigados a aceitar as melhores propostas.


Nicácio revela que o Ministério Público (MP) concedeu parecer favorável à Infraero (procedimento administrativo de número 1.226.000.000428/2009-37), depois que as concessionários moveram ação contra a empresa.

Através de liminares, algumas concessionárias antigas ainda estão conseguindo operar no aeroporto. É o caso da Romar, Bobs, Sweets, Pizza Pronta e Big Burguer.

Com valor final R$ 80.198,00, a Infraero licitou esse ano a área da lanchonete Guararapes (Palheta). O valor inicial estimado para a concorrência foi R$ 28 mil.

A licitação foi suspensa por liminar e está aguardando decisão judicial.

Em 9 anos, fluxo cresceu 112% no terminal

Entre 2000 e 2009, o Aeroporto Internacional do Recife experimentou um crescimento de 112% no fluxo de passageiros. Hoje, ele é considerado um dos 12 aeroportos classe A ou seja, que dão lucro , dentre os 67 administrados pela Infraero estando, portanto, na mira da iniciativa privada.

A Infraero calcula que que cada passageiro atraia pelo menos mais três pessoas para o Aeroporto Internacional. Dessa forma, somente no ano passado circularam em mais de 25 milhões de potenciais consumidores no local.

Para o presidente da Associação das Concessionárias Aeroportuárias, Héber Lucena, o alto valor das propostas nas últimas licitações mostram que o caminho da privatização está sendo traçado. Existe um interesse muito forte dessas empresas em estar operando nos aeroportos quando eles passarem para a iniciativa privada. Isso faz com que elas se disponham a pagar aluguéis fora do que é praticado no mercado. De início, esses custos devem ser repassados para o consumidor. Vai ficar ainda mais caro comprar no Aeroporto, especula.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, já afirmou que até o fim do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não haverá privatizações. Afinal, em período eleitoral, não havia quem tomasse a frente de tamanha polêmica. Mas a nova gestão que assumir em 2011 deverá retomar as discussões sobre o tema.

Isso porque uma estimativa feita pela Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) aponta que os aeroportos do País teriam praticamente que dobrar a sua capacidade para proporcionar meios adequados para o deslocamento das equipes de futebol que participarão da Copa de 2014, assim como de turistas nacionais e estrangeiros. Como não dá tempo de construir novos aeroportos de classe internacional, a solução seria ampliar os existentes e adaptá-los às circunstâncias.

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