Empresa anuncia plano para tentar minimizar atrasos; sindicato avisou sobre excesso nas jornadas de trabalho de aeronautas
Bruno Tavares - O Estado de S.Paulo
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) anunciou ontem um plano para tentar atenuar problemas causados pela Gol nos aeroportos. As medidas, que incluem uso de aviões maiores, mudança nas escalas das tripulações e maior fiscalização, foram adotadas 20 dias depois de a companhia ser alertada pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) sobre excessos nas jornadas de pilotos e comissários.
O plano, apresentado pelo diretor de Operações da Gol e referendado pela Anac, prevê o uso de cinco aviões Boeing 767, configurados para cerca de 230 passageiros. A ideia é que essas aeronaves sejam usadas em rotas de alta densidade, tanto domésticas quanto internacionais, para reforçar a frota atual da companhia, que conta com modelos para 144 e 178 passageiros.
Além de terem maior capacidade, os Boeing 767 oferecem outra vantagem para a empresa: tripulantes com menos horas voadas. A maioria dos pilotos e comissários habilitados a trabalhar nesse modelo esteve deslocada para atender aos voos fretados durante o mês de férias.
A expectativa da companhia é de que os aviões maiores consigam, já nos próximos dias, reduzir o número de atrasos e cancelamentos de voos, que ontem ficaram em torno de 35% e 8%, respectivamente. A Gol também se comprometeu a apresentar à Anac relatórios semanais sobre a quantidade de horas voadas por sua tripulação. Habitualmente, essas informações são prestadas mês a mês. Por fim, a empresa prometeu que vai adotar neste mês a mesma escala de trabalho utilizada em junho.
A Gol afirma que os problemas foram causados por uma malsucedida atualização do software que elabora a escala de trabalho. Isso teria feito funcionários atingirem a carga máxima de trabalho permitida por lei. A Anac diz que, até o momento, não verificou infrações à regra, embora tenha constatado um aumento generalizado das horas de trabalho dos tripulantes de quase todas as companhias nacionais. Inspetores estão agora acompanhando as escalas.
Aviso. Chamado Crewlink, o software que teria apresentado falha foi desenvolvido para a companhia alemã Lufthansa. O sistema trabalha com duas variáveis básicas: o número de tripulantes e a quantidade de voos a serem cumpridos. Segundo fontes do setor aéreo e dirigentes do SNA, o problema está na falta de pessoal e não no software. Em 12 de julho, o SNA teve a primeira reunião com a Gol para adverti-la sobre o descompasso das escalas. Quinze dias depois, os sindicalistas voltaram a cobrar uma solução para os problemas.