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O que a JAL nos ensina

O Estado de SP
 
Das muitas lições que oferece o mais recente socorro financeiro oficial para manter em operação a Japan Air Lines (JAL) ? que durante décadas simbolizou a pujança da economia japonesa e agora sintetiza seus graves problemas ? há algumas que se aplicam ao Brasil.

Mesmo privatizada, a empresa foi obrigada a atender a interesses políticos do governo japonês, o que contribuiu para corroer suas finanças e levá-la à crise que exigiu seu pedido de concordata, formalizado há dias. No Brasil, o governo Lula já fez várias tentativas ? até agora felizmente fracassadas - de intervir na gestão da Vale, e intervém abertamente na administração da Petrobrás, que deveria ser pautada por critérios técnicos, sempre com o objetivo de forçar essas empresas a atender a seus interesses políticos. O que aconteceu com a JAL deveria servir de advertência.

Como outras companhias aéreas internacionais, a JAL foi afetada pela queda do número de passageiros depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, pelo pânico causado em 2003 pela disseminação na Ásia da gripe aviária, pela alta dos preços dos combustíveis em 2008 e, finalmente, pela crise financeira global.

Os problemas recentes, porém, apenas se somaram a outros, mais graves, de responsabilidade da própria empresa, ou seja, de suas sucessivas administrações ruinosas, que levaram a maior companhia aérea da Ásia a acumular dívidas de US$ 25 bilhões, que não tinha como pagar com recursos próprios.

Criada como empresa estatal, a JAL começou a operar sua primeira linha doméstica em 1951.
 
Dois anos depois, inaugurou a linha Tóquio-São Francisco (EUA), com escala no Havaí. Teve, desde então, um rápido crescimento, proporcional ao da economia japonesa, cuja expansão impressionava o resto do mundo. Na década de 1980, quando empresas japonesas faziam grandes investimentos em imóveis e outros ativos no exterior, a JAL ? privatizada em 1987 ? adquiriu hotéis, áreas de lazer e até campos de golfe. Quando estourou a bolha imobiliária, não teve como vender esses bens pelo valor que investira e perdeu dinheiro.

Equipamentos considerados obsoletos, custos operacionais muito altos, quadro de pessoal inchado e um sistema de aposentadoria insustentável tornaram seus problemas ainda mais graves.

Mas outra parte dos sérios problemas financeiros da JAL foi criada pelo governo japonês, que, mesmo depois da privatização, continuou a utilizar a empresa de acordo com critérios políticos, forçandoa a operar linhas antieconômicas, mas de interesse eleitoral de ministros e parlamentares situacionistas.

O governo do Partido Democrático Liberal, que ficou no poder por mais de cinco décadas, mantinha relações estreitas com grupos empresariais, sobretudo no setor de construção. Para favorecêlos, executou um programa de construção de aeroportos por todo o país, inclusive em regiões de baixa densidade demográfica, mas que elegiam parlamentares da situação. Por isso, o ministro dos Transportes do atual governo (do Partido Democrata), Seiji Maehara, reconheceu que "a responsabilidade do Estado (na crise da JAL) é enorme".

Nos últimos anos, a empresa havia recebido quatro socorros financeiros do governo japonês. O que foi anunciado há dias inclui uma ajuda oficial de US$ 11 bilhões, basicamente provenientes de um fundo criado pelo governo para socorrer empresas em fase de recuperação judicial. A coordenação do plano de socorro da JAL ficará a cargo do empresário Kazuo Inamori, fundador da companhia de aparelhos eletrônicos Kyocera. A JAL pedirá o perdão de dívidas de US$ 8 bilhões e receberá do Banco de Desenvolvimento do Japão US$ 6,6 bilhões para continuar operando. Em troca, terá de substituir 51 aeronaves por modelos menores e mais econômicos e demitir cerca de 15 mil dos atuais 51 mil funcionários.

Curiosamente, o governo, chefiado pelo primeiro-ministro Yukio Hatoyama, havia criticado o anterior por ter jogado tanto dinheiro na JAL sem forçá-la a reestruturar-se. Mas, como o anterior, parece ter considerado a empresa grande demais para quebrar.

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