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Juiz envia 106 perguntas a pilotos do Legacy

Interrogatório será feito nos Estados Unidos, com base em indagações da Justiça brasileira


Laura Diniz

A Justiça brasileira concluiu ontem a elaboração de 106 perguntas para serem enviadas aos Estados Unidos, onde moram e serão ouvidos os pilotos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino - são 53 indagações para cada um. Eles estavam no comando do jato Legacy que, por estar fora do plano de vôo e com o transponder (aparelho de segurança que identifica o avião no radar e integra o sistema de alerta anticolisão) inoperante bateu no Boeing 737-800 da Gol, em 29 de setembro de 2006, causando a queda do avião e a morte de 154 pessoas.

As perguntas, formuladas pelo juiz federal Murilo Mendes, de Sinop (MT), serão traduzidas para o inglês e enviadas para o Judiciário americano, que interrogará os pilotos. Mendes queria falar com Lepore e Paladino no Brasil, mas a defesa dos americanos conseguiu que eles fossem ouvidos por carta rogatória. A resposta dos pilotos será anexada ao processo em que são acusados de “atentado contra a segurança de transporte aéreo”, com agravante pelas 154 mortes, conforme denúncia do Ministério Público Federal (MPF).

Parecem ser três os objetivos do juiz: verificar se os pilotos estavam aptos para voar num Legacy, se conheciam bem as regras para voar no Brasil e se tomaram os devidos cuidados para evitar acidentes ou se foram negligentes.

Para medir a familiaridade dos americanos com o jato, Mendes indaga se eles já haviam pilotado um Legacy, se fizeram testes para voar no avião envolvido no acidente, se leram o manual da aeronave antes do vôo ou se o consultaram durante a viagem ou se tinham dúvidas para pilotá-lo. “Há uma passagem da conversa em que alguém (piloto ou co-piloto) diz: ‘estou com medo de brincar com essa coisa no ar porque estou com medo de que se eu fizer alguma coisa ela vai jogar tudo fora do curso’.

Recorda-se? Não? Sim? O que isso quer dizer exatamente?”, aperta o juiz.

Mendes também é bastante detalhista quanto ao plano de vôo, que não foi seguido. Pergunta quem o elaborou, se ambos leram e estavam cientes do percurso, se tiveram dificuldade em entender as orientações brasileiras, entre outros pontos. “Porque razão não foram observados os níveis indicados no plano de vôo (refiro-me ao níveis constantes do plano apresentado)? Mais precisamente: porque razão a aeronave voou sempre no nível 370?”

Da série de perguntas sobre uma possível negligência, a principal é: “Quem pronunciou a frase ‘odeio ter a Força Aérea Brasileira no nosso rabo’?” E emenda: “Essa frase indicava apenas uma manifestação de desapreço pela Força Aérea Brasileira ou indicava vontade de livrar-se do monitoramento regular?” Em seguida, o juiz questiona se há relação direta entre a frase e o fato de a aeronave ficar quase uma hora sem fazer contato com os controladores de vôo. Mendes também menciona as tentativas malsucedidas dos controladores de entrarem em contato com os pilotos, o fato de eles terem feito contato apenas após a colisão e os questiona, em detalhes, sobre as razões isso.

O juiz também abordou o fato de o transponder não estar funcionando corretamente. Ele questiona se os pilotos desligaram o aparelho ou se perceberam que ele não estava operando. “O senhor admite que o transponder possa ter sido desligado por inadvertência, descuido, negligência?”, questiona. “O senhor operou o equipamento, durante o vôo, com o único propósito de testá-lo?”

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