Pular para o conteúdo principal

O voo do predador

Aeromodelo em forma de falcão afugenta os pássaros que voam próximos às pistas de pouso de aeroportos e evita acidentes. Produto vem sendo testado com sucesso em outros países

Fernando Braga - Correio Braziliense

Com a robustez de 150 toneladas e voando a 300 metros de altura, é difícil imaginar como um avião comercial pode ser traiçoeiramente abatido por uma simples ave de pouco mais de 1kg. No entanto, ocorrências desse tipo têm aumentado nos últimos anos. De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), entre 2006 e 2008 foram registradas 1.321 colisões com pássaros no Brasil. Para aumentar a segurança em aeroportos, uma empresa ítaloespanhola criou um falcão em forma de robô — ou Falco-Robot Gregarious Bird Removal System.

Guiado por controle remoto, ele simula o voo de um predador natural dos ares e afugenta as aves que insistem em sobrevoar as cercanias das pistas de pouso e decolagem de aeronaves. A ideia, testada em aeroportos da Europa e dos Estados Unidos, chega para ajudar a acabar com um problema antigo dos pilotos e operadores de voo — com a vantagem de não causar prejuízo ecológico à fauna local. Na verdade, trata-se de um aeromotor que imita com exatidão a forma de voar de um falcãoperegrino (1)(Falco peregrinus), uma das mais agressivas aves do mundo.

Desenvolvido pela companhia Bird Raptor International, o robô predador simula os movimentos de mergulho e sobrevoo, temidos por aves como pombos, garças e, principalmente, urubus, responsáveis por grande parte dos acidentes com aeronaves no país.

Leve e forte

Feito a partir de uma estrutura de fibra de carbono e forrado com kevlar, uma fibra sintética muito leve (pesa menos de 1kg) e resistente utilizada na fabricação de carros de Fórmula 1, o falcão não tem peças metálicas e sua fuselagem lembra a penugem de uma ave de verdade. O projeto, desenvolvido durante 11 anos, chegou ao Brasil no fim de 2009 e está sendo avaliado por uma comissão da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), que estuda adquirir alguns exemplares para serem utilizados no Aeroporto do Galeão — um dos principais alvos de aves indesejadas.

“O dispositivo é percebido pelos pássaros como uma autêntica ameaça. Assim, elas veem que há um predador na região e não se atrevem a invadir a área de pouso e decolagem”, explica Renzo Fazioli, da White Flight, empresa representante da Bird Raptor Internacional no Brasil, lembrando que o dispositivo também pode ser usado em outras áreas como campos agrícolas, portos comerciais e esportivos, além de centrais de energia térmicas, eólicas ou solares.

Autonomia e eficácia

Guiado por controle remoto, o robô utiliza a frequência de 2.4GHz, diferente da usada na comunicação de aeroportos e que não compromete a troca de informações entre a torre de comando e os pilotos. Depois de obter a autorização dos operadores, o simulador de falcão aciona um minimotor que é auxiliado por duas pequenas hélices localizadas na cauda e no bico para alçar voo.

De acordo com a fabricante, a autonomia pode alcançar até 30 minutos. Para prolongar ao máximo esse tempo, o aeromodelo utiliza as correntes de ar quente para se manter voando, acionando a força do motor apenas para realizar movimentos específicos durante o voo – e para auxiliar no procedimento de pouso ou decolagem. “Depois de realizar um treinamento simples, um operador consegue guiar o falco robot de uma distância de até 3 quilômetros”, conta Fazioli.

A coordenadora dos meios bióticos e antrópicos da Infraero, Rosângela Finocketi, conta que, durante os 15 dias em que o simulador foi utilizado no Rio de Janeiro, o objetivo principal de afugentar outras aves que sobrevoavam o local do aeroporto foi alcançado. “É muito interessante. Nosso medo era que o falcão robô acabasse espantando as aves para cima da pista de pouso, mas ele conseguiu afugentar os pássaros, conduzindo-os para longe da área do aeroporto”, diz Rosângela.

Ela lembra, porém, que, além do aeromodelo, outras medidas estão sendo utilizadas para minimizar a presença dos indesejados visitantes. “Aeroportos como o de Pampulha (MG) fazem uso da falcoaria, que é a utilização de falcões verdadeiros”, conta. Além disso, outras mecanismos como a emissão de sinais sonoros, feixes de luz e até de fogos de artifício podem contribuir para solucionar a questão. “Apesar de o falcão robô ter se mostrado eficaz, é importante saber que não há uma solução isolada que acabe com o problema. Temos que adotar medidas que ajam em conjunto”, aponta a coordenadora da Infraero, que espera realizar novos testes para poder adquirir os equipamentos.

1 - Rápida e mortal

Presente em vários países, o falcão-peregrino é conhecido por ser um caçador solitário. Durante o voo, ele captura a presa com suas fortes garras e a mata com o afiado bico. É tido como uma das aves mais rápidas do mundo, com velocidade de mergulho que chega a atingir 320 km/h.

