Roberta Campassi e José Sérgio Osse
A TAM, maior companhia aérea do país, considera que no mercado brasileiro há "algumas empresas aventureiras" e "sem lastro" para determinados tipos de operação. "A crise da BRA está intimamente ligada a uma aventura", disse o vice-presidente da TAM, Paulo Castello Branco, durante apresentação para investidores e analistas, ontem.
Já o presidente da TAM, Marco Antonio Bologna, afirmou que "faltaram alguns itens essenciais para a BRA ter escala e rentabilidade" depois que a empresa deixou de ter vôos charters para ter operações regulares. O executivo citou três itens: uma frota adequado e um respectivo plano de crescimento, caixa robusto e estrutura de custos competitivos.
Bologna disse que, à medida que a regulação do setor aéreo fica mais madura, a tendência é as autoridades reguladoras realizarem avaliações financeiras mais profunda nas companhias para evitar problemas. Atualmente, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) leva em conta patrimônio líquido e existência de dívida tributária. "Agora, é importante começar a olhar índice de liqüidez", afirmou.
Castello Branco também disse acreditar que o governo não tomará medidas para proteger empresas de menor porte, como a OceanAir, que tem 2,9% do mercado doméstico. "Estamos num país democrático, com regras. Não dá para introduzir um controle da participação por decreto."
A OceanAir vem criticando o domínio de Gol e TAM no mercado, que juntas têm pouco mais de 90% de participação doméstica. Ontem, a empresa anunciou que está negociando com as empresas de arrendamento donas dos aviões da BRA para incorporar esses equipamentos à sua frota. Com isso, a companhia poderá manter os vôos operados pela concorrente no mercado doméstico. Até lá, a OceanAir fechou um acordo para disponibilizar assentos não vendidos em seus vôos para passageiros com bilhetes da BRA, mesmo em trechos de ida - e não apenas volta, como manda a legislação.
Segundo o presidente da OceanAir, German Efromovich, o acordo firmado com a BRA garante os vôos dos passageiros que adquiriram pacotes turísticos com bilhetes da empresa que suspendeu as atividades na semana passada. Essa garantia, contudo, não é tão firme para os passageiros regulares, que possuem apenas os bilhetes aéreos. Esses terão de aguardar a sobra de lugares nos vôos da OceanAir para poder embarcar.
Segundo Efromovich, os custos dos vôos fretados serão de responsabilidade da BRA e apenas a operação será feita por sua empresa. O mesmo vale para os passageiros regulares que forem embarcados pela OceanAir. "Isso tudo tem um custo, e esse custo é da BRA", disse, apesar de afirmar que ainda não tem cálculos sobre de quanto seria essa despesa. "E se a BRA não pagar, a OceanAir vai ter de engolir o sapo" , completou o empresário, embora deixasse claro que entraria na Justiça nesse caso.
Para Efromovich, um dos motivos que podem ter levado o governo a pedir o auxílio da OceanAir no caso da BRA é a semelhança entre as malhas de vôo e a proximidade das duas companhias, que até poucos meses atrás operavam acordo de code-share.
Com os aviões da BRA - são entre seis e sete Boeings 737 e um 767 em esquema de leasing, além de dois 767 próprios - , a OceanAir aumentaria sua frota, atualmente composta de 26 MK 28 (Fokker 100) e um Boeing 767. De acordo com o empresário, uma vez terminada a negociação com as empresas de leasing, a OceanAir poderia retomar imediatamente os vôos que eram da BRA, pois tem licença para voar nacionalmente dada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Não haveria, segundo ele, dificuldade com a disponibilidade de slots (espaços nos aeroportos), já que a BRA não operava em Congonhas, o único aeroporto com restrições no Brasil. Nos casos das três rotas internacionais da BRA, seria necessário, porém, nova licitação. A OceanAir teria interesse nessas rotas e com a incorporação dos aviões e a chegada de outros para os quais já tem pedido, estaria preparada para operá-los.
A eventual operação dos aviões da BRA pela OceanAir, caso a aérea seja bem-sucedida nas negociações com as empresas de arrendamento, pode levar algum tempo. Segundo Efromovich, nenhuma aeronave será operada sem total condições de uso. O executivo explicou que, mesmo que receba os aviões, será necessário realizar algumas modificações, além de manutenções preventivas para garantir a segurança operacional. Há casos em que é necessário acordos adicionais, com companhias de motores, que foram retirados das aeronaves pelas donas.
A OceanAir afirmou ontem que dará preferência aos funcionários da BRA nas contratações que fará para adequar suas operações, caso consiga com as empresas de arrendamento o repasse dos aviões da concorrente para sua frota. "Nesse caso, poderemos dar preferência aos funcionários da BRA", disse. Quando anunciou a suspensão de todos os seus vôos, a BRA colocou seus 1,1 mil funcionários em aviso prévio. Pelas contas da OceanAir, se incorporadas as aeronaves da concorrente, seriam abertas entre 400 e 500 novas vagas na companhia.