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Correios avaliam realizar auditoria na VarigLog


Daniel Rittner e Roberta Campassi

O conselho de administração da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) se reúne hoje para avaliar a possibilidade de abrir negociações para a compra da VarigLog. A diretoria executiva da estatal poderá ganhar uma autorização do conselho para fazer "due dilligence" na ex-subsidiária da Varig - análise detalhada de informações e contratos da companhia para mensurar riscos efetivos e potenciais do negócio.

Por enquanto, segundo o presidente dos Correios, Carlos Henrique Custódio, não há uma idéia precisa do valor de um eventual investimento nem a respeito de quanto pode ser a participação acionária da estatal. O que a ECT quer, conforme esclareceu Custódio, é dar mais agilidade à entrega de encomendas postais e impulsionar a Rede Postal Noturna, serviço que funciona durante a madrugada.

Os Correios gastam R$ 450 milhões por ano com o transporte aéreo de cargas, hoje feito por empresas como Beta e Skymaster. Além de driblar as amarras atuais das licitações, pois os contratos devem ser renovados anualmente, o executivo acha que uma empresa aérea própria torna possível reduzir despesas e aproveitar oportunidades surgidas com o aumento do comércio eletrônico.

O presidente da VarigLog, João Luís Bernes de Sousa, prometeu a Custódio entregar nas próximas semanas o resultado de uma auditoria para mostrar a situação financeira da empresa. "A gente não sabe em que estado ela está", disse o executivo da ECT. No ano passado, ele procurou a TAM, a Gol e a própria VarigLog para propor uma parceria, mas não houve interesse por parte de nenhuma delas. "Ninguém deu bola, mas agora eles (VarigLog) querem arrumar uma saída (para a crise financeira)", comentou.

A aproximação foi feita em janeiro por Bernes, que procurou saber dos Correios se ainda havia interesse em uma parceria. É um momento favorável à prosperidade das negociações, até por causa da dificuldade de Custódio em implementar sua idéia inicial: a de criar uma nova estatal, subsidiária da ECT, que faria uma encomenda de até 19 aviões da Embraer - um volume suficiente para ajudar a alavancar o projeto do novo cargueiro C-390, derivado do jato de passageiros E-190.

Custódio admite que, na quebra da BRA, chegou a pensar na hipótese de propor uma parceria para o uso das aeronaves da empresa aérea no transporte de cargas. Mas o executivo afirmou que isso esbarrou na delicada situação financeira da BRA e em problemas logísticos. Segundo ele, reformar os aviões da companhia, transformando sua configuração para cargueiros, seria muito caro e levaria até um ano.

Para o presidente dos Correios, é essencial verificar se a estatal não corre risco de herdar
dívidas da VarigLog que contaminem seu balanço. De qualquer forma, Custódio disse que um processo de compra requer a alterações no estatuto da ECT e, possivelmente, de mudanças na Lei Postal.

A idéia de que os Correios tenham uma empresa aérea própria gera termos nas companhias que hoje prestam serviço à estatal. Algumas delas, como Skymaster, Total e TAF, foram procuradas pelo Valor, mas não quiseram se pronunciar.

Custódio tem pelo menos um grande trunfo nas eventuais negociações com a VarigLog. Chega à mesa de discussões com a estatal em plena saúde financeira, após os escândalos em que ela esteve envolvida em 2005 e 2006, durante a CPI dos Correios. A ECT fechou o ano passado com os melhores números de sua história. Pela primeira vez em seis anos, houve lucro com o negócio postal (atividadefim): R$ 331 milhões. Se incluídas as receitas financeiras, o ganho da empresa foi recorde: R$ 829 milhões. O retorno sobre o patrimônio líquido foi de 36,3% e a receita de vendas aumentou 9,8% - pouco mais de 5% em termos reais.

Todos os indícios, no entanto, são de que os Correios encontrarão uma situação "complicada" na VarigLog - o adjetivo é usado pelo próprio presidente da companhia aérea, João Luís de Sousa. Em entrevista ao Valor, ontem, Sousa disse que a e a capacidade de transporte e a receita da VarigLog caíram à metade no ano passado, como uma das conseqüências do grave conflito judicial que envolve os sócios da companhia - o fundo americano MatlinPatterson e os brasileiros, Marco Antonio Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo.

Em 2006, a receita da VarigLog alcançou R$ 950 milhões, valor que a colocava na posição de terceira maior empresa aérea do país. Mas, em 2007, o faturamento caiu para R$ 500 milhões, segundo Sousa. Ele não confirma nem nega que a empresa tenha registrado prejuízos no ano passado. Já em 2006, as perdas da cargueira somaram R$ 60 milhões e o patrimônio líquido (diferença entre os ativos e os passivos) estava negativo em R$ 67 milhões.

O conflito societário que dificulta a sobrevivência da VarigLog começou em meados do ano passado. O Matlin Patterson, detentor de 20% das ações ordinárias, entrou com processos judiciais cobrando um total de US$ 190 milhões da própria VarigLog e, indiretamente, dos sócios brasileiros que detêm 80% das ordinárias. O montante teria sido emprestado pelo Matlin para financiar as operações e, segundo o fundo, deveria ter sido devolvido pela VarigLog depois que ela vendeu o controle da Varig para a gol, em abril de 2007. O fundo também tenta, numa outra ação, desfazer a sociedade sem perder os cerca de US$ 400 milhões que afirma ter investido na VarigLog.

"Eu acredito que os sócios vão sentar e se conciliar no curso deste mês. A solução está
próxima", disse Sousa. O desfecho provável, segundo ele, é a saída de uma das partes da sociedade, o que permitiria a entrada de um novo sócio disposto a investir. "Há outros interessados, além dos Correios."

Sousa afirma que as primeiras conversas para uma parceria com a estatal começaram "há mais de um ano". Na época, a empresa aérea elaborou estudo em que os Correios poderiam se transformar em sócios minoritários. Boa parte da frota da empresa seria então usada para fazer o transporte noturno da carga postal. "Nosso plano inicial era ter 22 aeronaves em 2007 e chegar a 40 até 2010", disse. "Mas agora temos apenas oito aeronaves, quatro de grande porte." Entre dezembro e janeiro, a Justiça determinou a devolução de mais de seis aviões Boeings 757-200 à empresa de arrendamento Wells Fargo, por falta de pagamento.

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