Inauguração de grandes empreendimentos hoteleiros na região aumenta disputa entre aéreas. TAM inaugura voo
Danielle Nogueira - O Globo
A inauguração este ano de grandes e polêmicos empreendimentos hoteleiros na Região dos Lagos — o Club Med, em Cabo Frio, e o Breezes Búzios, na cidade de mesmo nome — começa a transformar o perfil do Aeroporto Internacional de Cabo Frio, até então conhecido por seu terminal de cargas. De olho no potencial de crescimento do turismo regional, a TAM inaugura esta semana dois voos regulares de passageiros para lá, partindo de Congonhas (SP) e com escala no Santos Dumont (RJ). O número de vôos fretados para Cabo Frio também deve crescer.
O voo da TAM com destino a Cabo Frio sairá de Congonhas às quintas e domingos e terá duração de cerca de duas horas. A passagem custará R$ 399 (um trecho), quase o triplo do bilhete de ônibus (tarifa leito) para o mesmo trajeto, percorrido por terra em nove horas. Quem vai do Rio poderá embarcar no Santos Dumont desembolsando R$ 129. A viagem é de menos de meia hora. De ônibus, o trajeto é feito em duas horas e meia e sai por R$ 27 (tarifa com ar-condicionado).
Trip oferece voos regulares de Pampulha e Santos Dumont
Hoje, só a Trip mantém voos regulares de passageiros para Cabo Frio, a partir de Belo Horizonte (Pampulha) e Rio (Santos Dumont). Para quem sai do Rio, a passagem varia de R$ 99 a R$ 289. Além da Trip, companhias estrangeiras como a chilena LAN, a uruguaia Pluna e a argentina Andes oferecem voos fretados em meses de alta temporada, partindo de Santiago, Montevidéu, Buenos Aires e Córdoba.
— A tendência é que os voos fretados se tornem regulares, elevando o fluxo de turistas para a região — diz o presidente do Conselho de Administração da Costa do Sol, empresa que opera o aeroporto de Cabo Frio.
Ao longo de todo o ano de 2009, 21.446 pessoas desembarcaram no terminal, das quais 19.300 eram turistas, segundo estimativas da Costa do Sol. O número é pouco mais que a metade dos 32 mil turistas que visitam Cabo Frio a cada fim de semana, de acordo com dados da Secretaria de Turismo da cidade. Por ano, são cerca de dois milhões de pessoas, o que mostra o potencial de expansão da malha aeroviária do município.
Confiante nesse crescimento, o Convention & Visitors Bureau de Cabo Frio quer formatar pacotes de sete dias de viagem com as empresas aéreas, com o objetivo de manter os turistas no município. Hoje, muitos dos que chegam a Cabo Frio de avião apenas passam por lá e se hospedam em Búzios.
— O foco do turista argentino e chileno é Búzios. Já Cabo Frio e Arraial do Cabo são destinos mais procurados pelo turista brasileiro. Estamos elaborando pacotes com hotéis e companhias aéreas para que o turista possa ir a diferentes cidades da região. Assim, todo mundo sai ganhando — diz o presidente do Convention & Visitors Bureau de Cabo Frio, Radamés Muniz.
Dois novos empreendimentos — cujos investimentos iniciais somam R$ 270 milhões — sustentam essa aposta de expansão. No segundo semestre, será inaugurado o Club Med de Cabo Frio, âncora do projeto Reserva do Peró, uma área de 4,4 milhões de metros quadrados encravada na Área de Proteção Ambiental (APA) do Pau Brasil. Além do Club Med, que terá 385 quartos, haverá outros cinco hotéis na reserva.
Club Med é um dos que deve movimentar a região
Dois deles, com cerca de cem quartos cada, também serão administrados pelo grupo francês, totalizando R$ 150 milhões em investimentos, de acordo com Ricardo Amaral, sócio da Lakpar, empresa idealizadora do projeto.
A administração dos outros hotéis está sendo negociada entre a Lakpar e a americana Starwood, dona das redes Sheraton e Méridien, ainda sem previsão de investimento ou de início de operação. Hoje, existem 83 hotéis e pousadas em Cabo Frio, totalizando 6.606 leitos.
Segundo Amaral, só o Club Med vai demandar de dois a três voos fretados por semana, impulsionando a movimentação do aeroporto de Cabo Frio. Paris, Buenos Aires, Belo Horizonte e São Paulo são os pontos de partida dos voos mais cogitados:
— O aeroporto é fundamental para o sucesso do projeto.
O outro motor do turismo na região é o resort Breezes Búzios, que será inaugurado amanhã. O investimento, de R$ 120 milhões, é do grupo jamaicano SuperClubs e não é menos polêmico que o da Reseva do Peró. Serão 329 unidades — entre bangalôs e apartamentos — construídos em uma área de 28 mil metros quadrados em Tucuns, até então uma das poucas praias selvagens da cidade. Segundo Xavier Veciana, diretor geral do SuperClubs no Brasil, o resort terá capacidade para hospedar cerca de 1.500 pessoas por semana.
— Com a crise internacional, acreditamos que, num primeiro momento, teremos muitos brasileiros no resort. Mas a distribuição dos hóspedes deve ficar em 50% de turistas nacionais e os outros 50% de estrangeiros — diz Veciana, que vem negociando voos fretados com as operadoras TAM Viagens e CVC para o aeroporto de Cabo Frio.
O secretário de Turismo de Cabo Frio, Gustavo Beranger, comemora a chegada dos novos hotéis e a inauguração de voos:
— Os voos vão desenvolver principalmente o turismo de média distância. Gente que leva um dia viajando e que vai poder vir a Cabo Frio em poucas horas.
Carga ainda é 90%
De lá, partem voos para a Bacia de Campos
O Aeroporto Internacional de Cabo Frio, da década de 90, também está se consolidando como uma base logística para a indústria do petróleo. Em maio passado, a Petrobras começou a operar a partir dali voos de helicópteros para suas plataformas na Bacia de Campos (RJ). Desde meados de 2009, a OGX — empresa do empresário Eike Batista que atua no segmento de petróleo e gás — faz o mesmo.
Os voos de helicópteros se somam aos de transporte de cargas. Mais de 80 empresas importam equipamentos para abastecer suas bases em Campos e Macaé. Entre elas a francesa Schlumberger e a americana Halliburton. Em 2009, a movimentação de carga no aeroporto foi de 17,7 mil toneladas, alta de 86% em relação às 9,5 mil toneladas transportadas em 2008. A expectativa é que o volume se mantenha este ano. Em valores, a movimentação mais que dobrou, para US$ 651 milhões, gerando receita de R$ 40 milhões para o aeroporto. O terminal de carga responde por mais de 90% do faturamento.
Privatizado, o aeroporto é administrado pela empresa Costa do Sol desde 2001. No Brasil, apenas sete aeroportos estão a cargo de empresas privadas, entre os 130 que mantêm voos regulares, segundo a Infraero.