Novo presidente vence seu primeiro desafio e, após um ano no comando, repõe empresa na rota do crescimento
AMAURI SEGALLA
O PRESIDENTE DA EMBRAER, Frederico Curado, viveu na semana passada seu melhor momento desde que assumiu o comando da empresa, há pouco mais de um ano. Na segunda-feira 7, uma notícia surpreendeu o mercado. Enquanto muitos analistas esperavam resultados apenas medianos, a Embraer anunciou a entrega de 97 aeronaves no primeiro semestre de 2008. Além de representar um recorde, a marca é muito superior às 61 unidades repassadas aos clientes nos primeiros seis meses de 2007. Um dia depois, as ações da empresa subiram mais de 10%. Como é de seu feitio, o discreto Curado não fez barulho. Manteve-se reservado, embora os números tivessem um significado maior naquele momento.
Para especialistas, uma crise séria aproximava-se. Os papéis da empresa haviam despencado 50% nos seis meses anteriores e o temor do cancelamento de pedidos rondava a sede em São José dos Campos.
À frente do processo, um presidente alçado recentemente ao topo e com o desafio de suceder Maurício Botelho, que havia transformado uma estatal enferrujada numa gigante global. Mas Curado, pelo menos por ora, virou o jogo.
Afinal, qual foi o milagre operado por esse engenheiro carioca que trabalha na Embraer desde os 24 anos? "Investimos na expansão de nossa capacidade industrial e na melhoria da produtividade", disse Curado à DINHEIRO.
Algumas iniciativas aparentemente simples revelaram-se acertadas. Curado contratou uma consultoria japonesa para redesenhar as linhas de produção, com o propósito de melhorar a eficiência operacional. Funcionários foram transferidos de área e alguns setores, replanejados. Com isso, a área destinada à produção de aeronaves aumentou consideravelmente - com mais espaço disponível, foi possível produzir um número maior de aeronaves em menos tempo.
O presidente da Embraer teve o mérito de apostar na diversificação, tanto de produtos quanto de mercados. "A aviação comercial continua sendo nosso maior foco, mas também buscamos crescer na aviação executiva", afirma. A aviação executiva responde por 15% do faturamento da empresa. O objetivo é aumentar a participação para 25% a partir de 2010.
Para compensar a retração da aviação nos Estados Unidos, a Embraer tem intensificado a prospecção de negócios em países como Rússia, México e China. "É uma tática bastante inteligente", diz o analista Eduardo Puzzielo, da Raymond James. "Você não sofre os impactos da crise americana e ingressa em mercados promissores." Na Rússia, a idade média da frota aérea é de 25 anos.
Curado leva vantagem no trabalho de busca de mercados. Quando era apenas diretor, foi incumbido de percorrer o mundo para convencer clientes de que os aviões da Embraer são os melhores em suas categorias. Por isso, ele tem muitas portas abertas no Exterior. "A indústria da aviação é caracterizada por ciclos e estratégias de longo prazo", diz o presidente. "Por isso, continuo com uma visão otimista em relação às perspectivas de crescimento." Alguns analistas concordam com ele. A corretora Ágora recomenda a compra das ações da Embraer e estima uma valorização de 157% até o fim do ano. As turbulências parecem ter mesmo ficado para trás.
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