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Criador da JetBlue de olho no Brasil

Nascido no Brasil, David Neeleman chegou a conversar com a BRA para montar uma companhia aérea no País

Mariana Barbosa

O empresário David Neeleman, fundador da companhia aérea americana JetBlue, está de olho no mercado brasileiro. A informação, que corre à boca pequena, está provocando alvoroço no setor – não faltam pretendentes querendo agendar encontros com Neeleman. Ainda que nenhuma consulta formal da parte de Neeleman tenha chegado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), sua eventual entrada no mercado é vista com bons olhos pelo governo federal.

Do ponto de vista brasileiro, não poderia haver investidor melhor. Neeleman tem tempo – deixou a presidência-executiva da JetBlue em maio de 2007 -, dinheiro - de lá para cá vendeu 23% de uma participação de 6% que tinha na empresa, embolsando quase US$ 30 milhões - e cidadania brasileira.

Pode, portanto, dispensar laranjas e ser dono de 100% de uma empresa aérea no País. Hoje, a participação estrangeira é limitada a 20% do capital total. Além disso, Neeleman é fã da Embraer. Encomendou para a JetBlue 101 jatos modelo 190, dos quais 30 já estão em operação.

No final do ano passado, Neeleman teve conversas com a BRA, que está em recuperação judicial e acumula dívidas de US$ 100 milhões. As conversas não prosperaram, mas a BRA ainda alimenta a esperança de retomar negociações. “Houve um namoro”, diz uma fonte ligada à BRA. “Quem sabe não voltamos a conversar.”

Há duas semanas, a Vasp, que também está em recuperação judicial, foi procurada por um empresário brasileiro disposto a agendar um encontro entre as duas partes. “Essa pessoa já nos conhecia e disse ter ligações com Neeleman”, afirma o diretor-interventor da Vasp, Roberto de Castro.

Um outro intermediário, um executivo da empresa de leasing de aviões Jetscape, que tem negócios com a JetBlue, fez uma aproximação de Neeleman com a regional cearense TAF. “Fizemos contato com Neeleman, que disse que quando viesse ao Brasil nos procuraria”, afirma o diretor da TAF, Ariston Filho. A TAF tem planos ambiciosos de crescimento. Contratou a KPMG para montar um plano de negócios e está em busca de investidores para viabilizá-lo.

A vantagem de uma associação com uma empresa já existente é ganhar tempo. O Cheta, certificado de companhia aérea, pode demorar até um ano para sair. “Com boa vontade por parte do governo, esse prazo pode ser encurtado”, diz um analista do setor. “Como não precisa de sócios brasileiros, ele pode entrar sozinho. Quem conseguiu se destacar em um mercado onde a competição é ainda mais acirrada não terá problemas por aqui.”

Por meio de sua assessoria, a presidente da Anac, Solange Vieira, afirmou que novos investidores são bem-vindos e que Neeleman “seria uma excelente terceira força” para enfrentar o duopólio TAM/Gol. Para um alto executivo de uma das maiores empresas do País, o interesse de Neeleman “é concreto” e “muito bem-vindo”. “A presença de Neeleman ajudaria a elevar o nível da concorrência.”

Procurado pela reportagem, Neeleman não quis dar entrevista. Ele se recusou até mesmo a confirmar ou negar, por meio da assessoria, o interesse em investir no Brasil.

Neeleman nasceu em São Paulo em 1959. Seu pai, jornalista, era correspondente da agência de notícias UPI. Voltou ao País aos 19 anos, dessa vez para Recife, como missionário mórmon. Daí seu sotaque pernambucano. Adora o Brasil e costuma destacar a experiência e o contato com favelas como fonte de inspiração nos negócios. Pai de 9 filhos, é um religioso praticante e muito dedicado à família.

Não joga golfe nem vê televisão. É um dependente assumido de Blackberry e passa noites a fio vasculhando notícias sobre aviação na internet.

A demissão de Neeleman do cargo de presidente-executivo - ele ainda preside o Conselho de Administração - aconteceu três meses depois do colapso das operações da JetBlue, durante uma nevasca em fevereiro, quando passageiros ficaram mais de cinco horas dentro de aviões sem comida nem informações. O perdão público do executivo, filmado e veiculado no YouTube, e a introdução de diversas medidas para ressarcir passageiros em caso de atrasos e cancelamentos, não foram suficientes para mantê-lo no cargo. Mas o incidente não afastou os passageiros e a empresa continua sendo vista com otimismo por Wall Street. Com faturamento de cerca de US$ 3 bilhões em 2007, a JetBlue se associou recentemente à Lufthansa, que adquiriu 19% de seu capital.

Um presidente que servia lanchinho em vôo

Um dos mais badalados expoentes da nova geração de empreendedores americanos, Neeleman fundou a JetBlue em 1999. Com um modelo de negócios muito eficiente e com tarifas competitivas, mas que difere das demais empresas de baixos custos por oferecer serviços de qualidade – aviões confortáveis, com poltrona de couro e tv a bordo - a JetBlue é uma das empresas mais queridas do competitivo mercado americano - ainda que companhia aérea querida atualmente seja quase um contrasenso. A simpatia da JetBlue vem justamente de Neeleman, cuja trajetória já foi transformada em bestseller, no livro “Voando Alto: Como o fundador da JetBlue e Presidente vence a concorrência na indústria mais turbulenta do mundo”. Pelo menos uma vez por semana ele encarnava o comissário, servindo lanches e conversando com passageiros. Ele não esconde sua frustração por ter sido afastado do principal cargo executivo de sua própria empresa.

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