Lixões e lagoas atraem urubus

De acordo com o major Henrique Rubens Balta, gerente do programa de controle do perigo aviário no Brasil conduzido pelo Cenipa, a situação é comum em aeroportos de todo o mundo e tende a aumentar com os anos, pois os grandes centros têm se aproximado cada vez mais das áreas reservadas a aeroportos.  “Com isso, ambientes atraentes para os pássaros como lixões e lagoas chamam a atenção desses animais. Antes de combatermos o problema, temos que ver as causas”, lembra. Desde 1987 o Cenipa registra os casos relatados, seja pela aviação civil ou por militares, que envolvem colisões de aeronaves com pássaros.

No último ano, por exemplo, 955 acidentes foram registrados no país — número 69% superior ao anotado no ano anterior. “Nos últimos anos tivemos um aumento nesses indicadores, principalmente por dois fatores: os envolvidos estão se conscientizando da importância de relatar essas ocorrências para o Cenipa, além do volume de voos ter crescido significativamente”, diz.;

O major sabe, porém, que apenas 20% a 25% dos acidentes aéreos envolvendo choques com aves são relatados. “É algo grave e com frequência vemos alguns casos sendo noticiados(1). Para se ter uma ideia, se um avião estiver em procedimento de pouso a 300km/h, a colisão com um urubu de 1,5 kg pode ter um impacto equivalente a 7 toneladas”, explica o major.

1 - Acidente do rio Hudson

Em janeiro de 2009, o comandante do voo 1549 da US Airlines ganhou fama mundial e virou herói nos Estados Unidos depois de conseguir pousar com habilidade a aeronave que pilotava no rio Hudson, em Nova York. Menos de cinco minutos após decolar, o comandante foi surpreendido por uma ave que entrou na turbina do avião e o obrigou a fazer um pouso de emergência. Todos as 155 pessoas que estavam no voo sobreviveram.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Avião da TAM retorna após decolagem

Jornal do Commercio SÃO PAULO – Um avião da TAM, que partiu de Nova Iorque em direção a São Paulo na noite de anteontem, teve que retornar ao aeroporto de origem devido a uma falha. Segundo a TAM, o voo JJ 8081, com 196 passageiros a bordo, teve que voltar para Nova Iorque devido a uma indicação, no painel, de mau funcionamento de um dos flaps (comandos localizados nas asas) da aeronave. De acordo com a TAM, o avião passou por manutenção corretiva e o voo foi retomado à 1h28 de ontem, com pouso normal em Guarulhos (SP) às 10h38 (horário de Brasília). O voo era previsto para chegar às 6h45. A companhia também informou que seu sistema de check-in nos aeroportos ficou fora do ar na manhã de ontem, provocando atrasos em 40% dos voos. O problema foi corrigido.

Empresa dona de helicóptero que transportava Boechat não podia fazer táxi aéreo e já havia sido multada por atividade irregular, diz Anac

Agência diz que aeronave só podia prestar serviços de reportagem aérea e qualquer outra atividade não poderia ser realizada. Multa foi de R$ 8 mil. Anac abriu investigação. Por  G1 SP A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) afirmou que o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), em que o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci morreram, não podia fazer táxi aéreo, mas sim prestar serviços de reportagem aérea. Ainda segundo a Anac, a empresa foi multada, em 2011, por atividade irregular. Helicóptero prefixo PT-HPG que se acidentou na Anhanguera — Foto: Matheus Herrera/Arquivo pessoal "A empresa RQ Serviços Aéreos Ltda foi autuada, em 2011, por veicular propaganda oferecendo o serviço de voos panorâmicos em aeronave e por meio de empresa não certificada para a atividade. Essa atividade só pode ser executada por empresas e aeronaves certificadas na modalidade táxi aéreo. A autuação foi definida em R$ 8 mil

A saga das mulheres para comandar um avião comercial

Licenças concedidas a mulheres teêm crescido nos últimos anos, mas ainda a passos lentos. Dificuldades para ingressar neste mercado vão do alto custo da formação ao machismo estrutural Beatriz Jucá | El País Quando Jaqueline Ortolan Arraval, 50 anos, fez a primeira aula experimental de voo, foi mais por curiosidade do que por qualquer pretensão de virar piloto de avião. Era início dos anos 1990 e pouco se via mulheres comandando grandes aeronaves comerciais no Brasil. "Eu achava que não era uma profissão pra mim", conta. Ela trabalhava no setor processual em terra de uma grande companhia aérea, e o contato constante com colegas que estudavam aviação lhe provocaram certo fascínio. Perguntava tanto sobre a experiência de voo que um dia um amigo lhe convidou para acompanhá-lo em uma das aulas. A curiosidade do início se tornou um sonho profissional, e Jaqueline passou a frequentar aeroclubes e trabalhar incessantemente para conseguir pagar as caras aulas de aviação e acumul