A Embraer anunciou a fornecedores uma redução de 23% nos planos de produção para 2010

Virgínia Silveira
, para o Valor, de São José dos Campos

Na reunião da semana passada, quando anunciou a redução de produção para o próximo ano, a Embraer mostrou um vídeo onde resumiu suas previsões para os próximos três anos. Segundo um empresário presente ao encontro, a Embraer mostrou uma ponte suspensa representando as dificuldades que serão enfrentadas ao longo de 2010. Logo após essa ponte havia uma neblina, mostrando um cenário ainda incerto em 2011. Um jardim florido aparecia depois da neblina para representar o ano de 2012, quando a empresa estima uma recuperação do mercado aeronáutico.

A notícia de novos cortes na produção e de dois anos de dificuldades pela frente joga mais pressão sobre o setor aeroespacial brasileiro, que praticamente depende de apenas um cliente, e que passou 2009 tentando equilibra-se. No embalo da expansão da fabricante brasileira nos últimos anos, o setor investiu para atender seu principal cliente, que passou de 169 aviões entregues em 2007 para 204 no ano seguinte. Nos últimos dois anos foram investidos, somente em máquinas, R$ 60 milhões. Apesar da crise financeira mundial, a estimativa de entregas para 2009 começou o ano em 270 unidades. Houve depois revisão para 242 aviões, meta que dificilmente será atingida. Até o terceiro trimestre, a Embraer entregou 153 aeronaves.

O cenário para os fornecedores começou a ficar ruim em fevereiro, quando a Embraer anunciou a demissão de 4,2 mil funcionários e indicava que o ano seria difícil. Em julho, durante seminário realizado no BNDES, no Rio, a empresa divulgou algumas medidas de apoio aos seus fornecedores. Entre elas, a antecipação de compras e pagamentos e a possibilidade de recebimento de encomendas antes do prazo previsto. Outra medida seria postergar a redução de seus estoques como forma de manter o fluxo de compras. Mas as medidas parecem ter surtido pouco efeito prático sobre os cerca de 70 fabricantes que compõem o setor. No meio do ano, a estimativa era de que 2,5 mil funcionários, de um contingente de 5 mil, já tinham sido dispensados. Sem dinheiro para demitir, algumas empresas apenas suspenderam a produção e deixaram os trabalhadores em casa.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Herbert Claros, disse que ainda não existe nenhuma programação de redução da produção em 2010 dentro da Embraer. "Mesmo vendendo pouco, a carteira de pedidos da Embraer ainda é alta e a ajuda do BNDES, com o financiamento das aeronaves, deve amenizar os efeitos da crise em 2010." Um assunto que preocupa o sindicato, segundo Claros, são as demissões que a empresa vem fazendo ao longo do ano. "Além do corte de 4,2 mil empregados em fevereiro, a Embraer dispensou mais cerca de 700 funcionários em 2009, sendo que entre novembro e dezembro recebemos 100 pedidos de homologação no sindicato", comentou.

A Embraer terminou 2008 com uma carteira de pedidos de US$ 21 bilhões. Esse valor caiu para US$ 18,5 bilhões em 2009. No começo de novembro, o diretor-presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado, disse, ao jornal "Valeparaibano", de São José dos Campos, que as perdas do setor aéreo somarão US$ 11 bilhões este ano e que para 2010 já existe previsão de redução de US$ 4 bilhões.

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