O alto custo dos cursos de formação de pilotos e mecânicos de aviões somado à escassez de vagas de trabalho no setor depois da quebra da Vasp, da Transbrasil e da Varig contribuíram para diminuir o interesse por essas carreiras. Agora, com a retomada do crescimento da aviação civil, a ameaça de que falte mão-de-obra qualificada já preocupa especialistas e autoridades do setor aéreo.
No início do mês, a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) alertou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para o problema. Segundo o presidente da entidade, Rui Thomaz de Aquino, o país já convive com um déficit anual de 40% na formação de pilotos comerciais e mecânicos.
De acordo com Aquino, o Brasil precisa formar mil pilotos por ano, mas só consegue habilitar 600. "Vamos ter problemas a curto prazo para encontrar pilotos que atendam os aviões de grande porte", disse Aquino, apontando a falta de uma política governamental como principal razão para o baixo número de novas habilitações.
A Agência Nacional deAviação Civil (Anac) não confirma os números divulgados pela Abag, mas admite que a mão-de-obra para a aviação civil está escasseando. Segundo a agência, enquanto a demanda por transporte aéreo cresceu a taxas anuais que variaram entre 12% e 16% nos últimos quatro anos, a estimativa é de que a quantidade média de licenças concedidas para pilotos privados tenha crescido apenas 2% no mesmo período. Para pilotos comerciais, a média foi de 3% e para pilotos de linha aérea, 4%.
De acordo com Roberto de Carvalho Netto, gerente da Regional Sul da Anac, o fato é preocupante, já que aviação regional é a porta de entrada para quem está começando a carreira e almeja pilotar grandes aeronaves.
Até há bem pouco tempo, com o excesso de mão-de-obra, as empresas costumavam exigir mais experiência. "Se diminuirmos o ritmo na base da cadeia, as companhias começam a reduzir os requisitos para a contratação, especialmente em termos de horas de vôo. Daí começam a faltar pilotos nas fases iniciais da carreira, como táxis- aéreos e transporte aéreo regional. E isso a gente já tem observado", diz Netto.
O diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Paulo Ricardo Krepsky, concorda que a possibilidade de faltarem pilotos vai depender do ritmo de crescimento do setor. "Se continuarmos crescendo nesse ritmo, com certeza serão necessários mais pilotos. Hoje, eu diria que a situação está equilibrada devido ao encolhimento da aviação brasileira após a quebra da Vasp, da Transbrasil e da Varig", conclui.