Fato consta de um relatório sobre a precariedade no controle do espaço aéreo de MT divulgado pela Folha de S. Paulo. ‘Vácuos’ na comunicação permanecem
ANA PAULA BORTONOLI
Especial para o Diário
Por falta de comunicação, um avião da empresa Trip que decolou de Cuiabá para Rondonópolis quase colidiu com uma aeronave prefixo PT-KDS, um monomotor, no dia 28 de novembro do ano passado. A informação consta de um relatório elaborado por controladores de vôo que foi divulgado no domingo pelo jornal Folha de S. Paulo. Na ocasião, o controlador escreveu que o episódio foi “extremamente grave”, porque os aviões estavam na mesma altitude e separados por menos de duas milhas náuticas, o equivalente a 3.704 metros. Disse ainda que o sistema anticolisão do avião da Trip disparou, evitando o acidente. Conforme o controlador responsável, decolagens sem comunicação em aeródromos vizinhos a Cuiabá ocorrem com freqüência.
Partindo da Capital, a Trip decola em Mato Grosso para os municípios de Alta Floresta, Rondonópolis e Sinop. A reportagem tentou contato com a empresa, sem sucesso.
Piloto da empresa de táxi-aéreo Abelha, Sérgio Mateus Júnior disse que os vôos que apresentam mais dificuldades de comunicação são os que têm origem na região norte de Mato Grosso com destino a Cuiabá. Segundo ele, os pilotos acabam sendo obrigados a voar com altitude abaixo de 14 mil pés, o chamado vôo visual, porque não conseguem entrar em contato com o centro de controle amazônico e operar por instrumento.
“Na maioria das vezes, a gente não consegue (contato com o centro de controle amazônico). Às vezes, a gente ouve, chama, chama, mas não conseguimos falar”, explicou. A alternativa, conforme o piloto, é continuar na mesma altitude até um ponto em que o contato funcione. A situação acontece principalmente quando o roteiro inclui os municípios de Aripuanã, Cotriguaçu e Juína.
Esta área, assim como a região de Peixoto de Azevedo, onde aconteceu o choque entre o jato Legacy e um Boeing da Gol, em 29 de setembro de 2006, quando morreram 154 pessoas, ganhou o apelido de “buraco negro”, exatamente por causa da dificuldade de contato via rádio e de monitoramento por radar. “Na área de Sinop e Sorriso não é possível fazer contato com o ACC-BS (centro de controle de Brasília), nem com o ACC-Amazônico (Manaus)”, traz trecho do relatório publicado pela Folha.
Quase dois anos depois do acidente que foi o estopim da crise aérea brasileira, para o proprietário da empresa de táxi-aéreo Abelha, Hélio Vicente, a situação atual é a mesma de antes do choque no Nortão, já que os vôos visuais deixaram de ser controlados por radar, para diminuir a sobrecarga de trabalho dos controladores. A mudança afetou principalmente as aeronaves pequenas.
A reportagem nacional traz ainda a denúncia de más condições de trabalho na sala de controle aéreo de Cuiabá, que teria a presença de mosquitos e ratos sob os consoles de trabalho. No local, ninguém aceitou falar com o Diário, que tentou contato com a Força Aérea Brasileira em Brasília DF), mas até o fechamento da edição não obteve resposta.